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Cotidiano

Após denúncia de Vanessa horas antes de morrer, mulheres reclamam da Deam nas redes sociais

Vítimas têm usado as redes sociais para expressar revolta contra a Casa da Mulher Brasileira
Jennifer Ribeiro, Thalya Godoy, Letícia Marquine -
Relatos feitos por vítimas nas redes sociais (Montagem, Rede Social)

Após áudios gravados pela jornalista Vanessa Ricarte virem à tona, escancarando descaso e negligência no atendimento prestado pela (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de Campo Grande, diversas mulheres utilizaram suas redes sociais para também relatar episódios em que foram vítimas de violência institucional na unidade.

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Os relatos são angustiantes e carregam as dores de vítimas de um crime cruel que, ao invés de encontrarem conforto e atendimento humanizado, foram tratadas friamente e até culpabilizadas pela violência sofrida.

Separamos alguns depoimentos que mostram falhas graves no serviço oferecido na Casa da Mulher Brasileira. Os relatos são sensíveis e podem desencadear gatilhos. Por isso, pedimos: leia a reportagem com cautela.

Vítimas culpabilizadas

Em depoimento nas redes sociais, uma mulher compartilhou que quando esteve na Deam foi questionada por um policial “se realmente aquilo [boletim de ocorrência] era preciso”, já que a ficha do agressor era limpa e ela, a vítima, iria sujá-la. O homem nunca foi intimado.

“Desde a primeira reportagem que vi da Vanessa, senti que o caso dela viria para mudar essa realidade nojenta e machista que vivemos. Infelizmente perdemos uma grande mulher, porém, o que nos traz a esperança é saber que sua morte não foi em vão. Por Deus e a orientação que ela tinha, desmascarou não só a polícia, como toda a sociedade que julga e sempre diz que, se quiser, ‘é só largar’, é ‘só denunciar’. A mulher, até depois de morta, se passaria como culpada. É triste e lamentável”, desabafa.

Outro relato traz uma experiência muito similar. Neste caso, o escrivão, sem nenhuma empatia, teria insinuado que a vítima deveria ter feito ou escondido algo do agressor, para ele ter “chegado a esse ponto”. Ela continua seu depoimento afirmando que após registrar o boletim de ocorrência por agressão, sentou em uma cadeira na recepção para beber água e aguardar um carro de aplicativo. Neste momento uma funcionária se aproximou e informou que ela não poderia aguardar ali.

“Olhei para ela com meus olhos cheios de lágrimas e falei que só estava tomando água para me acalmar. Ela falou que eu deveria esperar lá fora. Totalmente despreparada. Me arrependi de ter ido! Os policiais que me levaram [para a Casa da Mulher] disseram que lá iam me amparar, que teria a GCM para me levar para casa. Antes de pedir Uber, perguntei se podiam me levar e disseram em voz de deboche: ‘como vamos carregar todas as mulheres que aparecem aqui?'”, conta.

Este último, traz uma reflexão preocupante. Com tantos relatos sobre o despreparo, desumanização e descaso nos atendimentos, muitas mulheres podem não se sentir seguras em ir denunciar seu agressor. No entanto, a denúncia se faz necessária. Se você é uma vítima e vive em um lar opressor, busque ajuda!

Atendimentos desumanizados

Outra mulher conta que já registrou 32 boletins de ocorrência na Deam e quando precisou ir até a Casa da Mulher Brasileira foi tratada com desdém.

“Vivi um terrou na minha vida e eles simplesmente não fizeram nada. Na época, a medida protetiva demorava três dias, mas também não adiantava nada, porque só levavam ele se fosse pego em flagrante”, lamenta.

Um 4º depoimento traz ainda a falha recorrente no sistema Sigo, utilizado para registro de boletim de ocorrência.

“Quando descobri, peguei ela e fui até a Casa da Mulher acompanhada de um irmão e ouvi que o sistema estava fora do ar. Pedi para que o atendente me auxiliasse, mas ele, sabendo dos diversos boletins contra o agressor, disse para minha irmã retornar para a casa dela e terminar amigavelmente com ele”, afirma. A mulher conclui o relato dizendo que o agressor de sua irmã permanece solto.

Os relatos são inúmeros e a cada desdobramento, um novo depoimento surge. Este último relata o caso de um homem que foi acompanhar sua mãe até a Deam, após a ser agredida por um de seus filhos.

“A delegada falou que se ela denunciasse e fizesse a medida protetiva, depois não poderia voltar atrás, e que ele [agressor] era filho dela e blá blá blá”, expõe.

Quando o homem tentou intervir, a delegada teria se irritado, dizendo que ele estava incentivando a própria mãe a pedir uma medida protetiva contra um filho. Eles saíram de lá sem boletim de ocorrência e sem medida protetiva.

Negligência contra crianças

Além de atendimento à mulher vítima de violência, a Casa da Mulher Brasileira também recebe crianças e adolescentes neste mesmo contexto de vulnerabilidade. Uma mulher, que não será identificada, entrou em contato com o Midiamax para compartilhar um descaso vivido por ela e suas duas filhas menores de idade.

Ela conta que em 2023, um homem, que era conhecido da família por morar no mesmo bairro, entrou na escola das meninas com presentes, se passando por pai delas. Assustadas, as adolescentes começaram a negar o que ele falava. A mãe buscou a DEAM, a escola, mas nada foi feito. Nem intimação ocorreu

“E se ele tivesse esfaqueado minha filha dentro da escola? Ou tivesse matado? Eu teria ido pra mídia! Só que como ele não fez nada, debocharam ainda da minha cara na delegacia”, lamenta.

A mulher prossegue, dizendo que o acusado acessou o Facebook do pai das meninas e descobriu que elas haviam feito aniversário naquela semana. Entre os presentes, estavam caixas de chocolate.

“Deixei tudo na delegacia, não sei se estavam batizados. Como ninguém fez nada, fui na casa ele, falei com a esposa dele, e ela falou que ele tinha problema com álcool e se envolvia com outras mulheres. Ela estava em processo de separação, mas também não nos ajudou. Na época elas estavam com 17 anos”, afirma.

Onde tentar ajuda em MS

Em Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira está localizada na Rua Brasília, s/n, no Imá, 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana.

Além da DEAM, funcionam na Casa da Mulher Brasileira a ; o Ministério Público; a Vara Judicial de Medidas Protetivas; atendimento social e psicológico; alojamento; espaço de cuidado das crianças – brinquedoteca; Patrulha Maria da Penha; e Guarda Municipal. É possível ligar para 153.

Existem ainda dois números para contato: 180, que garante o anonimato de quem liga, e o 190. Importante lembrar que a Central de Atendimento à Mulher – 180, é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres em todo o Brasil, mas não serve para emergências.

As ligações para o número 180 podem ser feitas por telefone móvel ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive durante os finais de semana e feriados, já que a violência contra a mulher é um problema sério no Brasil.

Já no Promuse, o número de telefone para ligações e mensagens via WhatsApp é o (67) 99180-0542.

Confira a localização das DAMs, no interior, clicando aqui. Elas estão localizadas nos municípios de Aquidauana, Bataguassu, Corumbá, Coxim, Dourados, , Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.

Quando a Polícia Civil atua com deszelo, má vontade ou comete erros, é possível denunciar diretamente na Corregedoria da Polícia Civil de MS pelo telefone: (67) 3314-1896 ou no GACEP (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), do MPMS, pelos telefones (67) 3316-2836, (67) 3316-2837 e (67) 9321-3931.

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