Empresa promete facilitar juros em dívidas, mas clientes perdem o carro em Campo Grande
Procon já multou a empresa em quase R$ 800 mil e correm diversos processos de clientes tentando se livrar do contrato com a empresa
Wendy Tonhati –
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Para muitas pessoas, fazer um financiamento pode ser a única forma de conseguir conquistar aquele bem tão sonhado. Só que basta fazer as contas para constatar que, muitas vezes, os juros podem fazer você pagar o dobro ou até mais do valor total do bem.
Foi tentando fugir dessa situação que alguns campo-grandenses acabaram sofrendo prejuízos ao firmar acordos de renegociação. Isso porque eles contrataram serviços de uma empresa que promete ‘negociação extrajudicial de dívidas’.
Os relatos descrevem clientes que acabaram pagando altos valores pelo serviço da empresa e que garantem, por exemplo, ter recebido a orientação para parar de pagar o financiamento. Com isso, chegaram a perder os veículos que haviam financiado.
A empresa é a OFX Assessoria Contratual Eireli, mais conhecida como O Facilitador, conhecida por apresentar os serviços oferecidos por eles em programas locais de televisão — o que atraiu os consumidores que se dizem lesados.
No site da empresa, são oferecidos serviços para negociação de veículos, financiamento de pessoa jurídica, cartão de crédito em atraso, empréstimo pessoal e cheque especial.
No caso dos consumidores ouvidos pelo Jornal Midiamax, a expectativa era reduzir os valores das prestações que pagavam no financiamento de veículos. E todos têm histórias parecidas: viram a empresa na televisão, foram até a sede da empresa e lá foram apresentadas sobre as supostas vantagens de fazer o contrato com eles.
Na sequência, os clientes pagaram valores que, em um dos casos, passa de R$ 8 mil pelo serviço de assessoria na negociação. Os relatos também apontam que clientes foram orientados a deixar de pagar o financiamento ao banco e, assim, acabaram surpreendidos pela apreensão de seus veículos.
Alvo do Procon-MS
Além dos relatos, a situação com ‘O Facilitador’ chama a atenção porque, nos dois últimos anos, o Procon MS (Superintendência Estadual para Orientação e Defesa do Consumidor) multou a empresa pelo menos duas vezes.
Somente neste ano, a propósito, a Superintendência já abriu 16 processos contra a empresa, totalizando R$ 292.936 em multas. Em 2021, foram abertos 36 processos, R$ 492.936 em multas aplicadas pelo órgão, que apurou a reclamação de consumidores que alegaram que os serviços não eram prestados e tiveram dificuldades em rescindir o contrato com a empresa.
Além disso, pelo site do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, é possível confirmar que a empresa deixou muitos clientes descontentes com o serviço de negociação. São mais de 20 ações nas quais a empresa é ré — a maioria movida por pessoas tentando cancelar o contrato do serviço de negociação extrajudicial, alegando que o serviço não é feito e tentando impedir que a própria empresa de negociação coloque o nome do cliente nos órgãos de proteção ao crédito.
Perdeu o carro
Um dos clientes que se diz lesado pela empresa é o professor Fernando dos Santos Chaves. Ele fez um vídeo expondo a situação e também criou uma página no Facebook e um grupo no WhatsApp, em que várias outras pessoas também afirmam que foram lesadas pela empresa.
O professor, que atualmente trabalha como vigilante, relata que pagava o financiamento de um carro de passeio — que está no nome da mãe dele. Ele viu a propaganda da empresa na televisão e se interessou pela possibilidade de reduzir o valor das prestações com a ajuda da empresa. Até então, segundo ele, as parcelas estavam todas em dia.
“Pelo comercial, parece que você vai conseguir êxito em baixar os valores das parcelas do seu carro. Procurei a empresa e nos orientou a não pagar as parcelas do carro e não atender os telefonemas do banco que financiou o carro”, conta.
Ele pagou R$ 2,9 mil pelo serviço de assessoria em negociação de dívidas, mas acabou perdendo o veículo, que foi apreendido pelo banco.
“Como a gente não entende da área judicial, passaram três ou quatro meses, o banco informou a busca e apreensão. Quando eu fui ver, pegaram nosso carro. Eu utilizo o carro para trabalhar e também trabalhei como Uber. O carro faz muita falta para o trabalho”, diz o vigilante. Ele acrescenta que, após o ocorrido, ele e a mãe procuraram a empresa, mas não foram bem atendidos.
