O Consórcio Guaicurus e Prefeitura de negociam o reajuste da passagem do transporte público. O consórcio alega não ter dinheiro para pagar salário dos funcionários e chegou a sugerir preço da passagem a R$ 8, enquanto o município definiu tarifa técnica em R$ 5,95. Na ponta desse serviço, os passageiros não concordam com o aumento diante do serviço precário e sucateado oferecido.

Vilma Rodrigues, de 60 anos, recorda os problemas enfrentados pelo usuário do transporte público, que vai além do atraso, a falta de frota em horários de pico supera o cansaço de quem depende do serviço.

“Na semana passada eu fui pegar [a linha] Caiobá para ir num posto de saúde na Vila Fernanda, fiquei mais de uma hora no ponto esperando o e só chegava o ‘recolhe'. Isso aí não está certo, aí eles querem aumentar a passagem, para quê? As janelas dos ônibus antigamente ficavam mais em baixo, e agora ficam na parte de cima, imagina o calor que a gente passa? Não dá, eu não concordo“.

Sobre a qualidade, Vilma também criticou. “Está horrível. Hoje mesmo tinha muita gente lá no Terminal reclamando dos horários do ônibus. Eu acho um horror isso daí”, destacou.

Outro passageiro, Ramão Gabeloni, de 66 anos, aponta que nota o desgaste do serviço há anos, sem resultados positivos para o principal público: o cliente.

“É brincadeira, né? Há mais de 10 anos que está essa bagunça. Entra administração, sai administração e continua tudo a mesma coisa. Isso daí não vai mudar não, vai continuar tudo do mesmo jeito. O serviço e a qualidade dos ônibus são péssimos, não existe horário, é um horário ‘em cima do outro'. Uma hora tem muitos ônibus, outra hora não tem horário, é péssimo”.

Passageiros são unânimes sobre o transporte público

Marcos José, 55 anos, está com um processo tramitando na justiça contra o consórcio após ter sido atingido por um ônibus no Terminal Bandeirantes. Ele também faz parte do público que não concorda com o valor que não condiz com a qualidade.

“Foi dentro da plataforma, eu estava entrando e o ônibus chegou [no terminal] de tal jeito que a lateral do veículo bateu em mim e me arrastou. Eu quero justiça porque fiquei com sequelas para o resto da minha vida, estou ‘manco' e tive que colocar placas para conseguir me movimentar. Para aumentar eu já acho um absurdo, entre as capitais o índice de valores [de Campo Grande] é muito alto. E ainda está faltando muitos ônibus, eu vejo que no horário de pico, de manhã ou à tarde, sempre está lotado. O serviço tem que melhorar, porque tem”, enfatizou.

Para Maria Eduarda, de 18 anos, a precaridade é ampliada para regiões mais afastadas do Centro, o que resulta em atraso em compromissos. “É um absurdo aumentar essa tarifa. Por conta que os ônibus demoram muito, o que eu pego para ir para o Noroeste que é o meu bairro, por exemplo, passa de meia em meia hora e sempre está muito lotado. Para aumentar a tarifa, por que não colocam todas as linhas com ar condicionado? Aí sim, teria uma boa justificativa”.

‘Falta verba para pagara funcionários'

Segue num impasse a ‘queda-de braço' entre o Consórcio Guaicurus e a Prefeitura de Campo Grande. Nesta tarde de quinta-feira (21), a empresa realizou uma coletiva de imprensa para dizer que o município tem déficit de R$ 10 milhões e que funcionários podem ficar sem adiantamento salarial. A estratégia não é nova, visto que a empresa costuma terceirizar a responsabilidade sobre a péssima qualidade do serviço oferecido à população.

Perícia judicial analisou os balanços financeiros e constatou que o Consórcio Guaicurus teve lucro de R$ 68 milhões em 5 anos. Apesar disso e de receber R$ 37 milhões em verba pública este ano, a empresa diz não ter recursos para melhorar o serviço oferecido à população e pede aumento no preço da passagem.

Em coletiva, diretor operacional do Consórcio Guaicurus, Paulo Victor, diz que devido à dívida do município, no momento, a empresa não deve renovar a frota, que segundo ele, não está sucateada. “São R$ 10 milhões é o déficit da tarifa do último ano, referente a outubro de 2022 até o mês dez de 2023. Nós estamos vivendo um momento que a gente não está conseguindo pagar o salário. Então é totalmente improducente a gente falar de frota num momento desse”.

Tarifa de R$ 5,95

O transporte coletivo de Campo Grande deve terminar 2023 sem o reajuste da tarifa aos usuários após audiência de conciliação entre Prefeitura de Campo Grande e Consórcio Guaicurus terminar sem acordo.

O debate girou em torno da data para o reajuste anual da tarifa e revisão do contrato de 2012 que deveria ser feita a cada sete anos, ou seja, em 2019, mas que ainda não foi definido.

Representantes da (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande) e do Consórcio Guaicurus aprovaram a tarifa técnica do transporte coletivo de Campo Grande em R$ 5,95. O aumento de R$ 0,15 na tarifa geral foi definido em reunião no dia 12 deste mês. O valor que será cobrado dos passageiros dos ônibus é menor e ainda será definido pela prefeitura.

O procurador-geral do município, Alexandre Ávalo, explicou que as partes poderão voltar no início do ano que vem a debater o tema e confirmou que o passe deve permanecer em R$ 4,65 neste ano.

“Mas já está aprovado pelo Conselho de Regulação a tarifa técnica que será aplicada no próximo ano. A Agereg e o município de Campo Grande vão fazer esforços para buscar aquelas subvenções que foram feitas no outro ano para que esse aumento não chegue na ponta que é a população. Então, todos esses trabalhos de aprovação de ISS, subvenção do Governo do Estado em relação aos alunos, subvenções do município, tem o objetivo de não impactar a população”, ele explicou.