Celulares proibidos e armários nas salas: confira as mudanças na volta às aulas em MS
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O ano letivo começou nesta segunda-feira (17), para mais de 180 mil estudantes da REE (Rede Estadual de Ensino) de Mato Grosso do Sul. Porém, neste ano, a volta às aulas traz mudanças significativas devido à proibição do uso de celulares nas escolas.
Acostumados à presença constante da tecnologia, muitos jovens terão que reaprender a focar nos estudos sem o apoio imediato dos celulares. No Brasil, 80% dos estudantes relataram distrações durante as aulas, bem acima da média de outros países, como Japão (18%) e Coreia do Sul (32%).
Helio Queiroz Daher, secretário de Estado de Educação, explica que o início do ano letivo será um período de adaptação para as escolas. Segundo ele, desde a implementação da lei os professores receberam orientações sobre a aplicação da nova norma.
“A Lei Federal 15.100, que determinou a restrição do uso do celular nas escolas, nos trouxe um novo desafio. Contudo, era algo esperado por nós e acreditamos na necessidade do uso controlado do celular”.
Segundo o titular da SES, entre os fatores que contribuíram para a proibição, estão estudos que comprovam os malefícios do uso contínuo dos celulares. “Tira muito a atenção do estudante em relação ao professor, além de atrapalhar a socialização. Muitas vezes, o aluno deixa de interagir com os colegas para ficar preso na ‘bolha’ do celular”, ressalta.
Desafios e adaptação
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Embora a medida tenha o objetivo de incentivar a concentração e o desenvolvimento social, especialistas alertam para os desafios dessa adaptação, especialmente no início. Psicopedagoga e mestre em neurociência, Gláucia Benini destaca que a restrição pode gerar um aumento na ansiedade entre crianças e adolescentes.
“Esse tempo imposto sem o celular pode trazer a sensação de separação de algo que, para eles, é quase uma extensão do próprio corpo. Isso pode levar à dificuldade de concentração e até à falta de foco nos estudos”, explica a especialista.
Pensando nisso, as escolas passaram por uma preparação específica para lidar com eventuais resistências, especialmente entre os alunos mais apegados aos dispositivos.
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“Desde a semana passada, as unidades escolares têm recebido orientações. Esse início de ano é uma fase de adaptação, mas acredito que as escolas vão trabalhar com tranquilidade para garantir, de fato, a restrição do uso”, pontuou.
Mesmo vista com bons olhos, a restrição dos celulares também levantou dúvidas sobre a segurança dos estudantes em caso de emergência. Nesse contexto, Daher reiterou que as famílias terão alternativas para entrar em contato com os filhos em emergências e que também haverá a possibilidade de uso para fins pedagógicos.
“Caso precisem falar com o estudante, os pais devem ligar diretamente para a escola. Entendemos que o celular é importante para a segurança das famílias, mas o acesso agora será mediado pela unidade escolar, para garantir que os alunos estejam focados na aprendizagem”, explicou.
Armários incentivam estudantes
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Na escola de tempo integral Maestro Frederico Liebermann, localizada no bairro Monte Castelo, uma das novidades deste ano é a implementação de armários individuais para os alunos. Os compartimentos permitem que os estudantes guardem não apenas celulares, mas também itens pessoais e materiais escolares, facilitando a organização.
Ana Elise, diretora da escola, explica que a mudança gerou animação nos estudantes e cada um recebeu uma chave para acessar seu armário.
“Eles podem guardar seus materiais escolares e itens pessoais, incluindo celulares. Como a maioria dos alunos passa o dia inteiro na escola, eles trazem coisas como escova de dente, sabonete e toalhinha. O próprio material pedagógico, como livros didáticos, também fica armazenado nos armários, evitando que precisem levar tudo para casa,” detalha.
Por ser uma escola de tempo integral, os alunos têm uma carga de oito aulas diárias, o que implica em um volume significativo de materiais. Assim, os armários ajudam a aliviar o peso que seria carregado de casa para a escola e vice-versa. Além disso, os armários ficam dentro das salas de aula.
“Desde o ano passado, cada sala já conta com dois armários destinados ao uso dos alunos. Isso facilita o acesso, pois eles não precisam sair da sala para buscar seus materiais. Outras escolas também receberam armários e o objetivo é oferecer um espaço seguro e organizado para os estudantes armazenarem seus pertences.”
Proibição dos celulares
Sancionada pelo presidente Lula em 15 de janeiro de 2025, a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas abrange todas as turmas da educação básica, incluindo educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Entretanto, a nova legislação permite que os estudantes usem os aparelhos, desde que o uso seja restrito a situações excepcionais, como emergências ou necessidades relacionadas à saúde.
A medida também autoriza a utilização de celulares para fins pedagógicos ou didáticos, conforme a orientação do professor, e em situações de inclusão e acessibilidade para estudantes com deficiência ou condições de saúde específicas.
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O projeto de lei foi justificado por parlamentares com base nos impactos negativos do uso excessivo de smartphones. De acordo com o relatório do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2022, alunos que passaram mais de cinco horas diárias conectados apresentaram uma queda média de 49 pontos em matemática, comparados aos estudantes que utilizavam os dispositivos por até uma hora por dia.
