A USF (Unidade de Saúde da Família) Nova Esperança está com dias contados para fechar as portas. O imóvel, na rua Anhumas, é alugado pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) desde 2014 e — depois de o proprietário pedir reajuste de R$ 1.312,35 no aluguel — precisa ser desocupado até 30 de junho. Pacientes e trabalhadores serão remanejados para a USF Jockey Club, mas se preocupam com a distância e possibilidade de superlotação do novo posto de saúde.
“A situação é caótica, é crítica. A população está clamando porque quer ter uma saúde digna, só isso. Eu trabalhava no Jockey Club quando essa unidade veio para cá, em 2014. Naquela época, montaram aqui para desafogar lá, porque a do Jockey já não comportava a população toda”, desabafa Vania Pinheiro, 62 anos, funcionária da limpeza e usuária da USF Nova Esperança. Para ela, voltar ao Jockey Club significa retrocesso.
Enquanto isso, a obra da USF Parati, que seria solução para desafogar as outras unidades da região e atenderia a população que hoje está na área de cobertura da USF Nova Esperança, está atrasada. Com R$ 3.142.734,49 de orçamento, o contrato foi publicado em Diário Oficial, em maio de 2024, com prazo de 540 dias para a execução. A expectativa inicial era de entregar a obra no fim deste ano, mas a Prefeitura já prorrogou o prazo para o primeiro semestre de 2026.

Negociação do aluguel
Conforme apurado pelo Jornal Midiamax, o valor atual do aluguel é de R$ 1.687,65. O proprietário do imóvel teria pedido à Sesau que o valor subisse para algo em torno de R$ 3 mil, mas estaria disposto a negociar e aceitaria um aumento de apenas mil reais. A avaliação do dono seria de que o preço da locação é defasado em comparação com o valor de mercado porque, desde 2014, o reajuste é apenas pela inflação. A reportagem apurou que o imóvel continua à disposição para locação, inclusive para continuar sendo a sede da USF, desde que o dono e a administração municipal entrem em acordo.
Em nota enviada ontem (4) ao Jornal Midiamax, a Prefeitura informou que a medida de fechamento da USF Nova Esperança “só está sendo tomada porque o proprietário do imóvel não aceitou a renovação do contrato de aluguel, pedindo que, após findado o prazo, o imóvel seja entregue”. O contrato de locação venceu no fim de abril e foi prorrogado até o fim de junho.
Coordenador do Conselho Local de Saúde do Jardim Nova Esperança, Thiago Ribeiro opina que os danos seriam menores se a prefeitura aceitasse o aumento de aluguel. “A gente considera que o valor não é tão absurdo, porque é possível a prefeitura pagar, mas não houve nenhum acordo, nenhuma oferta ainda para o proprietário. E o nosso tempo está passando”.
Problemas da transferência
Atualmente, a USF Nova Esperança atende 9 mil pessoas da região. A média é de 80 atendimentos diários, com tempo de espera por vaga considerado baixo, de 30 dias. Trabalhadores do local acreditam que passar esses atendimentos para a USF Jockey Club poderia sobrecarregar a unidade.
“Vai superlotar o Jockey Club, que já tem uma população de 20 mil atendidos. Lá são 4 equipes, agora vai mais 2 para lá. Vão colocar onde? A estrutura de lá é para 4 equipes. As duas médicas que trabalham aqui [na Nova Esperança] já falaram que não vão para o Jockey e estão certas, lá nem vai ter sala para elas”, lamenta Vânia Pinheiro.
A distância entre as duas unidades de saúde é de 2 km, mas os funcionários se preocupam que pessoas mais vulneráveis não consigam ir ao local. “Fica muito longe para alguns moradores. Nós temos uma população acima de 60 anos muito grande, são pessoas que têm dificuldade de vir até aqui, imagina indo lá”, relata Thiago Ribeiro.
Ana Paula Cândido, auxiliar de manutenção de 35 anos, foi ao posto de saúde hoje para uma consulta odontológica que agendou anteontem. “Lá no Jockey Club as pessoas dormem na porta para marcar consulta, não é igual aqui. Na Nova Esperança o atendimento é ótimo, é muito bom. Com essa mudança, a gente tem que ficar brigando por espaço, lutando para ter saúde”, afirma.
O prazo para desocupação do imóvel é 30 de junho, mas ainda não há data marcada para o encerramento das atividades na USF Nova Esperança. Os profissionais estão marcando exames e consultas normalmente neste período, mesmo sem certeza de que serão realizados na nova unidade.
O que diz a Prefeitura?
Leia na íntegra a nota enviada pela Prefeitura ao Jornal Midiamax, nesta quarta-feira (4):
“A Secretaria Municipal de Saúde informa que, devido à necessidade de devolução do imóvel onde funciona a USF Nova Esperança — que é alugado e foi solicitado pelo proprietário — e a proximidade da conclusão da obra da USF Parati, que irá incorporar as equipes dessa unidade assim que finalizada, os profissionais que atendem no local serão temporariamente remanejados para outra unidade próxima, garantindo, ainda, o atendimento da população que reside na região. Os atendimentos médicos acontecerão na USF Jockey Club, enquanto outros serviços, como grupos de gestantes e de acompanhamento de pacientes com Diabetes e Hipertensão, acontecerão em estruturas já existentes no território de abrangência da USF Nova Esperança.
Esta decisão foi tomada pela Secretaria Municipal de Saúde em conjunto com os profissionais que atendem na unidade. A medida é uma estratégia adotada já visando a proximidade da entrega do prédio próprio da unidade de saúde, que está sendo construído do bairro Parati e tem previsão para finalização já no primeiro semestre de 2026. Cabe ressaltar ainda que a decisão já foi comunicada tanto ao Conselho Regional de Saúde daquela área quanto ao Conselho Municipal de Saúde e acatada por tais estruturas. Reforçamos ainda que esta medida só está sendo tomada porque o proprietário do imóvel não aceitou a renovação do contrato de aluguel, pedindo que, após findado o prazo, o imóvel seja entregue”.
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