Seca no sul do Brasil e na Argentina: Como produtores de MS podem ser impactados pelo fenômeno?
Saiba se produtos podem ficar mais caros e se efeito climático pode chegar ao Estado
Fábio Oruê –
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Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul aparecem como a pior área do mundo sob risco de seca, conforme mostram os índices de estado de vegetação, de janeiro, do Mapa da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), que monitora todo o planeta.
O país mais castigado pela seca é a Argentina e a situação dramática pela severa e excepcional seca prolongada no país arrasa com a agricultura e pecuária. Toda essa região, assim como Mato Grosso do Sul, são grandes produtoras e exportadoras de grãos.
Conforme o agrônomo Fernando Klein, o efeito não tem tanta influência na demanda que o Estado tem, mas pode ter impactos nos preços dos grãos. “Em tese, havendo menos produtos no mercado, aquilo que não está disponível recebe um pouco mais, então, quem tem produção agora aqui acaba conseguindo um preço um pouco melhor”, explica ele ao Jornal Midiamax.
“O que acontece é que por haver menos produtos, você aumenta o valor daquilo que está disponibilizado, mas a demanda tem um crescimento natural. A cada ano você tem tido acréscimos na área de produção de grãos, particularmente no Centro-Oeste”, revela.
“Cada ano você tem aumento de conversão de área de pasto para área de agricultura, isso não necessariamente ligado a problemas climáticos na região sul”, ressalta o agrônomo à reportagem.
Produtos podem ficar mais caros?
Apesar do cenário visto nas regiões atingidas pela seca, os preços dos produtos não tiveram alterações, conforme o economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Staney Melo. Apesar disso, o economista diz que a associação acompanha “com muita tristeza a situação da seca na região Sul do país”.
“Ainda não conseguimos observar variações significativas de preço, mas o Brasil colocará no mercado algo como 27 milhões de toneladas de soja a mais do que na última safra, e o mercado pode precificar para baixo os preços como ocorre sazonalmente no período pós-colheita”, diz ao Jornal Midiamax.
Staney explica que indicadores apontam que a produção brasileira conseguirá compensar as perdas internas e atenderá à demanda externa, apesar dos problemas climáticos na região Sul. “[…] cooptando parte do mercado argentino no processo. Queremos dizer com isto que o cenário é favorável para o Brasil”, salienta.
De acordo com Fernando Klein, Mato Grosso do Sul e os demais estados no Centro-Oeste podem se beneficiar dos efeitos da seca, que vem acontecendo há alguns anos. “Os outros mercados, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás, que são grandes produtores de soja, têm aproveitado esse vazio que os produtores do Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina não têm conseguido suprir”, aponta à reportagem.
Outras questões
Conforme Klein, os grãos são commodities com cotação internacional e, por isso, outros fatores podem influenciar ainda mais que a seca no hemisfério sul. “Muito mais relevante que esse efeito climático é a guerra ainda em curso na Ucrânia. Esse sim é um fator importante e que gera uma procura muito maior por aquele países que ainda produzem grãos”, começa.
A Ucrânia, segundo o profissional, é produtora de trigo – produto pouco produzido no Brasil. Como as tensões entre o país e a Rússia afetam a produção, clientes como a China procuram por outros mercados.
Efeito climático pode chegar a MS?
Nos últimos meses, os números climáticos referentes às secas preocupam as autoridades, mas conforme Fernando, o fenômeno é cíclico. “Todo ano sempre acontece algum evento climático, algum evento que prejudique a produção de grãos em algum lugar do mundo de maneira significativa. Por vezes, na América do Sul, por vezes na Ásia ou nos Estados Unidos e Canadá. Há uma oscilação normal”, explica.
Segundo o agrônomo, os efeitos climáticos que atingem o Sul são diferentes dos que atingem MS. “As influências daqui são diferentes daquelas que acontecem no Rio Grande do Sul. A gente aqui está muito mais afetado pelos Rios Voadores”, diz.
Aquela região está mais afetada pelos fenômenos ou correntes que vêm do Polo Sul. Os ‘Rios Voadores’ são formados na região Amazônica, ‘viajam’ com o vento e caem no Centro-Oeste.
“Nós aqui já enfrentamos períodos de seca bastante severos. Nosso regime de seca dura em torno de 90, 100 dias, mas já houve períodos que tivemos 120, 150, 180 dias sem chuva. A questão climática é bastante complexa”, conta Klein.
“Os eventos extremos estão cada vez mais comuns. Então picos de chuva muito fortes, períodos de intenso calor ou de intenso frio. Isso cada vez está ficando mais comum”, finaliza ele.
Perdas
Estimativas da Emater/RS estão apontando para prejuízos próximos de R$ 450 milhões, em diversos setores da agricultura do Rio Grande do Sul, em especial no milho e na soja. Na última semana, mais da metade dos municípios do estado decretaram situação de emergência por conta da seca.
Essa já é a segunda safra que resulta em prejuízos na região Sul. Vale lembrar que na última safra houve perda de mais de 50% da produção de soja da região. “Desde novembro, a estiagem vem atingindo a região, justamente quando as plantas se encontravam em estágio reprodutivo”, explica Staney.
Diante deste cenário, alguns institutos estão revisando para baixo as projeções para a região Sul do país. No RS, a produtividade estimada deverá cair de 51,5 sc/ha (sacas por hectare) para 38 sc/ha.
“Se confirmado será um desastre para a região, isto porque ela respondeu por mais de 18% da produção de soja do país na última safra, sendo o Rio Grande do Sul responsável sozinho por mais de 7% do total”, lembra o economista.
Com relação à Argentina, no último relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) houve uma queda muito expressiva nas estimativas para a soja do país.
O órgão apontou para uma queda de 9,9% na produção de soja e 9,6% na produção de milho da Argentina, ao passo que as projeções para o Brasil continuam estáveis em 153 milhões de toneladas de soja e 125 milhões de toneladas de milho. “Isso, de certa forma, expressa uma vantagem comparativa para os produtores brasileiros”, avalia.
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