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Cotidiano

Com 167 casos em 2024, desinformação é obstáculo na prevenção da hanseníase em MS

Embora os casos apresentem uma redução gradual em Mato Grosso do Sul, o Brasil ocupa o 2º lugar no mundo em número de casos de hanseníase
Lethycia Anjos -
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Hanseníase
Hanseníase (Divulgação/SES)

O Brasil ocupa o 2° lugar no mundo em número de casos de hanseníase. Apesar desse cenário, a doença ainda é pouco debatida e segue cercada por estigmas, o que gera desinformação e dificulta o diagnóstico precoce.

Em Mato Grosso do Sul, o número de casos apresentou uma redução gradual ao longo dos últimos dez anos. No entanto, mesmo com essa queda, a recomendação permanece a mesma: manter a vigilância ativa e fortalecer as ações de conscientização e prevenção.

Estigma e exclusão social

Hanseníase
Hanseníase (Divulgação)

Anos atrás, a hanseníase era conhecida como lepra, uma doença infectocontagiosa cercada de preconceitos e estigmas. Conforme o Ministério da Saúde, esse estigma decorre desde o caráter crônico da doença, à deformidade física causada por ela e ao fato de até pouco tempo ter sido considerada incurável.

“O estigma e a discriminação promovem a exclusão social e, ao mesmo tempo, podem produzir consequências negativas que resultam em interações sociais desconfortáveis, limitando o convívio social, sofrimento psíquico e, consequentemente, pode interferir no diagnóstico e adesão ao tratamento da hanseníase”, diz o Ministério.

No Brasil, a hanseníase provocou profundas mudanças sociais. Segundo o portal Drauzio Varella, o medo do contágio levou ao isolamento compulsório de pacientes em instituições chamadas ‘leprosários’, afastando-os da convivência familiar e social.

Assim, a doença se tornou sinônimo de estigma social e o termo ‘leproso’ passou a ser usado como ofensa. Por essa razão, em 1995, o Brasil aboliu, por lei, que o termo lepra fosse usado em documentos oficiais para se referir à doença. No entanto, não há leis para punir práticas discriminatórias contra as pessoas acometidas pela hanseníase.

Em 2022, o juiz da 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro, Fabio Tenenblat, proibiu que o então presidente Jair Bolsonaro usasse a expressão “lepra” e seus derivados para se referir à hanseníase em discursos e declarações públicas.

Cenário epidemiológico em MS

De 2014 a 2024, Mato Grosso do Sul registrou 4.368 casos de hanseníase. O maior pico ocorreu em 2015, quando a SES (Secretaria de Estado de Saúde) contabilizou 911 casos. Desde então, houve uma redução considerável, com exceção de 2019, quando o Estado registrou 635 casos.

Embora Mato Grosso do Sul mantenha uma tendência de queda nos casos de hanseníase, e a transmissão ocorra apenas por meio de contato prolongado com uma pessoa infectada.

Contudo, a situação no estado vizinho, Mato Grosso, acende um alerta devido à alta significativa de casos. Dados do painel do Ministério da Saúde mostram que, entre 2012 e 2023, MT confirmou 40.856 casos de hanseníase, enquanto Mato Grosso do Sul registrou 6.166 casos no mesmo período.

Já em 2023, último ano da série histórica, MT contabilizou 4.648 casos, um número muito superior ao registrado em MS no mesmo ano, que somou 268 casos, número menor que o registrado pela SES (349).

Dados Hanseníase
Dados Hanseníase (Infografia Lethycia Anjos, Midiamax)

Em 2024, o Estado atingiu o menor índice da série histórica, com 167 notificações, o que representa uma queda de 81% em relação ao pico de 2015. Nos anos anteriores, entre 2020 e 2023, a média anual de casos ficou em 300.

Na Capital, Campo Grande, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) registrou 91 casos em 2024, uma redução de 9% em relação a 2023, quando o número de infecções pela doença chegou a 100.


(Infografia – Lethycia Anjos, Midiamax)

No panorama nacional, estatísticas recentes apontam mais de 200 mil novos casos de hanseníase no mundo, sendo quase 22.827 deles registrados no Brasil, atrás apenas da Índia.

O que é a hanseníase?

hanseníase
Diagnóstico de hanseníase (Divulgação)

Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, a hanseníase é conhecida principalmente por provocar manchas na pele, mas há outros sintomas de alerta:

  • Manchas na pele com alteração de sensibilidade (quente/frio/tato);
  • Formigamentos, choques e câimbras nos braços e pernas;
  • Diminuição da força muscular em mãos, pés e face;
  • Dormência ou dor nos nervos, podendo afetar órgãos internos.

