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Cotidiano

Empregadores miram estrangeiros para preencher 25 mil vagas em MS; entenda

Falta de qualificação, desvalorização profissional e a localização das vagas ofertadas contribuem para o déficit de trabalhadores
Lethycia Anjos -
Indústria civil de Campo Grande (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

A escassez de mão de obra em tem levado o setor produtivo a buscar soluções alternativas para preencher as vagas disponíveis em diversas áreas da economia. Estima-se que o Estado tenha atualmente mais de 25 mil postos de trabalho ociosos, principalmente no setor industrial.

Diante desse cenário, acordo de cooperação foi firmado entre o poder público, MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul) e entidades privadas para capacitar e regularizar cidadãos paraguaios interessados em trabalhar no Estado. A medida, contudo, gerou controvérsias entre a população sul-mato-grossense.

Segundo dados da Funtrab (Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul), o Estado encerrou 2024 com 24.280 vagas de trabalho não preenchidas. A indústria foi o setor mais impactado, registrando um déficit de 5.858 postos de trabalho.

Embora a escassez de mão de obra seja mais evidente na indústria, o superintendente regional do MTE em MS, Alexandre Morais Cantero, explica que diversos setores também enfrentam dificuldades para preencher suas vagas.

“Na região central do Estado, o setor florestal, impulsionado pela expansão da silvicultura e do processamento de celulose, demanda trabalhadores, assim como os frigoríficos, usinas sucroalcooleiras, produção de grãos, bioenergia, construção civil, mineração, varejo, serviços, logística e transporte”, detalha.

Dados da Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) indicam que, apenas no setor florestal, a projeção é de que sejam gerados cerca de 90 mil empregos até 2032.

Por que há vagas, mas falta mão de obra?

O problema, segundo Cantero, é multifatorial. O Estado vive um momento de pleno emprego, o que significa que há mais vagas do que trabalhadores disponíveis. Além disso, a falta de qualificação da mão de obra local dificulta a absorção desses profissionais pelo mercado.

Outro fator relevante é a localização das oportunidades. Muitas indústrias estão instaladas no interior, em cidades com baixa densidade demográfica e pouca infraestrutura de moradia, educação e lazer, reduzindo o interesse de trabalhadores locais em se mudar para essas regiões.

A remuneração também influencia. Setores com salários mais baixos ou jornadas longas têm maior dificuldade para atrair trabalhadores. Além disso, o sistema de benefícios sociais acaba desestimulando parte da população a buscar empregos formais, já que a contratação pode resultar na perda desses auxílios.

(Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

“Em alguns setores, os salários não são atrativos, e muitos trabalhadores preferem permanecer na informalidade. Isso dificulta a contratação de mão de obra para funções formais, especialmente nas áreas que exigem maior carga horária”, explica Cantero.

Crescimentos da informalidade

Vale destacar que, em Mato Grosso do Sul, 13 mil pessoas entraram na informalidade entre o terceiro e o quarto trimestre de 2024, conforme levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No terceiro trimestre do ano passado, a taxa de informalidade chegou a 32,1% da população ocupada no Estado, ou seja, cerca de 465 mil pessoas trabalhavam, mas sem carteira assinada ou CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica). Já de outubro a dezembro de 2024, o número subiu para 478 mil pessoas, o que elevou a taxa de informalidade para 33,7%. Apesar disso, MS encerrou o ano com a 6ª menor taxa de informalidade do país.

Acordo busca atrair paraguaios e formalizar trabalhadores

Para enfrentar esses desafios, Fiems, Senai, MTE e a Câmara de Comércio estabeleceram uma parceria que visa tanto trazer trabalhadores paraguaios para Mato Grosso do Sul quanto regularizar aqueles que já atuam no Estado.

Os cidadãos paraguaios interessados poderão emitir documentos como CPF, carteira de trabalho e visto de trabalho diretamente na Superintendência Regional do MTE em . Além disso, terão acesso a cursos de português em universidades públicas e microcertificações profissionais oferecidas pelo Senai.

A Fiems ficará responsável por sensibilizar o setor produtivo sobre os benefícios da contratação de paraguaios, enquanto a Câmara de Comércio atuará como intermediadora entre empresas e trabalhadores.

“Nosso objetivo é estabelecer parcerias para trazer profissionais interessados em atuar na indústria sul-mato-grossense, além de legalizar aqueles que já trabalham aqui sem a devida documentação”, destaca o presidente da Fiems, Sérgio Longen.

“Mão de obra estrangeira não tira emprego de brasileiros”

A decisão de capacitar e contratar trabalhadores estrangeiros gerou polêmica entre a população. No entanto, Cantero assegura que a chegada de paraguaios não representa uma ameaça ao emprego dos sul-mato-grossenses.

