Em Campo Grande, ‘Clubes do Livro’ mudam hábitos e resistem ao baixo número de leitores

O hábito de leitura tem diminuído ao longo dos anos no Brasil. Em 2024, uma pesquisa divulgada na sexta edição da Retratos da Leitura no Brasil apontou que 53% dos brasileiros não leem livros. Mato Grosso do Sul surge como o segundo estado do Centro-Oeste com menor número de leitores do país, apenas 40%.

Mas, mesmo com mais da metade da população sul-mato-grossense não apresentando esse hábito, ainda existem aqueles que não só amam ler, como também dividir suas experiências de leitura com outras pessoas. São os clubes de leitura.

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“Depois de algum tempo com experiência na mediação de clubes de leitura, percebi que os grupos tendiam a se desfazer depois de alguns meses com leituras fixadas. Pensando em cima disso, decidi criar um grupo aberto, cujas leituras não fossem fixas e cada um trouxesse sua leitura e compartilhasse com os demais. Assim surgiu o Vórtice Literário”, conta.

E o fato de as leituras não serem fixas, ou seja, o participante poder escolher o que vai ler, é um dos motivos para a aposentada Maria Antônia participar do clube. “Várias coisas me motivam. Uma delas é a liberdade individual de escolha da leitura. Cada um lê e apresenta a leitura que lhe é aprazível. Outra é o respeito de todos pela opinião de cada um. A possibilidade de divergir com harmonia”, detalha.

Importância

Para Daniel, ler é algo que deveria fazer parte da vida de todos. “Ler é fundamental, encaro o ato como um exercício. Serve tanto para distrair como para fortalecer a mente, deveria ser parte do cotidiano de todos. A leitura estimula o senso crítico e aumenta o repertório cultural da pessoa”.

Os livros são tão importantes para algumas pessoas que Maria Antônia os têm como uma companhia em sua rotina. “Além da importância, já apregoada da leitura, de aumentar o conhecimento, melhorar o vocabulário e a escrita, conhecer outros lugares, outras pessoas etc., para mim, o livro é uma boa companhia, a qualquer hora, em qualquer lugar. Geralmente carrego um livro. Ao longo do dia, ele cabe nos intervalos das minhas atividades, acompanhado de um café, em algum lugar gostoso”.

Frequentadores contam as delícias do incentivo à leitura existente nos clubes

Com uma média de 10 a 12 membros, o Vórtice Literário realiza reuniões mensalmente. A escritora Tânia Souza participa dele desde a sua criação. “Fui pensando em encontrar outros leitores, conversar sobre livros e, principalmente, falar sobre as emoções que surgem durante as leituras”.

Tânia conta que um dos momentos que mais a marcou foi durante a pandemia, com os encontros virtuais que a ajudaram a enfrentar aquele momento difícil que o mundo passava. “Foi um vínculo que fortaleceu, ajudou a enfrentar o isolamento, compartilhar angústias. Creio que se tornou um encontro com os amigos, cada qual no seu cantinho, trocando ideias, conversando sobre filmes, músicas relacionadas aos livros, até mesmo quem não conseguia terminar a leitura participava pelo sentimento de coletividade”.

Presidente da UBE-MS (União Brasileira de Escritores de MS), Dáfini Lisboa destaca que qualquer pessoa pode montar um clube do livro e afirma a importância disso.

“Qualquer pessoa pode montar o seu, juntar amigos e começar um clube do livro. Os clubes de livros no Estado fazem um trabalho importante na promoção da leitura, destacando aí, também, as obras produzidas em Mato Grosso do Sul. É um estímulo imprescindível para os escritores inseridos nesse território, que desejam e merecem a chance de ser conhecidos, lidos, debatidos, celebrados”, explica.

Clubes de Leitura e pertencimento

Patrícia Silveira está à frente do clube de leitura de uma livraria de Campo Grande, surgido em 2023. A ideia era mostrar que a leitura não precisa ser uma experiência solitária, que pode e deve ser compartilhada.

Com uma média de 40 pessoas, as reuniões são mensais. “Cada encontro é único e muito especial, porque compartilhamos não apenas nossas opiniões literárias, mas também nossas vidas. Tem gente que vai sem nem ter lido o livro, sempre é muito divertido e enriquecedor. E no final temos sorteio de brindes, incluindo livros e tiramos nossa foto oficial”, explica Patrícia.

Patrícia compartilha as informações do clube em seu Instagram literário, e afirma que a leitura pode ser transformadora.

“Participar de um Clube do Livro é desenvolver um sentimento de pertencimento ao compartilhar o amor pela leitura, é a chance de poder dividir algo com pessoas que você se identifica ou com outros que possuem opiniões literárias que você jamais teria pensado a respeito de uma mesma história. Realmente a leitura pode ser transformadora”.

Valor

Dados do 13º Painel de Varejo de Livros no Brasil de 2024 indicam que a média do preço dos livros no país é R$ 50,66. Considerando que o salário mínimo em 2025 é de R$ 1.518,00, a alta no valor dos combustíveis e no setor alimentício, o valor dos livros pode ser um dos fatores que impacta o número de leitores no país.

“É uma pena o livro ser um produto distante do grande público no Brasil, essa é uma realidade que gostaria que fosse diferente, que os livros fossem mais acessíveis para todos e que a cultura de livrarias fosse mais forte, bem como o acesso às bibliotecas públicas”, lamenta Daniel.

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