Tarifas recíprocas: medidas de Trump ameaçam setor de etanol e biocombustíveis em MS
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Após cortes que impactaram ações de prevenção à saúde e combate a incêndios florestais, as medidas anunciadas pelo presidente dos EUA (Estados Unidos da América), Donald Trump, agora podem afetar mais um setor estratégico no Brasil. Desta vez, o alvo é o setor sucroenergético, responsável pela produção de etanol.
Nesta quinta-feira (13), a Casa Branca divulgou um pacote de medidas conhecido como “tarifas recíprocas”. Para justificar a decisão, o Governo Americano apresentou uma lista de países e produtos que, segundo eles, operam em condições comerciais “injustas”. O etanol brasileiro aparece no topo dessa lista.
O pacote prevê a realização de estudos para o chamado “Plano Justo e Recíproco”, que pretende revisar as relações comerciais atuais dos Estados Unidos. A proposta busca equiparar o tratamento dado ao etanol produzido no Brasil e nos Estados Unidos, apesar das diferenças em atributos ambientais e no potencial de descarbonização de ambos os produtos.
A primeira onda de tarifas impostas por Trump afetou os setores de aço e alumínio. Na última segunda (10), o presidente dos EUA elevou para 25% a cobrança sobre importações desses itens. Conforme o Governo Americano, entre as justificativas, está o aumento expressivo de compra de aço da China pelo Brasil.
Vale destacar que o etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar, é considerado um dos combustíveis mais promissores para soluções relacionadas à mobilidade urbana e à redução dos impactos ambientais. Isso porque se trata de um produto renovável e limpo, cuja queima libera uma quantidade significativamente menor de poluentes em comparação aos combustíveis fósseis.
Entidades do setor expressam preocupação
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Após o comunicado do presidente americano, as principais entidades representativas do setor, a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) e a Bioenergia Brasil, criticaram a inclusão do etanol brasileiro no memorando das tarifas. Em nota oficial, as entidades apontaram que a medida não é coerente e desconsidera a lógica de reciprocidade.
“Se a medida se confirmar, será mais um passo dos Estados Unidos em direção ao abandono da rota de combate às mudanças climáticas. Esperamos que os estados americanos e a indústria local, comprometidos com essa causa, atuem para impedir o retrocesso proposto pelo governo”, diz o comunicado enviado pelo setor.
Em Mato Grosso do Sul, a Biosul (Associação de Produtores de Bioenergia) é a entidade que representa a indústria sucroenergética do Estado. No entanto, as manifestações sobre as sanções do presidente americano estão sendo coordenadas pela Bioenergia Brasil.
Barreiras impostas pelo governo americano
Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia, destacou a falta de reciprocidade nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Segundo ele, o açúcar brasileiro enfrenta barreiras no mercado norte-americano.
“Não conseguimos exportar para os Estados Unidos porque eles impõem uma tarifa que, em termos percentuais, ultrapassa os 100% do valor do produto”, afirmou em entrevista à CNN.
MS ocupa 4° posição no ranking de produção de etanol
Embora não haja dados concretos sobre os impactos diretos das sanções de Trump, Mato Grosso do Sul pode ser diretamente afetado. Isso porque o Estado ocupa a quarta posição no ranking de produção de etanol de cana-de-açúcar e a segunda posição na produção de etanol de milho. Juntos, os dois tipos de etanol somaram 3,8 bilhões de litros na safra passada, com 75% dessa produção proveniente da cana e 25% do milho.
Na safra 2023/2024, as usinas do estado produziram 3,8 bilhões de litros de etanol, tanto de cana-de-açúcar quanto de milho. Para a próxima safra, 2024/2025, a previsão é de um aumento substancial, com a produção chegando a 4,5 bilhões de litros, sendo 39% desse total proveniente do milho, segundo dados da Biosul.
Para cada litro de etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, são gerados 10 litros de vinhaça. Cada metro cúbico de vinhaça pode gerar até 13 metros cúbicos de biogás. Além disso, cada 3 metros cúbicos de biogás, após purificação, produz 2 metros cúbicos de biometano.
Mamiule de Siqueira, coordenadora de Energias Renováveis e Bioindústrias da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), calculou a capacidade de produção de biometano das usinas do Estado com base na produção de etanol atual.
“Considerando o volume produzido na safra deste ano, de 3,8 bilhões de litros de etanol, sendo 75% do total de cana-de-açúcar, as usinas de Mato Grosso do Sul têm capacidade para gerar 126 milhões de metros cúbicos de biometano por safra, ou 345.000 m³/dia”, afirmou.
Potencial energético de MS
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Outro ponto importante é que Mato Grosso do Sul tem atraído a atenção dos investidores do setor. A vinhaça, antes usada apenas como biofertilizante, pode virar biogás e biometano, combustíveis versáteis com múltiplas aplicações, incluindo uso industrial, veicular, termoelétrico, comercial e residencial. Nesse contexto, a medida de Trump tem potencial de impactar a produção de biogás e biometano.
Apesar do biogás e biometano resultarem do mesmo processo, trata-se de produtos diferentes. O biogás surge a partir da degradação da matéria orgânica na ausência de oxigênio, e no caso da indústria sucroenergética, essa matéria é a vinhaça. Já a produção do biometano ocorre por meio da purificação do biogás, processo que envolve a remoção de umidade, gás carbônico e sulfeto de hidrogênio. Isso resulta em um gás com maior poder de combustão e equivalente ao gás natural, quando usado como combustível automotivo.
Um levantamento da Semadesc projeta Mato Grosso do Sul como uma futura potência na produção desses biocombustíveis, dado o tamanho da área plantada com cana-de-açúcar, que já chega a 800 mil hectares em 42 municípios, e o número de usinas instaladas e em operação, que somam 20 unidades. Além disso, o setor sucroenergético no Estado gera 120 mil empregos diretos e indiretos e representa 16% do PIB Industrial.
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