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Cotidiano

Médico acusado por transfobia em Campo Grande já havia feito ‘piada’ sobre caso similar nas redes sociais

Caso de transfobia ocorreu no dia 4 de fevereiro, em Campo Grande
Jennifer Ribeiro -
Publicação feita por médico (Reprodução, Redes Sociais)

Em 2017, o médico acusado por transfobia no último dia 4 de fevereiro, em Campo Grande, compartilhou um conteúdo em suas redes sociais com o título: “Ginecologista se recusa a atender travesti e é preso em flagrante por homofobia”.

Poderia ser apenas o compartilhamento de uma matéria policial, tratando de um caso realmente problemático, mas não. Nos comentários, entendia-se a real intensão com o post: polemizar o caso e ridicularizar pacientes trans ou travestis.

O conteúdo em questão era falso. Aquele caso, especificamente, não havia acontecido. No entanto, sem saber dessa informação, um homem declarou nos comentários: “Que q um ginecologista tem a ver com um travesti? Travesti tem vagina? Ah, vá pra merda!”

Em seguida, uma mulher respondeu: “não se estresse tanto, meu lindo. É notícia falsa”. Então, o homem reponde, em um humor sádico, que o médico campo-grandense é “malandro”. O médico, por sua vez, responde: “pegadinha do malandro”. Com as acusações envolvendo seu nome, o médico privou suas redes sociais.

Comentários reforçam discriminação diária

Embora a publicação fosse falsa, o episódio serviu para reforçar comentários preconceituosos e ridicularizar uma comunidade que já sofre violência diariamente. Conforme a médica Giulia Rita, como o homem se referiu à paciente já é um ponto crucial para análise. “Mulheres trans e travestis são identidades femininas. Não existe ‘o travesti’, é ‘a travesti’ e acho que a violência se explicita bem aí. Negar a identidade de gênero de alguém é crime, já equiparado ao crime de pelo STF”, pontua.

Outra problemática neste caso é que o médico campo-grandense, além de especialista em diagnóstico de imagem, também é ginecologista. Isso levanta uma preocupação sobre como pacientes trans e travestis são tratadas durante os exames.

“Ginecologistas, nesse sentido, têm de se decidir se atuam em saúde das mulheres ou em saúde utero-vaginal. É importante lembrar que ginecologistas também fazem cuidados referentes a mamas e neovaginas (por exemplo, no caso de pessoas intersexo ou de pessoas transfemininas com cirurgia de redesignação sexual), portanto não existe uma prerrogativa que deva barrar atendimento a mulheres trans e travestis”, acrescenta a especialista.

Mulheres trans e travestis têm direito à consulta ginecológica

Ainda que seja o caso de uma pessoa que não possui mamas desenvolvidas ou neovagina, independente da especialidade, cabe a todo médico fazer um acolhimento e uma escuta ativa para poder direcionar cada pessoa para os profissionais adequados àquela demanda, aponta Giulia. Independentemente da especialidade, todo profissional médico deve, segundo o Código de Ética Médica, agir com respeito à dignidade humana – o que significa não promover violência e discriminação durante o atendimento.

“As causas e desfechos podem ser os mais diversos, e independente de ‘direito a consulta com ginecologista’ acho que o que deve ser pautado é o direito ao respeito durante um atendimento em saúde”, afirma a médica.

Para a profissional, se as unidades públicas de saúde estivessem promovendo atendimento adequado para pessoas trans, alguns desgastes poderiam ser evitados.

“Já passou da hora de as escolas médicas (faculdades e universidades), além do CFM e dos CRM levarem a sério a necessidade de formação e capacitação dos profissionais médicos para atendimento à população trans, que pode e deve ter acesso a consultas com respeito à sua dignidade e identidade independentemente da especialidade médica consultada. É por situações violentas como essa que a população trans no está historicamente afastada dos cuidados de saúde e, portanto, muito mais exposta a agravos de saúde em diversas áreas – saúde mental, cardiovascular, infecto, sexual e reprodutiva, social, dentre outras”, pontua.

Embora o médico campo-grandense também seja ginecologista, vale lembrar que o caso de transfobia ocorreu durante um exame de imagem.

Relembre o caso

Uma mulher transexual, de 46 anos, foi vítima de , na tarde do dia 4 de fevereiro, após o médico de uma clínica se negar a dar o resultado do exame e alegar que o RG (Registro Geral) da vítima seria falso. O caso aconteceu em uma clínica da região central de .

A irmã da vítima entrou em contato com a reportagem do Jornal Midiamax após a mulher trans ter sofrido injúria e transfobia em uma clínica médica. As duas teriam ido ao consultório para a vítima realizar um ultrassom na perna.

No entanto, conforme o boletim de ocorrência, ao entrar na sala, o médico teria dito ‘você não é mulher, você é homem’, e questionado o porquê da paciente se apresentar com um nome feminino.

Após o procedimento, a vítima contou à irmã o que teria acontecido, e a mesma se deslocou até a recepção para pedir um atestado de comparecimento no local. Quando chegaram ao balcão, o médico estaria lá, e teria dito que o documento apresentado pela paciente era falso e que não entregaria o resultado do exame.

A Polícia Militar foi acionada, mas ao chegar no local o médico não estava mais presente e as funcionárias da clínica negaram ter presenciado o ocorrido. O caso foi registrado na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Cepol como injúria qualificada.

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