“Quando o carro estava em busca e apreensão, eles nos orientaram a esconder o carro. Fui lá com a minha mãe quando aconteceu a situação de o carro ser apreendido e não deram a mínima. Não é a mesma pessoa que te atende superbem no primeiro dia. Sempre uma pessoa diferente para cada ocasião. Eles não entraram em contato com o banco e não resolveram nada. Aumentou o valor para tirar o carro do banco”, explica.
Após a situação, Fernando procurou a Polícia Civil para fazer um boletim de ocorrência, mas foi orientado a procurar a Justiça para resolver a situação.
“Nos sentimos enganados e lesados por essa empresa que ludibria, engana as pessoas. Formamos um grupo de pessoas que foram lesadas. Acontece com muitas pessoas, mas muitos têm medo e vergonha de expor na mídia, por ter sido enganado”.
Pagou mais de R$ 8 mil e perdeu o carro
A história de Fernando é bem parecida com a de Rozeli Paes. Ela pagou aproximadamente R$ 8,6 mil para a empresa fazer a negociação com o banco e acabou perdendo o dinheiro e o carro, um Voyage 2018. Rozeli conta que estava com os pagamentos do veículo em dia e procurou a empresa na expectativa de reduzir as parcelas e quitar logo o carro.
Segundo ela, a orientação foi a mesma dada a Fernando: não pagar as parcelas do carro e não atender as ligações do banco. Segundo Rozeli, o marido dela ainda questionou que se eles parassem de pagar o carro, o banco entraria com busca e apreensão, mas a empresa garantiu que isso não aconteceria. Ela deu uma entrada de R$ 800 e mais seis parcelas de aproximadamente R$ 1 mil, totalizando R$ 8.600 para a empresa fazer a negociação.
“Vinha ligação e correspondência para negociar e eles falavam: a senhora não atende telefone. A senhora não os ouça, ignora a ligação do banco, ignora a cartinha, a senhora nem assina a cartinha que recebe na sua casa. Foi a orientação deles. Eles me garantiram que o serviço deles era em cinco etapas e que iriam proceder para reduzir o valor e que eu tinha que ter o dinheiro em mãos para quitar o meu carro”, explica.
Rozeli diz que, quando pagou a última parcela, pediram que ela fosse ao escritório. Falaram que ela tinha que esconder o carro, pois estava em busca e apreensão.
“Eles me ligaram e pediram que fosse ao escritório. Eu perguntei se podiam adiantar por telefone, mas não, disseram que tinha de ser pessoalmente. Quando eu chego lá, pessoalmente, eles me falam que eu tinha que esconder o carro, que estava em busca e apreensão. Falei: gente, isso não pode acontecer. Foi uma garantia que vocês me deram aqui no escritório que isso não ia acontecer com o meu carro”, relembra.
Depois do ocorrido, Rozeli disse que não esconderia o carro e procurou um advogado, tentou registrar boletim de ocorrência e procurou o Procon-MS. Ela tentou reaver o dinheiro pago à empresa para fazer a negociação e usar para pagar as parcelas em atraso do veículo. Porém, não conseguiu e perdeu o carro em novembro do ano passado.
“Em novembro, a polícia foi com o oficial de Justiça e levaram o carro. Eu perdi o meu bem. Eu paguei e o Facilitador para tirar um bem que eu suei para pagar”, lamenta Rozeli.
Além das histórias de Rozeli e Fernando, o Jornal Midiamax conversou com outro consumidor que enfrenta o mesmo problema. Na página do Facebook, várias pessoas também reclamam da empresa.
O que diz a empresa:
O Jornal Midiamax tentou falar com o Facilitador por dois dias no telefone informado no Facebook da empresa, mas as ligações não foram atendidas. Um representante da empresa entrou em contato com o Midiamax já sabendo que a matéria estava sendo produzida e ficou de informar um email para que a empresa fornecesse um posicionamento sobre as reclamações. Ele verificaria se o setor responsável pela resposta seria o jurídico ou o marketing.
Até o momento, o representante não encaminhou o endereço eletrônico para que o Jornal Midiamax encaminhasse o pedido de esclarecimentos. O jornal permanece aberto para o posicionamento da empresa.
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