Em maio de 2023, a saúde de Mato Grosso do Sul ganhou repercussão nacional ao anunciar um programa de cirurgias plásticas reparadoras gratuitas, voltado para vítimas de bullying. Porém, passado um ano, mais de 200 pessoas seguem esperando na fila, que até hoje não chamou ninguém.

Apesar de amplamente divulgado, inclusive as maneiras de se entrar na fila para as cirurgias, o programa nunca saiu do papel. A SES (Secretaria Estadual de Saúde) afirma que houve interesse por parte dos hospitais, mas as instituições não conseguiram montar as equipes para a realização das cirurgias.

O programa de cirurgias plásticas reparadoras foi lançado como parte do ‘MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila’, que teve a primeira fase realizada em 2023 e não alcançou a meta de realizar 15 mil cirurgias e 42,5 mil exames de diagnósticos.

Até o ano passado, 208 pacientes estavam na fila de espera das cirurgias reparadoras em Campo Grande. Ainda nesse rol de cirurgias preventivas de bullying, foram incluídos 30 encaminhamentos para correção de estrabismo na lista de espera da área oftalmológica.

Na lista de procedimentos previstos, estavam cirurgia mamária feminina não estética; plástica mamária masculina; e tratamento cirúrgico não estético da orelha (otoplastia).

Programa criticado por especialistas

Embora especialistas enfatizem a importância do projeto no combate ao bullying, muitos ainda veem as cirurgias reparadoras como procedimentos meramente estéticos e que escapam do real combate à discriminação. Na época em que foi lançado, o projeto foi alvo de críticas nas redes sociais por pessoas que o consideraram ‘desnecessário’.

Em meio a isso, episódios de humilhação e agressão entre estudantes se tornaram cada vez mais frequentes: somente em 2022, Mato Grosso do Sul registrou 142 casos de violência escolar em função de alguma situação estética.

Além de trazer inúmeros prejuízos à vítima, o bullying contribui para o aumento dos índices de evasão. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar mostram que, em 2022, 13,4% dos estudantes deixaram o ambiente escolar por não se sentirem seguros – índice que fez com que o Mato Grosso do Sul ficasse em segundo lugar no ranking, atrás apenas de Roraima.

O levantamento apontou, ainda, que 29,2% dos estudantes de Campo Grande sofreram provocações mais de uma vez no intervalo de 30 dias.

Vale lembrar que alguns procedimentos, como a otoplastia, já estão previstos no SUS (Sistema Único de Saúde). O procedimento é realizado quando há comprovação médica que a condição afeta a saúde da pessoa ou interfere, de forma grave, em seu bem-estar.

Dados da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) apontam que o problema afeta cerca de 5% da população mundial, que, além do desconforto estético, têm um impacto direto na autoestima. Pessoas afetadas por essa condição genética costumam enfrentar situações de bullying, baixa autoestima, sensação de insegurança e até mesmo distúrbios psicológicos.