Três dias após o incêndio que atingiu mais de 120 hectares na aldeia urbana Água Bonita, região norte de Campo Grande, as famílias que ficaram desabrigadas relataram momentos de pânico vivenciado na tentativa de combater o fogo na manhã da última sexta-feira (26). 

O incêndio começou por volta das 9 horas da manhã, causando pânico entre as 280 famílias que moravam no local. Destas, 10 precisaram ser acolhidas e 47 pessoas foram levadas para o abrigo montado temporariamente. 

Conforme apurado pela reportagem, foi a primeira vez que a aldeia foi alvo de um incêndio de grandes proporções. Na tarde desta segunda-feira (29), a reportagem do Jornal Midiamax retornou a aldeia e se deparou com as famílias tentando recuperar o pouco que restou daquela manhã e relatando os momentos angustiantes vivenciados.

“O fogo respingou para os colchões, roupas, cobertas, chegou a 15 metros de altura, estourou o vidro da janela e também queimou os canos, todos novos. O pânico foi bem grande, não foi fácil, mas tem aquele ditado, ‘há males que vem para bem’… Hoje recebemos um sacolão, pegamos algumas roupas também”. 

Esse é o relato de Silvio Lei Pereira, de 49 anos, que morava no local com nove pessoas e teve a casa destruída pelo fogo. Segundo ele, as chamas ficaram acesas até as quatro horas da madrugada do dia seguinte.

Quem também viveu uma cena de terror naquela sexta-feira (26) foi a Josinete da Silva, de 33 anos, que presenciou a mãe, de 84 anos, sendo hospitalizada devido à fumaça. A moradora também relatou a dificuldade em permanecer na aldeia nos últimos dias.

“Cheiro ficou forte, não dá nem para dormir, pois é muita fumaça e poeira das cinzas. Ainda tem um pouco de fumaça a noite na área queimada, que vem tudo para cá”, disse à reportagem. 

(Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Além da idosa, dois bebês de cinco meses precisaram ser levados para atendimento médico, duas crianças e dois adultos. A dona de casa Floristela Samuel Farias, de 38 anos, é mãe de um bebê de cinco meses que também precisou ser hospitalizado. 

Conforme o relato dela, o bebê já enfrentava problemas respiratórios e, agora, devido à fumaça, o quadro se agravou. “Ele estava bem, agora devido a essa fumaça, começou novamente ter esses problemas respiratórios. Ele foi para o UPA do Coronel Antonino, foi fazer consulta e agora acho que vou precisar voltar com ele porque deu febre novamente”, explicou.

Para ela, o incêndio foi desesperador, pois precisou ajudar a cunhada, que também teve a casa atingida por morar mais próximo da área queimada. “Na hora que começou o incêndio eu deixei meus filhos, e fui socorrer a casa da minha cunhada. Foi desesperador, muito triste da gente te ver essa situação”, relatou Floristela. 

Doações

Agora, o foco das autoridades é nas doações as famílias que ficaram desabrigadas. Por lá, um barracão foi montado para que os moradores possam ser atendidos e receber os itens doados. 

“As pessoas trazem as doações para o barracão, a gente chama 26 famílias que foram mais afetadas. As doações que estão chegando para essas famílias são bem-vindas, qualquer doação, pois algumas perderam roupas, colchões e alimentos”, explicou uma das líderes do conselho da Aldeia Água Bonita, Vânia Samuel Farias. 

Uma equipe da Emha (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários) esteve no local e explicou à reportagem que o próximo passo será um recadastramento, pois houve um aumento de famílias residindo no local. 

“Já são 26 barracos, de 18 subiu para 26, buscando uma solução novamente para acabar com esses barracos”, explicou a Diretora-Presidente da Emha, Maria do Carmo Avesani Lopez.

Não se sabe o que causou o incêndio

Segundo a prefeitura, há suspeitas de que o incêndio tenha sido causado intencionalmente, o que será investigado pelas autoridades competentes. Alguns moradores também desconfiam que tenha sido uma queima criminosa.

“O fogo se alastrou rapidamente, segundo os moradores. É fundamental aguardarmos o laudo técnico dos Bombeiros e da Defesa Civil para entendermos o que realmente ocorreu aqui na comunidade hoje. Vivemos um período de seca intensa, que aumenta o risco de incêndios, e estamos atentos e preparados para agir proativamente, com cuidado, dedicação e eficácia”, disse a prefeita Adriane Lopes.

Foto: Henrique Arakaki/Midiamax

Casas atingidas pelo fogo

Uma das casas mais atingidas pelo fogo foi a de Josiane Dias Lemos da Silva, 40 ano. Ela vivia na residência com mais oito pessoas: o marido, dois filhos, além da irmã, cunhado e três sobrinhas adolescentes.

A casa deles teve janelas estouradas, paredes e cobertores queimados. Segundo a Defesa Civil, a estrutura do imóvel foi comprometida e não há previsão para eles possam voltar a residir no local. Entretanto, a prefeitura informou que dará toda a assistência necessária.

Uma das moradoras afirma que o incêndio começou por voltas das 9h. “O fogo veio do Anache para cá e veio com tudo. Foi muito rápido. Não deu tempo de nada. E aí teve gente correndo, gritando e muita fumaça. Retirei meus móveis todos para ver se não perdia tudo”, disse.

(Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)