O preço dos alimentos deve permanecer em alta nas próximas semanas. A única dúvida para economistas está relacionada ao ritmo desta elevação. Motivos para a manutenção da alta de preços não faltam: fertilizantes e fretes marítimos e rodoviários mais caros, combustíveis em alta, insumos com energia prestes a encarecer, aumento nos custos de produção e o achatamento da margem de lucro dos varejistas.

A questão dos problemas climáticos vem recebendo uma atenção especial sobretudo nos produtos hortifrútis. Fernando Begena, diretor de Mercado da Ceasa/MS (Central de Abastecimento de Mato Grosso do Sul), tem chamado a atenção, afirmando que o Brasil está dividido nesta questão, com a presença de enchentes no sudeste e estiagens no sul. Paralelamente, a escalada de preços dos combustíveis acaba contribuindo diretamente para a elevação de preços de todos os produtos transportados, extrapolando a barreira dos hortifrútis e interferindo no preço dos alimentos.

Esta semana o mercado financeiro viveu um alento quanto aos combustíveis. Como a política de preços da Petrobras está diretamente ligada à variação da tarifa dos barris de petróleo no internacional, a queda do durante a semana gerou um respiro de esperança para impedir uma alta de preços nos alimentos ainda mais acelerada. No entanto, economistas brasileiros e do mundo afora já deixaram claro que se trata apenas de uma paralisada para gerar fôlego para o ataque voltado à alta de custos voltar a se perpetuar.

Alíquota zero para alimentos

Hudson Garcia, economista e membro do Corecon/MS (Conselho Regional de Economia de Mato Grosso do Sul), deixou claro que o Brasil não vai sentir nada com a queda do nesta semana e que os alimentos com alíquota zerada no imposto de importação também não vão proporcionar nenhum alívio no bolso do consumidor neste momento para compra de alimentos. Ele lembrou que os custos estão elevados demais e uma redução mínima — como a que foi anunciada pelo governo federal para o café, margarina, queijo, açúcar, etanol, macarrão e óleo de soja — não terá nenhum impacto nas gôndolas dos supermercados.

O próprio Hudson Garcia explicou que, no mundo inteiro, os alimentos — notadamente, os cereais — sofreram uma elevação de preços média de 14,42%. O que o economista quis dizer é que se trata de uma questão macroeconômica de aumento de custos por fatores diversos, que vão desde a questões climáticas, aumento de custos com o petróleo, até desembocar na guerra entre Rússia e Ucrânia, que, na economia, já tem estragos comprovados nos fertilizantes e no trigo, que é um cereal.

Para Daniel Frainer, coordenador de Economia e Estatística da Semagro (Secretaria de , Desenvolvimento Econômico, Produção e Familiar), se o empresário do setor varejista de alimentos não tiver condições de baixar esses preços, a discussão já se encerra por aí. Segundo Frainer, o governo federal deveria ter feito um estudo de amplo impacto e colocado os produtos da cesta básica na pauta para alíquota zero no imposto de importação. Frainer ainda admite que o consumidor poderá perceber alguma diferença de preços, porém, minimizada.

Tanto Frainer quanto Garcia acreditam que a inclusão de mais produtos de alimentos com alíquota zero de imposto de importação e a continuidade da queda do dólar, ainda que em ritmo lento, poderão fazer uma diferença visível aos consumidores em geral a partir do segundo semestre deste ano, podendo contribuir — de forma mais decisiva — para a queda da inflação acumulada. Quanto ao curto prazo, os economistas afirmam que a atual realidade está difícil, ainda devido aos efeitos nefastos da pandemia, e necessita de paciência para ser superada. Mundo afora, o preço do frete subiu 20% e no Brasil a logística rodoviária continua em ritmo de alta intenso.