“Depois de dois anos eu me reencontrei na mesma situação, na mesma trajetória, nos mesmos lugares. Chorando, vivendo as mesmas emoções que eu já tinha vivido”. O relato é da dona de casa Ingrid da Silva Godoi, de 29 anos, que há cinco meses está ‘praticamente’ morando na Santa Casa com o filho mais novo, Saulo, de quatro meses, que está internado enquanto aguarda por uma cirurgia na cabeça.
Ingrid relata que Saulo nasceu com mielomeningocele e hidrocefalia, já precisou passar por 10 cirurgias e só pôde ir para casa conhecer sua família uma única vez, pois precisou voltar às pressas para o hospital, onde está lutando pela vida.
Dois anos antes de Saulo vir ao mundo, Ingrid havia dado à luz a Davi, que nasceu com a mielomeningocele intrauterina, passou por seis cirurgias, perdeu o movimento das pernas e precisa de cuidados especiais.
“Nós precisamos cuidar muito da nossa saúde e do nosso psicológico, pois foram tantos sustos, medos, muitas lágrimas derramadas. E quando eu finalmente consegui me recuperar dos traumas, Deus me surpreendeu com a vinda do Saulo. Não foi fácil eu relembrar tudo o que eu já tinha passado com o Davi, novamente”, expressa Ingrid.
Ingrid mora em Maracaju, onde tem mais dois filhos, de seis e 11 anos, que estão sob os cuidados do pai, com Davi. Ela explica que precisou deixar o trabalho para cuidar dos filhos, e o marido foi afastado pelo INSS, após sofrer um acidente de trabalho. No momento, como o marido precisa cuidar das três crianças na ausência dela, também não consegue trabalhar. A solução foi contar sua história nas redes sociais para conseguir ajuda.
Despesas ultrapassam R$ 5 mil por mês
Tanto Davi, quanto Saulo, precisam fazer o uso de fraldas e bolsa de colostomia e não possuem o movimento das pernas. Os gastos da família, com esses materiais mais a alimentação e outras despesas, ultrapassa a faixa de R$ 5 mil por mês.
Ingrid relata que consegue cestas básicas, pacotes de fraldas e latas de leite com ajuda do Governo, mas acaba não sendo o suficiente, pois cada um chega a usar até dez unidades de fraldas por dia.
“Eles vão usar a fralda praticamente para a vida toda, só um ou dois pacotes não sustentam. E eu não tô recebendo nada, benefício, auxílio, nenhum. Eu já fiz o cadastro de quem cuida, mas não foi aprovado. O LOAS do Davi está em análise já faz tempo, a Bolsa Família também não foi aprovado, então não tô conseguindo receber nada”, comenta Ingrid.
Procurada pela reportagem, a Sead (Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos) informou que a orientação nesse caso é de que Ingrid, ou qualquer candidato a beneficiário, mantenha seus dados sempre atualizados no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) mais próximo da residência, para conseguir ingressar nos programas sociais. “É a partir dessas informações que o Governo do Estado realiza a identificação das famílias que atendem aos critérios dos programas sociais disponíveis”.
A pasta também informou que a rede de assistência social do município pode prestar suporte na orientação sobre os benefícios disponíveis e auxiliar no acompanhamento das demandas já cadastradas. A reportagem entrou em contato com a Assistência Social da Prefeitura de Maracaju, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para manifestação.
Longe da família
Ingrid precisou se mudar temporariamente com Saulo para Campo Grande para que ele pudesse receber o tratamento adequado. No momento, ele aguarda por uma cirurgia na cabeça na Santa Casa. O quadro de saúde do bebê é uma montanha-russa, e oscila entre dias que apresenta melhora e dias que apresenta piora. Segundo a mãe, os médicos informaram que a situação dele é “grave e delicada”.
“Pode ser que ele vá viver sendo dependente de um hospital. E está sendo uma luta, porque eu estou aqui em Campo Grande sozinha com ele, enquanto o restante da minha família está lá em Maracaju”, lamenta Ingrid.
Davi, assim como seus dois filhos mais velhos, estão sob os cuidados do pai em Maracaju. A família sobrevive de doações, pois Ingrid e o marido não conseguem trabalhar por enquanto. Ela relata que está praticamente morando na Santa Casa.

Gravidez de risco
Ingrid relata que após gestar os dois primeiros filhos, fez uma laqueadura, para evitar engravidar novamente. Um ano após o procedimento, a dona de casa acabou engravidando pela terceira vez. A gestação de Davi, no entanto, colocou em risco tanto a vida de Ingrid quanto a do filho.
“Confesso que não foi uma gestação feliz. Fui fazer ultrassom e meu bebê estava com líquido na cabeça e uma má formação nas costas. Fui encaminhada para Campo Grande como gravidez de alto risco e fui fazendo tratamento na Santa Casa”, detalha Ingrid.
Davi nasceu com mielomeningocele e precisou passar por seis cirurgias, além de colocar uma válvula na cabeça, por conta do crescimento desproporcional ao restante do corpo.
Ingrid relembra que passou quatro meses com Davi em Campo Grande, e a criança chegou a ficar um mês inteiro internada na UTI Neonatal, além de precisar tratar diversas infecções que adquiriu ao longo do tratamento. O baque maior veio quando ela foi informada pelos médicos que Davi perderia o movimento das pernas.
Hoje, dois anos após todas as emoções vividas ao lado de Davi no hospital, Ingrid lamenta precisar passar tudo isso novamente, com Saulo. “Eu não sabia que através dessa gravidez, ia trazer tanta mudança na minha vida. Não foi fácil lidar com tudo. Não foi fácil receber essa notícia, saber que eu ia ter um filho que não ia poder andar. E agora com o Saulo, o mesmo problema, com a mesma trajetória, e não tem sido fácil também”.
Doações
Ingrid está precisando de doações de fraldas, leite, bolsa de colostomia ou qualquer valor em dinheiro que possa ajudar a bancar essas e outras despesas relacionadas ao tratamento, alimentação e deslocamento. Quem puder ajudar, basta entrar em contato com ela pelo telefone (67) 99987-6431.
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