A cachoeira Água Branca, considerada um dos tesouros naturais do município de Pedro Gomes, distante 304 quilômetros de Campo Grande, acaba de se tornar uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural). O documento foi assinado na segunda-feira (2), pelo presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Mauro Pires.
A área protegida se estende por 29,26 hectares e é resultado de anos de mobilização popular contra a construção de uma usina hidrelétrica, que colocava em risco cerca de 80% da queda d’água. Com a criação da reserva, a cachoeira passa a contar com proteção permanente, abrindo caminho para o turismo sustentável e a geração de renda para a comunidade local.
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Segundo o consultor da Ecoa especialista na criação de RPPNs no Brasil, Laércio Machado, a localização da cachoeira Água Branca é estratégica, pois está na borda de um grande platô, onde, acima, já existe uma degradação muito grande, com monoculturas e pastagens. “E a cachoeira é o fim de um sistema hídrico, que começa nesse platô e desce para a região do Pantanal”, completa.
A cachoeira tem mais de 80 metros de queda livre, é a segunda maior de Mato Grosso do Sul. Localizada a cerca de 10 quilômetros da nascente do córrego Cipó, integra a sub-bacia Piquiri-Correntes e o Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari, na Serra de Maracaju, uma das áreas prioritárias para conservação da Bacia do Alto Paraguai.
A criação da RPPN foi um ato voluntário do proprietário, Nelson Mira Martins, e surgiu após o projeto de criação de uma usina, que mobilizou moradores da região, o MPMS (Ministério Público Estadual) e organizações ambientais, como a Ecoa. De acordo com a Ecoa, o trâmite durou seis meses.
Proprietário sonha em construir pousada
O produtor rural Nelson Mira Martins, proprietário da área, nunca desistiu de proteger a cachoeira e comemora a criação da RPPN. Para ele, a construção da represa teria sido devastadora, comprometendo a beleza do local, o microclima da região, o potencial turístico e a biodiversidade, principalmente as aves migratórias que utilizam a área como refúgio.
O produtor rural acompanhou promotores e peritos de impacto até o local durante vistorias para comprovar, in loco, a importância de suspender a usina. Além disso, Nelson destaca que o local tem um grande potencial turístico, que pode impactar positivamente a economia local.
Segundo Nelson, a propriedade possui diversos atrativos, como: cavernas inexploradas, paredões para rapel e trilhas ecológicas. Com a área protegida, isso garante segurança jurídica para ele realizar o antigo sonho de construir uma pousada. Ele explica que, para isso, precisava que a situação fosse definida, ou com o arquivamento definitivo do projeto da represa, ou a criação da RPPN.
“Quando comprei, eu já deixei essa parte pensando em construir uma pousada no futuro. Mas aí parou tudo com a situação da PCH, que queria criar uma usina e acabar com 80% da cachoeira. Ia investir como? Aí ficou dez anos essa briga”, relata Nelson.
Além disso, a cidade de Pedro Gomes poderá ser beneficiada com o repasse do ICMS Ecológico, mecanismo que recompensa financeiramente municípios que conservam o meio ambiente.
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Linha do tempo da mobilização
- 1986: Seu Nelson inicia a compra de lotes na região.
- 1991: Expande a propriedade até a área da cachoeira Água Branca.
- Anos 2000: Projeto de PCH ameaça diminuir 80% do fluxo de água da cachoeira. Nelson recusa propostas financeiras e inicia disputa judicial.
- 2019–2024: Mobilização ganha força com reportagens, campanhas (como “O Brasil que eu quero”), apoio do MPMS e organizações como a Ecoa.
- Maio de 2024 – Projeto da represa hidrelétrica tem a licença suspensa pelo Imasul e também no plano federal.
- Junho de 2025 – Portaria de criação da RPPN é assinada pelo ICMBio.
Área será destinada ao ecoturismo
Com a RPPN criada, o próximo passo será a elaboração do plano de manejo, documento que define os usos permitidos e as diretrizes de conservação da área. Através disso, será possível:
- Estruturar trilhas, pontos de observação e receber visitantes (observadores de aves, pesquisadores, escolas);
- Firmar parcerias com instituições como Sebrae e Secretaria de Turismo de Pedro Gomes;
- Desenvolver ecoturismo com infraestrutura local (energia, internet, sinalização etc.);
- Acessar aportes financeiros, como o do FCO (Fundo Centro-Oeste).
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