Em Mato Grosso do Sul, o Regimento Escolar das escolas estaduais já veda o uso de celulares em sala de aula, com exceção das situações previstas na lei. Em janeiro, o governador Eduardo Riedel (PSDB) pontuou a diferença das ações de tecnologia.
“A gente não pode confundir aprendizado, ensino, ambiente digital com distração. Troca de mensagens, joguinhos, não é aprendizado”.
Como se adaptar a volta às aulas?
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Para que essa adaptação ocorra da maneira mais tranquila, Gláucia Benini orienta que os pais e responsáveis estabeleçam limites para o uso da tecnologia, criando rotinas equilibradas que incluam tanto o tempo de tela quanto atividades físicas e interações sociais para estimular a produtividade.
“É importante que a criança tenha tempo para brincar ao ar livre, praticar atividades físicas e até desenvolver habilidades manuais, como a caligrafia, ultimamente as crianças querem só digitar. O excesso de tempo em frente às telas não apenas prejudica a coordenação motora, mas também impacta a fixação do conteúdo na memória, dificultando o aprendizado”.
O tempo de exposição a telas varia conforme a idade. Para crianças de até dois anos, a orientação é não ter contato com telas, pois o cérebro ainda está em fase de formação. Entre 2 e 5 anos, o limite é de uma hora de tela por dia; de 5 a 10 anos, o máximo é duas horas diárias; e, para adolescentes de 11 a 17 anos, o tempo recomendado pode chegar a três horas por dia.
“É essencial que os pais monitorem o ambiente virtual dos filhos, já que, além de questões de saúde, a exposição a conteúdos inadequados, como pedofilia, automutilação ou até mesmo suicídio. Mas o controle deve ir além das telas, os pais precisam estar presentes na vida dos filhos, criando oportunidades para interações reais”.
Rede estadual cresceu 7% em 2025
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A Rede Estadual de MS inicia o ano com 350 escolas, 30 mil funcionários e mais de 180 mil alunos matriculados, o que representa um aumento de 7% em relação ao mesmo período do ano passado. Contudo, o secretário destaca que esse número deve crescer ainda mais, chegando a 190 mil estudantes, com a regularização das matrículas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) que tradicionalmente ocorre um pouco mais tarde.
“Neste início de ano, entregaremos 50 escolas reformadas e duas novas unidades, em Ribas do Rio Pardo e Ponta Porã. Além disso, estamos em fase de construção de uma terceira escola indígena em Dois Irmãos do Buriti, embora essa ainda deva levar um pouco mais de tempo para ser finalizada. Também temos a tão aguardada nova escola de ensino médio no bairro Noroeste, em Campo Grande, que será entregue até o meio do ano, atendendo a uma grande expectativa da população da região”.
Novidades para 2025
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Em 2025, a SED também investiu em novidades, tanto no âmbito pedagógico quanto tecnológico. Um dos destaques é o lançamento de um programa de inglês para todos os estudantes do ensino médio, que promete ampliar as oportunidades de aprendizado. Além disso, haverá a implementação de uma rede de fibra óptica nas escolas destinada à melhoria dos laboratórios digitais.
“Hoje, por exemplo, entregamos as luzes digitais em uma das escolas, juntamente com equipamentos como Chromebooks e computadores. Esse movimento faz parte de uma ampla modernização do parque tecnológico, abrangendo tanto os laboratórios pedagógicos quanto os administrativos, como as secretarias escolares, que também terão seus computadores antigos substituídos”.
O objetivo é claro: transformar as escolas estaduais em ambientes modernos, equipados e prontos para atender às demandas do presente e do futuro. A sociedade pode esperar uma rede estadual cada vez mais preparada e tecnológica, capaz de oferecer educação de qualidade e alinhada às necessidades atuais.
MEC lança guias sobre uso de celulares
Na última semana, o Ministério da Educação lançou dois guias sobre o uso consciente de celulares nas escolas. Um direcionado às instituições de ensino de todo o país e outro voltado às redes de educação. As publicações incentivam o diálogo entre profissionais da educação e a adoção de estratégias para integrar celulares e tablets ao processo de aprendizagem de forma pedagógica e equilibrada.
Os novos materiais foram publicados na plataforma MEC RED de recursos educacionais digitais. O primeiro guia chamado “Conscientização para o uso de celulares na escola: por que precisamos falar sobre isso?”, relata estudos que apontam que a simples presença do celular próximo ao estudante pode impactar negativamente a aprendizagem e o desenvolvimento de crianças e adolescentes e causar transtornos mentais e dependência.
“Na escola, o uso prolongado de celular diminui as oportunidades de interação social entre os estudantes, prejudicando o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais”, diz o guia. Além de considerar que crianças e adolescentes podem ficar mais expostos a conteúdos inadequados e situações de risco.
O segundo guia – voltado às redes de ensino de todo o país – traz exemplos de escolas públicas e particulares brasileiras e de outros países que restringiram o uso de celulares nas dependências das unidades de ensino, incluindo os momentos do recreio e de intervalos entre as aulas.
O material digital ainda explica que, com planejamento pedagógico, de forma intencional, o celular pode servir como uma ferramenta relevante para ampliar o acesso à educação e enriquecer as práticas de ensino, especialmente em contextos de desigualdade.
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