Após cinco pregões consecutivos de alta, em que acumulou valorização superior a 4% e chegou a romper o teto de R$ 5,40 no fechamento, o dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 7, em queda de 1,42%, cotado a R$ 5,3451, tendo descido até R$ 5,3310 na mínima da sessão, pela manhã. Apesar do tombo hoje, o dólar ainda apresenta alta na semana (0,45%) e sobe mais de 2% no mês

O desafogo no mercado doméstico foi atribuído ao apetite por ativos de risco no exterior, com alta das bolsas em e recuperação relevante de preços de commodities agrícolas e metálicas. Notícias de novos estímulos à economia na e uma leitura benigna da ata do Federal Reserve, que não mencionou a palavra recessão, teriam arrefecido, por ora, temores de uma desaceleração mais aguda da atividade global.

Por aqui, as atenções seguem voltadas à tramitação da PEC dos Benefícios (outrora PEC dos Combustíveis e também apelidada de PEC Kamikaze) na Câmara dos Deputados. Operadores não descartam a possibilidade de nova rodada de depreciação do real, mas ressaltam que boa parte do risco fiscal ensejado pela medida parece já ter sido incorporado à formação da taxa de câmbio.

O texto-base do relator da PEC, deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), foi aprovado em Comissão Especial da Câmara à tarde, com rejeição de destaques, e vai ser apreciado no plenário da Casa ainda nesta quinta-feira. Nas mesas de operação, comenta-se que a ausência de modificações na Câmara, com eventual inclusão de novos gastos, já é uma boa notícia.

“A preocupação com a PEC dos Benefícios não conseguiu abalar os ativos brasileiros hoje”, afirma a economista Bruna Centeno, da Blue 3, que vê a recuperação do apetite ao risco muito ligado à recepção do mercado à ata do americano ontem. “O Fed reforçou o comprometimento com o combate à inflação e admitiu que a alta de juros tem impactos na atividade, mas não usou a palavra recessão. Até disse que, após a queda no primeiro trimestre, o PIB mostra recuperação no segundo.”

Declarações de dirigentes do Fed ao longo da tarde reforçaram a leitura da ata de que a economia dos EUA vai resistir ao processo de aperto da política monetária. Tido como o maior falcão do BC americano, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, afirmou hoje que seu cenário base é de que haja um “pouso suave” da economia americana. O dirigente disse que uma nova alta da taxa básica – hoje na faixa entre 1,50% e 1,75% – em 75 pontos-base neste mês “faz sentido” e que almeja juros de 3,5% neste ano, mas ponderou que é possível haver corte da taxa após a inflação moderar.

Na mesma linha, Christopher Waller, membro do comitê de política monetária do Fed, disse que há “boas chances de um pouso suave” da economia, dado que o mercado de trabalho está sólido. Amanhã, sai o relatório de emprego (payroll) nos EUA em junho, com expectativa de criação de 275 mil vagas. “Pessoalmente, acho que os temores de recessão são exagerados”, disse. Waller afirmou ainda que apoiará alta de 75 pontos na taxa básica neste mês, mas que “provavelmente” defenderá moderação do rimo em setembro, com elevação de 50 pontos.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – terminou o dia perto da estabilidade, acima dos 107 pontos. Enquanto a libra experimento forte recuperação, na esteira da renúncia do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, o euro voltou a apanhar com a divulgação da ata do Banco Central Europeu (BCE). Embora tenha revelado planos de subir os juros neste mês, o BCE ressaltou que um aumento inicial agressivo poderia desencadear reação excessiva dos mercados.

Com raras exceções, como o peso colombiano e a lira turca, o dólar caiu em bloco frente a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O minério de ferro subiu em Qingdao, na China, e os preços de cobre avançaram mais de 4%. Os contratos futuros de petróleo também se recuperaram, impulsionados pelo apetite ao risco e por dados de alta dos estoques nos EUA, na contramão das previsões. O contrato do Brent para setembro, referência para a Petrobras, avançou 3,93%, a US$ 104,65 o barril.

“Temos uma melhora hoje bem significativa das moedas emergentes, principalmente do real. Parece mais um movimento alívio depois da alta forte do dólar nos últimos dias. Existe também uma recuperação dos preços de commodities metálicas e agrícolas que favorece emergentes”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, que também vê anúncio de estímulos na China e a postura do Fed como prováveis indutores da busca pelo risco. “Ainda tem muita incerteza com a questão fiscal brasileira. Esse alívio parece momentâneo. E, apesar da queda do dólar hoje, a taxa de câmbio ainda está em patamar bastante elevado.”