Para fugir de parcelas, motoristas deixam carros de luxo por mais populares em Campo Grande

Procura por carros populares aumentou e fez preço disparar, além de ficar mais difícil encontrar modelos

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carros usados frota
Carros populares em garagens (Foto: Leonardo de França/Midiamax)

Momentos de crise obrigam adaptações. Com a alta na inflação e, consequentemente, aumento dos preços, é comum encontrar pessoas que passaram a rever seus gastos em busca de alívio econômico. Entre elas, estão proprietários de veículos que passaram a trocar seus carros por modelos mais baratos e, então, fugir dos financiamentos ou quitar dívidas, em Campo Grande.

A prática é antiga e conhecida entre os garagistas, mas se intensificou nos últimos meses em Campo Grande. Para alguns, o motivo da falta de carros populares nos pátios. “Se você olhar, quase não tem Gol, Fox e carros do tipo, o cliente deixa um carro de alto padrão e leva um popular”, comentou Sulanita Mendes, responsável por uma garagem localizada na Rua Brilhante.

Sulanita exemplifica a situação ao mostrar um Jeep/Renegade. Segundo ela, o modelo é fruto de uma ‘troca’ com um cliente que adquiriu um dos carros do local, um Fox, e requisitou a diferença em dinheiro. “Às vezes, a pessoa precisa pagar conta ou até mesmo abrir, ou investir em algum negócio”, comentou.

O mesmo foi percebido em outra garagem de carros na Avenida Bandeirantes. Ao adentrar no comércio, é comum observar a falta de veículos populares em relação aos de luxo ou mais caros. Elide Borges é auxiliar financeira no local e comenta que a mesma situação relatada por Sulanita ocorreu há poucos dias no local onde trabalha.

“Se você olhar o pátio, são poucos veículos populares ou de entrada. Como a Avenida Bandeirantes é conhecida por possuir garagens com carros mais baratos, muitos vêm até aqui para fazer esse tipo de troca. A maioria quer sair do financiamento, mas outros querem o dinheiro mesmo”, explicou Borges.

Crise afeta compradores com queda nas vendas

A dificuldade em manter carros populares para atrair clientes não é o único problema encontrado por aqueles que comercializam veículos usados. Um levantamento da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) indica queda de 13,5% nas transações de veículos usados entre os meses de abril e maio.

O acumulado do ano é 21,2% abaixo do registrado em 2021, ano de recorde nas trocas de titularidade. A estatística condiz com a percepção e relatórios das empresas campo-grandenses. A garagem onde Elide Borges trabalha registrou queda de 30% de um mês para outro. Em abril foram comercializados 36 veículos, em maio foram 25, resultando em uma queda de aproximadamente R$ 626 no faturamento.

Para ela, a queda das vendas está relacionada com as taxas de juros oferecidas pelos bancos, que desmotiva o consumidor. “Tivemos algumas reuniões, um dos motivos repassados seria a inflação e o outro a taxa de inadimplência que cresceu e acaba sendo repassada para novos clientes. A pessoa vem para financiar e desiste quando descobre o valor da parcela”, explicou.

Sulanita Mendes, apesar de não possuir números das últimas vendas, afirma ser nítida a queda e se preocupa com os próximos meses. No intuito de atrair mais clientes, afirma ter apostado no marketing, além de melhorar serviços já prestados. “Nós estamos investindo bastante em publicidade e oferecendo melhores condições, como maior tempo de garantia, para que o cliente não sinta a alta dos preços e a queda nas vendas não seja tão brusca”, finalizou.

Queda em todo o Brasil

De acordo com a Fenabrave, foram comercializados 3,7 milhões de veículos usados no primeiro quadrimestre de 2022, contra 4,7 milhões no mesmo período do ano passado. Ou seja, diferença de 1 milhão de veículos usados, que deixaram de ser vendidos.

“A queda de abril está, diretamente, relacionada à diferença de 3 dias úteis em relação a março, que teve 22 dias úteis, contra apenas 19 em abril. A média diária segue estável. No acumulado do ano, como 2021 teve o maior volume da história nas transações de usados, temos uma base de comparação alta, e ajustes deste tipo podem acontecer. De qualquer maneira, temos notado uma estabilização nos volumes”, explica o Presidente da Fenabrave, Andreta Jr.

Assim como registrado no mercado de veículos novos, a comercialização de ônibus usados teve resultado positivo nos quatro primeiros meses do ano, com aumento de mais de 6% no período, como reflexo do aumento das viagens e fluxo de passageiros nos transportes públicos.

Já as motocicletas usadas apontaram queda no acumulado do ano, contra retração de 14,6% sobre o primeiro quadrimestre de 2021. “O mercado está mais receptivo para as motos zero km, que vêm apresentando aumento nas vendas, mesmo com restrição de crédito para financiamentos. Neste sentido, o consórcio tem se mostrado um importante aliado do consumidor”, analisa Andreta Jr.

Também os caminhões usados tiveram queda em suas transações, chegando a um acumulado próximo de -26% no quadrimestre, o que demonstra certa instabilidade na economia.

Entre os automóveis e comerciais leves, os modelos com até 3 anos de fabricação corresponderam a 10,7% do total de transações de abril. No acumulado, houve queda de mais de 23% nas transações e a participação desses veículos foi de 10,2%.

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