Acadêmicos da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) organizaram um abaixo-assinado pedindo pela expulsão do professor de Biologia condenado por estuprar uma aluna durante uma festa de república. Depois da condenação, outros relatos de acadêmicas vieram à tona.
A lista para assinatura está sendo divulgada em salas de aulas e laboratórios da universidade. Uma mobilização foi marcada para esta sexta-feira (14) na UFMS, contra a permanência do professor no quadro docente, e também contra assédios cometidos por professores contra alunas.
O professor condenado foi afastado pela reitoria na quarta-feira (13), depois de 9 anos, que a universidade ‘enterrou’ a denúncia feita pela acadêmica, na época. Após a condenação do professor de biologia por estuprar a aluna em uma festa de república, outras mulheres tomaram coragem para relatar casos de assédio durante a vida acadêmica na universidade.
Outras denúncias
Uma ex-acadêmica, que terá o nome preservado, relatou em conversa com o Jornal Midiamax os anos de horror que passou com o assédio sexual de seu professor. Na época, a jovem tinha 20 anos e era bolsista em um projeto de extensão vinculado à universidade.
Para o Midiamax ela contou que o professor era o responsável pelo projeto e respeitado dentro da UFMS. Ainda segundo a ex-acadêmica, o professor era conhecido pelo ‘jeito carinhoso com as alunas’. Ele, segundo a vítima, tinha o costume de abraçar de forma demorada as alunas.
“Ele abusava de sua posição de autoridade para criar situações de constrangimento e intimidade inadequada com as alunas. Vivi muitas dessas situações ao longo desse período”, disse a ex-acadêmica. Em uma das ocasiões, o autor chegou a falar dos seios da mulher.
Conforme o relato da ex-acadêmica, o professor sugeria que as alunas usassem saias e vestidos quando fossem até sua sala, sendo que em várias ocasiões, mencionava banhos de cachoeira, insinuando que seria “mais divertido” se todos tomassem banho sem roupa. O professor ainda tinha como hábito tocar as pernas das alunas durante conversas.
Ela disse que quando comentava sobre o comportamento do professor com outros alunos sempre ouvia que ‘era o jeitinho dele’. Depois de meses sendo assediada pelo professor, ela tomou coragem de confrontá-lo, mas ele reagiu mal e parou de orientá-la.
#meuprofessorassediador
Em 2017, uma hashtag começou a ganhar força nas redes sociais: #meuprofessorassediador. Muitos estudantes usaram o espaço para relatar situações de assédio vividas dentro da UFMS. Nisto, ela publicou seu relato e recebeu vários comentários de alunas que tinham passado pelo mesmo com o mesmo professor.
Com isto, a ex-acadêmica resolveu fazer a denúncia na ouvidoria e uma reunião foi marcada. Mas para a sua surpresa foi orientada a deixar de lado, já que o professor iria se aposentar logo mais.
Denúncia ‘enterrada’ pela UFMS
Mesmo com a denúncia protocolada, a UFMS resolveu por não abrir um PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar). “Esse posicionamento me trouxe uma sensação de impunidade e descaso. Mesmo com evidências anexadas à denúncia, a universidade escolheu não agir de forma justa”, disse a ex-acadêmica.
Na época, ela foi orientada a procurar ajuda psicológica. “O único suporte que me foi oferecido foi a sugestão de procurar o serviço de psicologia da instituição. No entanto, o profissional disponível era um homem, o que me deixou desconfortável, pois eu precisava falar sobre uma experiência de assédio”, relatou.
“O que mais me revolta é perceber como as instituições acadêmicas, que deveriam ser espaços de aprendizado e um lugar de segurança para nós, muitas vezes protegem seus professores em detrimento das alunas”, finalizou a mulher.
Professor condenado por estupro
O professor de Biologia foi condenado nesta semana a 8 anos de prisão em regime semiaberto, 9 anos após cometer o crime, pela juíza May Melke Amaral Siravegna. O autor também deverá pagar uma indenização de R$ 30 mil por danos morais. A decisão é em primeira instância, ou seja, cabe recurso. Enquanto isso, o professor segue dando aulas na UFMS.
A aluna, na época com 22 anos, estava dormindo em um dos quartos da república quando foi abusada pelo professor.
📍 Onde buscar ajuda em MS
Em Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira está localizada na Rua Brasília, s/n, no Jardim Imá, 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana.
Além da DEAM, funcionam na Casa da Mulher Brasileira a Defensoria Pública; o Ministério Público; a Vara Judicial de Medidas Protetivas; atendimento social e psicológico; alojamento; espaço de cuidado das crianças – brinquedoteca; Patrulha Maria da Penha; e Guarda Municipal. É possível ligar para 153.
☎️ Existem ainda dois números para contato: 180, que garante o anonimato de quem liga, e o 190. Importante lembrar que a Central de Atendimento à Mulher – 180, é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres em todo o Brasil, mas não serve para emergências.
As ligações para o número 180 podem ser feitas por telefone móvel ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive durante os finais de semana e feriados, já que a violência contra a mulher é um problema sério no Brasil.
Já no Promuse, o número de telefone para ligações e mensagens via WhatsApp é o (67) 99180-0542.
📍 Confira a localização das DAMs, no interior, clicando aqui. Elas estão localizadas nos municípios de Aquidauana, Bataguassu, Corumbá, Coxim, Dourados, Fátima do Sul, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.
⚠️ Quando a Polícia Civil atua com deszelo, má vontade ou comete erros, é possível denunciar diretamente na Corregedoria da Polícia Civil de MS pelo telefone: (67) 3314-1896 ou no GACEP (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), do MPMS, pelos telefones (67) 3316-2836, (67) 3316-2837 e (67) 9321-3931.