Após seis pregões seguidos de queda, em que acumulou desvalorização de 5,08%, o dólar apresentou nesta quarta-feira, 14, alta moderada no mercado doméstico, mantendo-se abaixo da linha de R$ 5,50. Segundo operadores, o dia foi marcado por ajustes e realização de lucros, além de recomposição parcial de posições defensivas em meio ao aumento dos ruídos políticos internos.

Pela manhã, a moeda até ensaiou nova queda, após leitura de inflação ao consumidor nos EUA em julho dentro das expectativas chancelar a aposta de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) em setembro, com chances praticamente divididas entre 25 pontos e 50 pontos-base.

Com mínima a R$ 5,4292 e máxima a R$ 5,4872, à tarde, o dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 14, em alta de 0,36%, cotado a R$ 5,4693. Apesar do avanço de hoje, a divisa apresenta baixa de 0,83% na semana e desvalorização de 3,29% em agosto.

Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, o tropeção do real sugere que investidores estão refazendo parte das posições “compradas” em dólar que foram desfeitas nos últimos dias, para não deixar que a taxa de câmbio fique muito abaixo de R$ 5,50, que ele vê como um ponto de equilíbrio no curto prazo.

“Temos também aumento de ruídos, o que leva a posições mais defensivas. A questão envolvendo o Supremo e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deixou o ambiente doméstico mais confuso. Isso pode dificultar o andamento de pautas importantes no Congresso, ainda mais com a proximidade das eleições municipais”, afirma Galhardo. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes encomendou, de forma não oficial, a produção de relatórios pelo TSE.

No radar do Congresso, deputados e senadores avaliam realizar sessão conjunta nesta semana para aprovar mudanças nas chamadas “emendas PIX”, após o ministro Flávio Dino, do STF, exigir mais transparência no repasse de recursos, apurou o Broadcast Político.

Outro ponto relevante é o projeto de renegociação da dívida dos Estados com a União, que deve ser votado no Senado ainda hoje. Apuração do Broadcast mostra que as alterações promovidas pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP) foram avaliadas positivamente pela equipe econômica, uma vez que não trariam impacto no resultado primário. Também estão na pauta dos senadores as medidas para compensação das perdas com desoneração da folha de pagamentos.

Para o diretor de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, após a queda nas últimas seis sessões, era de se esperar que houvesse uma alta pontual do dólar, ainda mais porque os riscos fiscais ainda não foram dissipados. Ele cita fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em evento hoje, admitindo divisão no governo entre uma ala que defende a responsabilidade fiscal e outra que prega a ampliação de gastos. “Além da questão fiscal, temos também queda das commodities com as preocupações sobre a economia chinesa”, afirma.

À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial em agosto, até o dia 9, foi negativo em US$ 302 milhões, resultado de saída líquida de US$ 1,374 bilhão pelo canal financeiro e entrada líquida de US$ 1,072 bilhão via comércio exterior. Em julho, o fluxo total foi positivo em US$ 1,743 bilhão.

Lá fora, termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisa fortes, o índice DXY, que havia tocado mínima aos 102,270 pontos pela manhã sob impacto da inflação ao consumidor nos EUA, zerou a queda ao longo da tarde e passou a trabalhar em ligeira alta, acima 102,600 pontos.

O dólar teve comportamento díspar na comparação com moedas emergentes e exportadores de commodities, em dia de baixa do petróleo e do minério de ferro. Entre pares do real, caiu em relação ao peso mexicano e ao rand sul-africano, mas subiu ante o peso chileno, abalado pelo recuo do cobre e por disputa trabalhista que ameaça paralisar a maior mina de cobre no mundo, localizada no país.