Produtores de MS terão três meses para ‘se livrar’ de agrotóxico cancerígeno proibido pela Anvisa

Vazio sanitário terá duração até 15 de setembro, mas quando o Estado voltar a plantar soja, o defensivo agrícola não poderá ser mais utilizado

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Vazio sanitário
Vazio sanitário não permite pulverização nem via aérea. Foto: Cenipa/Divulgação

O vazio sanitário da soja — período de três meses em que o Estado de Mato Grosso do Sul não poderá plantar a oleaginosa — servirá de adaptação para a substituição do agrotóxico carbendazim, que teve seu uso proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), na última terça-feira (20). A Anvisa, inclusive, determinou a suspensão cautelar do agrotóxico para as culturas de arroz e feijão, mas, neste caso, o Estado não é afetado, pois não há grandes produções dos grãos que compõem o prato típico do brasileiro.

Em Mato Grosso do Sul, a SFA (Superintendência Federal de Agricultura), que é o braço do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) no Estado, informou que vai cumprir seu papel, que é fiscalização do setor produtivo, ou seja, não vai permitir que haja importação do agrotóxico amplamente utilizado para a doença antracnose na soja. A SFA também não vai permitir que haja a produção deste agrotóxico a partir de agora. O carbendazim está entre os 20 agrotóxicos — também chamados de defensivos agrícolas — mais utilizados no Brasil. Em nota, a Anvisa demonstrou preocupação pelo fato de o produto não sofrer uma revisão há mais de três anos.

O carbendazim é um agrotóxico do tipo fungicida, ou seja, é usado para combater pragas que atacam a soja em forma de fungos. O presidente da Aprosoja/MS (Associação do Produtores de Soja e Milho em Mato Grosso do Sul), André Dobashi, afirmou que o vazio sanitário é importante para o setor, uma vez que esses 90 dias — de 15 de junho a 15 de setembro — são essenciais para evitar a contaminação e proteger as lavouras da ferrugem asiática, doença que tem um alto índice de danos.

André Dobashi não quis entrar em detalhes sobre o que será feito pelo setor para substituir o uso do agrotóxico carbendazim. No entanto, ele reforçou que o período do vazio sanitário é, na realidade, a principal medida fitossanitária na prevenção da ferrugem asiática da soja e ela tem como objetivo reduzir a sobrevivência do fungo causador da doença no período da entressafra.

A assessoria do Sistema Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) afirmou que ainda não há um posicionamento técnico específico sobre o fungicida.

A fiscalização sobre o uso do carbendazim — agora proibido pela Anvisa — pertence ao Estado, via Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), por meio da Iagro (Agência Sanitária de Defesa Animal e Vegetal em Mato Grosso do Sul). No setor de agrotóxicos da Iagro, a notícia deixou a todos com o sentimento de surpresa pela decisão da Anvisa. A Iagro está estudando uma medida — ou um uso de outro agrotóxico — para substituir o carbendazim.

A Anvisa informou, por meio de nota, que a suspensão do carbendazim deve durar até a conclusão do processo de reavaliação toxicológica do produto. A última avaliação aconteceu em 2019 e o estudo apontou sérios problemas relacionados ao manuseio e ingestão do produto, que é altamente cancerígeno e afeta a capacidade reprodutiva humana.

No Brasil, o registro de agrotóxicos não tem prazo de validade e a última avaliação completa deste fungicida detalhada aconteceu há duas décadas. No início deste ano, um relatório elaborado por técnicos da Anvisa foi apresentado durante reunião da diretoria e propôs o banimento do carbendazim.

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