O aumento nos preços provocado pela crise econômica a qual o Brasil enfrenta tem afetado diversos setores. Pessoas sofrem com o aumento no preço da carne, da gasolina e a crise chegou até os animais de estimação. Tutores e protetores independentes de cães precisam fazer manobras no orçamento para continuarem cuidando dos animais da melhor forma possível.

O gerente de um pet shop no bairro Sílvia Regina, José Felício, cita um crescimento nos valores das rações. “Os preços subiram, não tem fator específico, é a cadeia, matéria-prima sobe, carne, insumos, transporte”, comenta. Uma ração que custava R$ 150 no início do ano, passou a ser vendida a R$ 189 no local, por exemplo.

Felício explica que todo ano o pet shop busca um aumento no faturamento, porém, em 2021, isso não será alcançado. “Esse ano não vai ter esse aumento esperado, mas não teve uma queda também”, pondera.

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Rações das mais variadas estão à disposição no mercado. Foto: Marcos Ermínio

O gerente destaca que os clientes fixos continuam frequentando o estabelecimento. “A gente manteve a clientela, não perdemos clientes”, conta. Ele explica que a alternativa encontrada por muitos dos tutores foi baixar o “nível da ração”.

A hierarquia dos alimentos é Ração Super Premium, considerada a melhor do mercado, com vitaminas e ingredientes nobres, como salmão, cordeiro, carne e frango. Abaixo tem a Ração Premium, que possui características semelhantes à da Super Premium, mas com um valor mais em conta. E, na base da pirâmide de preço, está a Ração Standard, que é elaborada com ingredientes mais comuns, com uma grande parcela de origem vegetal. “Com a alta dos preços, clientes migraram para rações mais baratas”, conta o gerente do pet shop.

Preço vs Hábito

O aposentado Cândido Dias, de 68 anos, tem dois cachorros pequenos, um poodle e um vira-lata. Ele percebeu um aumento no preço dos alimentos para os cães, de R$ 120 mensais, agora ele paga R$ 150. “Acabei de falar aqui para o pessoal [vendedores do pet shop] que vou ter que cortar a ração pela metade, porque está muito cara”, conta em tom de brincadeira. Porém, por enquanto, ele ainda não considera mudar o tipo de ração dos seus bichinhos. “É boa para os cachorrinhos, eles já se acostumaram”, comenta.

O autônomo Ricardo Ferreira, de 50 anos, tem quatro cachorros vira-latas e já comprava a ração standard para os animais. A alta dos preços não afetou seu hábito de compra. “Eu compro de duas a três vezes por mês”, fala. Assim como Dias, ele alega não trocar de ração, pois os animais já estão acostumados.

O gerente do pet shop, José Felício, comenta também que outros serviços como banho e tosa seguem no mesmo ritmo. Apesar de o carro-chefe da loja ser as rações, os clientes mais fiéis continuam levando os animais. “Acessórios, banho e tosa se mantiveram iguais, não teve perda nenhuma. O cliente que gosta de trazer para os banhos nos finais de semana”, afirma.

Os bichinhos que vão ao pet shop para tomar banho seguem frequentando o local, segundo gerente. Foto: Marcos Ermínio

 

Maior impacto em ONGs

Se para os tutores os valores tiveram baixo impacto, ONGs e protetores independentes sentiram um aperto maior no bolso. A advogada e médica veterinária Maria Lúcia Metello, fundadora da ONG Abrigo dos Bichos, comenta que a crise atingiu a organização em todos os aspectos. Anteriormente, a ONG costumava receber doação de alimentos, mas agora esse tipo de ação é rara. “As pessoas pararam de doar ração, é muitíssimo pouco, parou geral, eu me preocupo muito com os protetores independentes, que são aquelas pessoas com coração enorme, mas que não têm condições”, conta.

Ela explica que, por conta do baixo número de doações, os alimentos que eram repassados aos protetores independentes, agora são apenas suficientes para alimentar os animais que estão nas instalações da ONG. Dessa forma, os protetores precisam arcar com a ração dos animais que acolhem temporariamente. “Infelizmente não temos condições de comprar para os protetores independentes”, lamenta Metello.

A gerente financeira da ONG, Andreia Costa da Silva, conta que o gasto mensal com ração na organização subiu R$ 200. “Gastávamos em torno de R$ 800 por mês, porque recebíamos um pouco de doações de simpatizantes da causa, mas agora passamos a gastar mais de R$ 1.000 e as doações diminuíram.  Para se ter ideia, temos uma cadelinha que consome ração especial gastrointestinal e o pacote de 7,5 quilogramas que compramos na semana passada custou R$ 243”, narra.

Para contornar a crise, a ONG busca alternativas para arrecadar dinheiro. “Fazemos vaquinhas online, rifas e bazares”, cita Silva. Além disso, a ONG conta com o auxílio das para ampliar as doações.

A ONG aceita doações de diversos produtos como ração, vermífugo e produtos de limpeza. Para doar, basta entrar em contato pelo Facebook e Instagram do Abrigo dos Bichos ou, ainda, transferir a quantia em dinheiro para a conta bancária do Banco do Brasil, agência 5783-5, conta-corrente 41599-5, CNPJ 05.108.286/0001-47. E a ONG também possui PIX, que é o número do CNPJ.