“Mesmo que toda a população em idade ativa fosse empregada nas vagas atualmente disponíveis, ainda assim haveria um déficit de trabalhadores. Hoje, essa lacuna está parcialmente preenchida por migrantes internacionais”, explica.

Déficit de motoristas e a contratação de venezuelanos

Consórcio Guaicurus teve receita de R$ 1,2 bilhão somente nos primeiros anos de concessão (Arquivo, Jornal Midiamax)

A falta de trabalhadores qualificados também atinge o setor de transporte. Em 2024, o Consórcio Guaicurus anunciou a criação de uma base em Roraima para contratar motoristas e mecânicos venezuelanos para atuar em Campo Grande.

Segundo o diretor-presidente do Consórcio, Themis de Oliveira, cerca de 80 trabalhadores venezuelanos devem ser contratados, sendo que 35 já estão integrados à equipe. Além disso, mais 35 famílias de imigrantes devem chegar à Capital nos próximos meses.

A medida é polêmica, pois ocorre um ano após o Jornal Midiamax noticiar a saída de diversos motoristas do Consórcio Guaicurus. Na época, muitos relataram jornadas exaustivas e salários pouco atrativos, optando por buscar melhores oportunidades.

Atualmente, o salário oferecido aos motoristas do Consórcio é de R$ 2.749, além de vale-gás a cada dois meses e R$ 250 de ticket alimentação. Mesmo valor previsto para os venezuelanos contratados.

Desde janeiro, o grupo independente Ligados no Transporte cobra a valorização dos profissionais locais, sugerindo investimentos na formação de novos motoristas, com oferta de habilitação categoria D e cursos especializados.

Vulnerabilidade e trabalho escravo

Trabalhadores encontrados em região isolada do Pantanal (PF)

Outro fator a se considerar é que, a formalização desses profissionais ajuda a combater a informalidade e a prevenir problemas como tráfico de pessoas e condições análogas à escravidão.

Imigrantes, especialmente paraguaios e bolivianos, estão entre os mais vulneráveis ao trabalho escravo no Estado. Em 2024, Mato Grosso do Sul registrou o resgate de 105 trabalhadores submetidos a condições degradantes, entre brasileiros e estrangeiros, conforme fiscalizações do MTE. A maioria dos casos ocorreu nos setores agropecuário e da construção civil.

O caso mais recente aconteceu há menos de um mês, quando a Polícia Federal, em operação conjunta com o MTE e o MPT (Ministério Público do Trabalho), resgatou quatro trabalhadores que viviam sob condições degradantes e com restrição de liberdade em uma fazenda no Pantanal sul-mato-grossense.

Ações de capacitação e empregabilidade

Confira as vagas de emprego disponíveis após Carnaval. (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

Para minimizar a escassez de mão de obra, o MTE tem investido em programas de capacitação profissional. Entre as iniciativas está o MS Qualifica, que oferece cursos em diversas áreas, e o Voucher Transportador, que financia a obtenção da carteira de habilitação categoria D para motoristas.

Outro destaque é o Voucher Desenvolvedor, que concede bolsas de estudo para alunos que se destacam no setor de tecnologia, em parceria com empresas locais.

Além disso, a Sala do Imigrante e o Espaço do Saber, da Superintendência do Trabalho, oferecem aulas de português em parceria com a UEMS. As ações também incluem de cursos de microcertificação profissional para estrangeiros.

A Semadesc também firmou parceria com a Funtrab para reforçar a capacitação e a intermediação de mão de obra, facilitando a contratação de trabalhadores para as vagas disponíveis.

Com esse acordo de cooperação, Mato Grosso do Sul busca equilibrar o crescimento do setor produtivo com a inclusão social e a formalização dos trabalhadores. Se bem executada, a iniciativa pode beneficiar tanto as indústrias, que sofrem com a falta de profissionais, quanto os imigrantes que buscam oportunidades no Brasil.

Em 11 de março, a Funtrab anunciou a criação da Sala do Imigrante. A iniciativa visa facilitar a inserção de migrantes no mercado de trabalho e combater a informalidade e a exploração​ ilícita da mão de obra. O espaço, localizado na SRTE (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego) também auxilia na regularização da permanência de migrantes internacionais no Brasil, além de beneficiar o setor produtivo, que enfrenta dificuldades na contratação de profissionais qualificados.

O que dizem as Fundações de Trabalho?

Questionada sobre as vagas ociosas, a Funtrab (Fundação do Trabalho de MS), principal entidade de fomento ao trabalho no Estado, afirmou não estar envolvida na parceria, já que o levantamento que aponta 25 mil vagas ociosas foi realizado pela Fiems. Por isso, não se considera apta a falar sobre o assunto. Já a Funsat (Fundação Social do Trabalho) de Campo Grande não retornou o contato.

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