Enquanto o debate sobre inclusão e direitos avança, Mato Grosso do Sul contabiliza 29 mil pessoas diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), o que representa 1,1% do total de diagnósticos no Brasil. O dado ganhou ainda mais voz neste sábado (24), durante o Congresso Autismo Sem Fronteira, que reuniu 1,3 mil pessoas em Campo Grande para discutir os desafios e urgências de pessoas com TEA.
As informações integram o relatório “Pessoas com Deficiência e Pessoas Diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista — Resultados Preliminares da Amostra”, divulgado nesta semana pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística).
No Brasil, são 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de TEA. O avanço dos números se deve, principalmente, ao aprimoramento dos critérios diagnósticos e ao maior acesso a profissionais capacitados, o que tem permitido identificar o transtorno de forma mais precisa e em idades cada vez mais precoces.
Em Mato Grosso do Sul, o maior número de diagnósticos está entre crianças de 5 a 9 anos (4.237), seguido pelas faixas de 0 a 4 anos (3.408), 10 a 14 anos (3.146) e 15 a 19 anos (2.273). Entre adultos de 20 a 59 anos, há 12.197 pessoas no espectro. Já os idosos somam 3.547 diagnósticos.
A maioria dos casos abrange homens (17.654), número consideravelmente superior ao de mulheres (11.435), o que reflete uma tendência já observada em estudos clínicos sobre o transtorno.
Apesar do avanço no diagnóstico, os dados evidenciam desigualdades persistentes no acesso a direitos básicos como educação e saúde, realidade debatida neste sábado (24) no Congresso Autismo Sem Fronteira, realizado em Campo Grande.
Congresso debate direitos e políticas públicas para população autista

Com mais de 1.300 participantes e auditório lotado, o evento promovido pela OAB-MS, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Autismo, em parceria com o Instituto de Ensino e Pesquisa em Saúde e Inclusão Social (IEPSIS), reuniu profissionais da saúde, educação, direito, estudantes e famílias atípicas no Ondara Palace.
O espaço proporcionou a troca de experiências, conhecimento e, principalmente, enfrentamento à ausência de políticas públicas efetivas.
Neurologista infantil Dr. Paulo Liberalesso, referência nacional em neuropediatria, foi o principal palestrante. Em sua fala sobre “Entendendo o Autismo”, ele defendeu o protagonismo da pessoa autista e a necessidade urgente de capacitação de profissionais da rede pública.
“Encontros como este são essenciais para fomentar políticas públicas e garantir direitos, especialmente para famílias mais vulneráveis”, afirmou o médico.
Quem atravessou para participar foi a jornalista Katia Kuratone, de Dourados, mãe de um menino de 8 anos diagnosticado com autismo nível 1. Para ela, o conhecimento adquirido é uma ferramenta de autonomia.
“Quanto mais eu souber, melhor posso ajudar meu filho”, disse.
‘Aborto Social’
A força das famílias também foi lembrada por Emília Gama, assistente social e diretora do IEPSIS. Em sua palestra “Aborto Social”, ela denunciou a omissão do Estado no acesso a direitos básicos, como educação e saúde.
“Quando se nega acesso, se retira dignidade. Isso é um aborto social”, declarou.
Para além das palestras, o evento se tornou um espaço de acolhimento. Amanda Bloss, 20 anos, atua como acompanhante terapêutica e estudante de Psicologia e Pedagogia, reforçou a importância da formação continuada e do contato com especialistas.
“É uma honra ouvir o Dr. Paulo. Essa troca nos fortalece como profissionais”, disse.
Na fala de encerramento, o presidente da OAB-MS, Bitto Pereira, destacou o sentimento que uniu o público. Ele enfatiza que “o trabalho com amor transforma”, mencionando a organização liderada pelos advogados Luiz Rene Gonçalves Amaral e Chayene Marques Georges Amaral, pais atípicos.
A tarde ainda conta com apresentações do psicólogo Dr. Rafael Silva. O especialista abordará indicadores de qualidade no atendimento e manejo comportamental. Em seguida, o ex-ministro substituto do TSE, Dr. Joelson Dias, discute o papel da legislação na garantia dos direitos da população autista.
Conforme os organizadores e participantes, a expectativa é que o conhecimento compartilhado durante o congresso reverbere em escolas, clínicas, espaços públicos e redes sociais. Assim, pressionando o poder público a sair do discurso e implementar políticas efetivas, voltadas à inclusão e ao cuidado com pessoas autistas em todas as fases da vida.
Confira imagens do congresso:
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