De acordo com os moradores, o bairro é comparado às favelas dos morros cariocas pela carência de serviços públicos e porque ‘quem dá as cartas’ são os donos de pequenos pontos de venda de drogas.

Moradores do Jardim Sumatra – região sul de Campo Grande, próximo ao bairro Los Angeles, reclamam que estão abandonados pelas autoridades, em assuntos de necessidades públicas, tais como segurança, iluminação, asfalto, transporte, esgoto, educação e lazer. Além disso, eles enfatizam que se submetem ao “toque de recolher”, por medo, já que perderam as esperanças de realizar denúncias.

O local é comparado às favelas do morro carioca, uma vez onde quem dá as cartas são os traficantes. O Jardim Sumatra é visto pelos moradores como um morro em forma de planície, ordem a palavra de ordem é o “silêncio”. Além disso, pedem para que a polícia se envolva mais com a comunidade, pois “nem todos aqui são bandidos, tem gente de bem, que trabalha, estuda e quer ter uma vida normal, como qualquer outra pessoa que paga os impostos”, declara Ana*.

“A gente até sabe quem comete os furtos e para que ‘boca’ eles levam, mas não adianta falar. Acontecem três hipóteses, se a gente fala pra polícia, eles não vem, quando vem demora e diz que não pode resolver. Ou então, se ficar ‘cutucando’ demais este povo ‘grande’, a gente aparece estirado no asfalto. Nesta situação sim, a polícia aparece aqui. Nestes últimos dias, já foram três”, conta Maria*, se referindo aos mortos. Ela mora no bairro há pelo menos seis anos.

“Há quase duas semanas levaram da minha casa uma máquina de lavar roupas e uma jaqueta que estava no varal. Tenho dois filhos, um de 14 e outro de 8 anos, e eles precisam de mim viva e não morta. Eles são bastante orientados nesta questão de venda de drogas por mim, mas têm muitos que acabam caindo nessa, muitas destas crianças são iludidas pelo dinheiro”, completa a dona-de-casa.

O morador João* informa que, as crianças que comercializam entorpecentes não são viciadas. “Não vale a pena pegar estes ‘nóinhas’ para vender drogas, eles só causam prejuízos. Tem que pegar estes mais ‘espertos’, que sabe das coisas e tem como se safar, sem dá em nada. Além disso, menor já ‘tá’ na rua logo, logo… E não abre a boca, o que é melhor”.

Outra mulher revela que, os moradores têm que retornar às casas antes de escurecer. Já os comerciantes são forçados a fechar o estabelecimento a partir das 17 horas. “Aqui não tem qualquer tipo de lazer para ocupar o tempo ocioso das crianças, que acabam sendo aliciados pelos traficantes. Até a escolinha de futebol aqui perto, que tinha vários projetos legais, teve que se adequar a nova realidade do bairro. Antes, eles liberavam as crianças às 17 horas e hoje o horário é às 15 horas, isso quando as atividades são canceladas”, lembra Fátima*.

“Na semana passada, um cara invadiu a minha casa para roubar as coisas e eu o tirei com um pedaço de pau. Eu moro apenas com meus dois filhos, de um ano e quatro anos. Liguei para a polícia e eles demoraram uma hora para aparecer, e o cara ficou aqui no meu quintal, não foi embora não”, fala Lurdes*.

“No começo do ano tive que comprar uma televisão e uma geladeira nova, porque queimaram. Quando estoura algum poste aqui, é a gente que sofre. Porque iluminação é rara e asfalto pior ainda”. “É triste ver a ‘cracolândia’ que tem aqui, ela é de dar inveja aquela lá do centro. Aqui rola droga, prostituição e morte, para os delatores”, finaliza.

Resposta da PM

A assessoria de comunicação da Polícia Militar informa que não há previsão de construção de um posto policial no Jardim Sumatra, uma vez que já existe um em funcionamento no Los Angeles e é o responsável pela mesma área. Uma orientação é para que a comunidade procure o Conselho Comunitário de Segurança Pública e repasse as demandas do bairro para que atitudes sejam tomadas para solucionar os problemas relativos a Segurança Pública.

Além disso, prossegue a assessoria, a PM tem um projeto na região para atender crianças e adolescentres denominado Bom de Bola Bom na Escola, que será implantado na região na semana que vem, sem data precisa ainda.

(*) Na matéria foram colocados nomes fictícios para preservar a identificação dos moradores.