No geral, o período de incubação da doença varia de dois a sete anos, embora existam registros de casos de incubação inferior a dois anos ou superior a dez.

Em janeiro, Mato Grosso do Sul aderiu à campanha nacional “Janeiro Roxo”, com o intuito de conscientizar a população sobre a hanseníase, combater o estigma e a discriminação associados à doença e promover a disseminação de informações.

Instituída pelo Ministério da Saúde em 2016, a campanha adota o mês de janeiro e a cor roxa como símbolos para reforçar a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento adequado, ampliando o alcance das ações educativas em todo o país.

Hanseníase tem cura!

No Brasil, o diagnóstico precoce e o tratamento, fornecido gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde), garantem a cura da doença. Por isso, Veruska Lahdo, superintendente de Vigilância em Saúde da Sesau, destaca a necessidade de combater o desconhecimento e o estigma em torno da hanseníase.

“Muitas pessoas ainda têm receio ou desconhecem que a hanseníase tem cura. Identificar os sintomas e procurar ajuda quanto antes é um ato de cuidado consigo mesmo e com os outros. O tratamento é gratuito e interrompe a transmissão rapidamente”, explica.

A transmissão ocorre apenas por contato prolongado com pessoas que ainda não estão em tratamento. Por isso, é fundamental que familiares e pessoas próximas aos pacientes realizarem exames para garantir o controle da doença.

“Exames em contatos são fundamentais para evitar novos casos. Precisamos ampliar essa conscientização, em 2024 avaliamos 69 contatos”, reforça Veruska.

Vale destacar que a hanseníase não se transmite por abraços, compartilhamento de pratos, talheres, roupas de cama ou outros objetos. Entretanto, pessoas que apresentam alta carga de bacilos – classificadas como multibacilares (MB) – podem transmitir a infecção até o início do tratamento específico.

Tratamento

Análise de casos (Reprodução, SES)

O tratamento da hanseníase está disponível em todas as unidades de saúde da Capital. Caso o paciente apresente manchas na pele sem explicação e perda de sensibilidade na região afetada, deve procurar a unidade de referência de sua região para realização de testes de sensibilidade.

Para a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a doença, ainda envolta por mitos e estigmas, está fortemente ligada a condições econômicas, sociais e ambientais desfavoráveis. Além disso, a alta endemicidade da doença dificulta a interrupção da cadeia de transmissão.

A confirmação da doença ocorre de forma clínica, e o tratamento medicamentoso inicia imediatamente após a confirmação da suspeita. Conforme a Sesau, a duração do tratamento varia de seis a doze meses. Em casos de reincidência, resistência aos medicamentos ou complicações, a SES encaminha o paciente para o Hospital São Julião.

Onde buscar ajuda?

Unidade de saúde
Unidade de saúde (Henrique Arakaki/Midiamax)

Se perceber os sintomas da hanseníase, é importante procurar atendimento médico quanto antes.

Unidades de Saúde da Família (USFs)

  • Campo Grande possui 74 USFs espalhadas pela cidade, capacitadas para atender, realizar exames de sensibilidade e, se necessário, iniciar o tratamento. O diagnóstico precoce e a orientação médica são fundamentais para evitar complicações e garantir a cura.

Por meio do endereço https://campograndems pacientes podem localizar a unidade de saúde mais próxima da sua casa.

Hospital São Julião

  • Nos casos mais graves, que envolvem múltiplas lesões (multibacilares) ou comprometimento de nervos periféricos, o acompanhamento ocorre no Hospital São Julião, referência no tratamento especializado da hanseníase. O hospital atende pacientes com casos complexos ou reincidências, mediante regulação.

Em MS, o Programa Estadual de Controle da Hanseníase, desenvolvido pela SES, realiza a capacitação das equipes de saúde municipais para identificar, diagnosticar e tratar a hanseníase. Além disso, incentiva atividades comunitárias para eliminar o estigma e fortalecer os direitos das pessoas acometidas pela doença.

“A detecção precoce e o tratamento adequado são fundamentais para interromper a transmissão e evitar as sequelas da hanseníase”, ressalta a gerente técnica do Programa Estadual de Hanseníase, Laryssa Almeida de Brito Ribeiro.

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