Classificada com alto risco, moradores temem rompimento de barragem no Parque Atlântico

Embora a classificação não indique rompimento iminente, moradores expressam preocupação pelo excesso de chuvas

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Região do Atlântico (Madu Livramento, Midiamax)

O rompimento da barragem do Nasa Park, em Jaraguari, em agosto de 2024, expôs a fragilidade das políticas de preservação ambiental em Mato Grosso do Sul. Considerado uma tragédia anunciada, o desastre ocorreu após inúmeros sinais de comprometimento da estrutura. Mas a situação não é um caso isolado, a poucos quilômetros de Campo Grande, moradores da área rural do Parque Atlântico vivem sob o temor de que um episódio semelhante possa se repetir.

A preocupação recai sobre a barragem do Córrego Pontal, próxima ao antigo Balneário Atlântico. Em agosto do ano passado, o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) classificou a estrutura como de alto risco. A barragem do Atlântico está sob responsabilidade da Incorporadora Atlântico Ltda., mas os moradores relatam falta de fiscalização e o risco crescente diante do excesso de chuvas.

Embora apresente um alto risco, a classificação não aponta um rompimento iminente. Conforme o Imasul, essa classificação é feita em função do potencial de perdas de vidas humanas e dos impactos sociais, econômicos e ambientais em caso de uma possível ruptura da barragem. Contudo, a seu critério ou por pedido do empreendedor, o Imasul poderá rever a classificação da barragem, com a devida justificativa.

Há anos, Alessandra Galhardo mora na região de chácaras que abriga cerca de 200 famílias, para ela a incerteza é constante.

“A estrada passa por cima da barragem, e com esse excesso de chuva há o risco de rompimento. Isso vai causar uma tragédia. O Parque Atlântico começa logo após a lagoa e só temos essa via de entrada e saída”, alerta.

Moradores ilhados após chuva intensa

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Vias intransitáveis após a chuva (Fala Povo Midiamax)

Na manhã de ontem (5), as fortes chuvas que atingiram Campo Grande deixaram moradores da área rural próxima ao Balneário Atlântico isolados. Até mesmo uma viatura da Polícia Militar teve dificuldades para atravessar a lama que encobriu a Rua Sereia.

No local, não há transporte público nem coleta seletiva. Para chegar a Campo Grande, os moradores precisam se deslocar até as margens da BR-262. Diante dessa situação, muitos ficam impossibilitados de sair de casa, enquanto aqueles que se arriscam acabam presos em vias alagadas.

“Se está chovendo, vira um rio com correnteza forte; quando para, há crateras e poças profundas. Hoje, trabalhadores não conseguiram sair para o serviço, só quem tem carro 4×4. Se alguém passar mal, uma ambulância não consegue chegar aqui para socorrer”, relata Alessandra.

O morador Willian Claro explica que a região, próxima ao Autódromo de Campo Grande e ao Eco Park, fica distante da área urbana da cidade. “Ninguém pode retornar para casa agora, pois várias pessoas ficaram presas na estrada”, lamenta.

Protesto

Além do risco de rompimento da barragem, as fortes chuvas têm agravado as condições das estradas, abrindo erosões e dificultando ainda mais o acesso à região do Atlântico. Na tarde desta quarta-feira, os moradores interditaram a BR-262 para protestar contra o abandono e exigir melhorias na infraestrutura da região.

Uma das manifestantes, que preferiu não se identificar, relatou o impacto da situação no dia a dia da população.

“Nosso maior problema é a estrada. Temos moradores que trabalham na cidade, crianças que precisam ir à escola, idosos e pessoas com problemas de saúde. Aqui nem o entregador de farmácia consegue passar. Nossa via está interditada há cerca de quatro dias devido às chuvas. O pessoal tenta ajeitar com trator, mas agora está realmente bloqueada.”

Protesto na rodovia (Madu Livramento, Midiamax)

Leila Moraes, empresária de 53 anos, conta que a precariedade das estradas é um problema antigo e que se agravou com o crescimento populacional.

“Tenho chácara aqui há 22 anos e, conforme a população aumento, a região se transformou em um bairro. O trânsito ficou mais intenso e prejudicou as estradas. Nossa estrada está cheia de buracos, é uma calamidade. O que estamos fazendo hoje é um pedido de socorro, pois estamos ficando ilhados. O ônibus não consegue levar as crianças para a escola. Só queremos cascalho e manutenção nas estradas. Isso custa caro, e temos que tirar dinheiro do próprio bolso para resolver.”

Segurança de Barragens

Represa era irregular e secou após rompimento da barragem (Defesa Civil)

Campo Grande possui 73 barragens registradas no SNISB (Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens), desenvolvido e mantido pela ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).

No que se refere às classificações, o sistema considera duas categorias principais para as barragens. A primeira diz respeito à Categoria de Risco, que determina as características construtivas e de manutenção da barragem. Nessa classificação, há duas barragens que apresentam índice médio, 33 casos não classificados e 38 onde a classificação não se aplicaria.

Já o segundo índice é o de Dano Potencial Associado, que indica qual seria o estrago caso a barragem viesse a se romper. Neste caso, há uma barragem que apresenta índice ‘Alto’, uma ‘Médio’, 38 com índice ‘Baixo’ e 33 casos onde o índice não se aplicaria.

O que diz as autoridades?

Questionado sobre o risco de rompimento, Imasul informou que uma equipe esteve na barragem do Atlântico, mas não identificou problemas.

Já a Prefeitura de Campo Grande, por meio da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) pontuou em nota que realizou uma intervenção na Rua Sereia há duas semanas, após o surgimento de uma cratera na via.

“No momento, a Secretaria aguarda a melhora das condições climáticas para realizar a limpeza da bacia construída no local, que tem a função de reter a água da chuva e evitar que o tráfego seja prejudicado. A Sisep segue monitorando a situação”, conclui.

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