Tecnologia transformou aprendizado, mas uso excessivo do celular ainda é desafio para professores
A sala de aula, antes restrita a livros e quadros, agora é um ambiente conectado, mas esse avanço também trouxe desafios aos professores
Lethycia Anjos –
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O avanço da tecnologia transformou a forma de ensino. Plataformas digitais, recursos multimídia e ferramentas interativas abriram um leque de possibilidades, o que tornou o aprendizado mais imersivo e atrativo aos jovens. A sala de aula, antes restrita a livros e quadros, agora é um ambiente conectado. No entanto, essa mesma tecnologia que trouxe inúmeras oportunidades também trouxe desafios, especialmente em relação ao uso excessivo de celulares.
Nesta terça-feira (15), celebra-se o Dia do Professor, data criada para homenagear e refletir sobre a importância dos educadores na formação e desenvolvimento das gerações futuras. Nesta reportagem, o Jornal Midiamax mostra como os professores lidam com o avanço da tecnologia e os desafios enfrentados ao educar a ‘geração mais conectada de todos os tempos’.
Para entender esse fenômeno, é preciso considerar que a cultura digital tem promovido mudanças sociais profundas na sociedade. Titular da SED (Secretaria de Estado de Educação), Hélio Daher destaca que a própria BNCC (Base Nacional Comum Curricular) prevê a introdução da tecnologia nas escolas.
Conforme a BNCC, o avanço e a multiplicação das tecnologias de informação e comunicação, aliados ao acesso facilitado por meio de dispositivos como computadores, celulares, tablets, entre outros, inserem os estudantes de maneira dinâmica nessa cultura, não apenas como consumidores.
“Os jovens têm se engajado cada vez mais como protagonistas da cultura digital, participando diretamente de novas formas de interação multimodal e multimidiática, além de atuar socialmente em rede, com uma rapidez crescente.”
Contudo, isso também exerce um forte apelo emocional e favorece o imediatismo das respostas. Esses novos modos de comunicação contrastam com os padrões de argumentação e reflexão próprios da vida escolar. Todo esse cenário impõe à escola grandes desafios para cumprir seu papel na formação das novas gerações.
Evolução da tecnologia transformou a forma de ensino
Marcia Rocha Costa é professora de Ciências e Biologia na Escola Estadual Cívico-Militar Marçal de Souza Tupã Y, e acompanhou de perto como a evolução da tecnologia transformou a forma de ensino. Para ela, o processo de aprendizagem passou por mudanças significativas, o que impactou tanto a forma de ensino quanto a experiência dos estudantes, especialmente com a chegada de recursos tecnológicos nas escolas da rede pública.
“A integração de recursos digitais às práticas pedagógicas já utilizadas pelos educadores tem facilitado esse processo. Antes, tínhamos materiais didáticos impressos, limitando as abordagens a textos e imagens”, diz ela.
Hoje, com acesso a vídeos, simuladores e plataformas interativas, Marcia explica que é possível explorar os conteúdos de maneira mais dinâmica e visual, proporcionando um aprendizado mais atraente para os estudantes.
Enquanto muitos veem a evolução como problema, Márcia enxergou oportunidades
No entanto, assim como os projetores e computadores evoluíram, os celulares também passaram por uma transformação e, hoje, são de fácil acesso, especialmente entre os jovens. Por isso, representam um desafio para os profissionais da educação. Nesse cenário, enquanto muitos veem essa evolução como um problema, Márcia enxergou uma oportunidade de contribuir para o aprendizado.
“O uso excessivo de telas pode ser tanto uma distração quanto uma ferramenta educativa poderosa, dependendo de como é orientada e controlada. Para equilibrar isso, alguns pontos são fundamentais, como o estabelecimento de regras e a definição de momentos específicos para o uso de dispositivos dentro da sala de aula.”
Assim, a professora estabeleceu com os estudantes quando o uso é permitido para atividades educativas e quando é necessário deixar os aparelhos de lado para se concentrarem na aula.
Em Mato Grosso do Sul, a combinação de plataformas de aprendizagem online, softwares educacionais, realidade virtual e recursos multimídia tem se tornado cada vez mais comum, permitindo que os estudantes acessem materiais, realizem atividades e recebam feedback de forma prática.
Para a professora, esses ambientes tornam o aprendizado mais fluido, permitindo que os alunos revisem o conteúdo e avancem no próprio ritmo. Além disso, essa abordagem facilita o aprendizado contínuo dentro e fora da sala de aula, possibilitando um ensino individualizado.
Pandemia impulsionou o ensino digital nas escolas
Quando se fala em transformações do ensino por meio da tecnologia, Hélio Daher considera que a maior mudança ocorreu durante a pandemia de Covid-19, quando a tecnologia se tornou a única alternativa de interação entre a escola e os estudantes.
“Embora a tecnologia estivesse sendo inserida gradualmente no processo de aprendizagem nas escolas, isso se potencializou durante a pandemia”, afirma.
Para Daher, geração atual é capaz de administrar sua própria forma de aprender, interagindo intensamente com a tecnologia. Por isso, torna-se essencial que os professores estejam alinhados às novas tecnologias.
“Se voltarmos às gerações anteriores, durante nossa infância e juventude, não tivemos acesso à tecnologia da mesma forma. Tínhamos apenas TV e rádio, mas de forma analógica, o que nos oferece apenas uma recepção passiva da informação. Hoje, a juventude pode interagir, escolher o que assistir, como, quando e quantas vezes quiser, além de interagir com diferentes assuntos. Essa independência no acesso à informação faz com que a escola precise lidar com essa realidade”, afirma.
Nesse cenário, o professor se torna o mediador do desenvolvimento da aprendizagem por meio do uso da tecnologia.
“Na Rede Estadual, estamos introduzindo recursos digitais, trabalhando com computadores e notebooks, e fazendo uso adequado dos celulares dentro de um planejamento. Assim, buscamos transformar a tecnologia em uma ferramenta eficaz de aprendizagem para nossas crianças”, explica.
Inteligência artificial já é realidade nas escolas
Além de auxiliar no processo de aprendizagem, o secretário explica que, atualmente, as escolas da REE (Rede Estadual de Educação) utilizam inteligência artificial para corrigir redações de forma imediata. O sistema informa aos estudantes sobre a coerência, coesão e a relação clara com o objetivo do texto. Isso se revela uma grande ferramenta para os professores de língua portuguesa e redação, que podem desenvolver as habilidades de escrita dos alunos, utilizando a tecnologia e a inteligência artificial.
“Abordamos isso com nossos professores nas formações continuadas. Além disso, temos atualmente um professor responsável por intermediar esse processo em cada uma de nossas escolas, o PCPI. Esse profissional trabalha com a tecnologia, seja em sala de aula ou nos laboratórios de robótica que estamos implantando. Inclusive, vamos entregar em breve um novo lote desses laboratórios”, destacou.
Tecnologia aliada à educação
Um exemplo prático de como as redes sociais podem estar aliadas com o desenvolvimento pedagógico é o projeto “Conect Meninas”, criado por estudantes da Escola Marçal de Souza Tupã-Y. Único representante de Mato Grosso do Sul, o projeto recebeu uma premiação na Fecitec (Feira de Ciência e Tecnologia de Palotina), no Paraná.
Mariani Lanza Pereira, de 17 anos, estudante do 3º ano do Ensino Médio, sempre esteve envolvida em projetos científicos. Idealizadora do projeto, ela conta que a ideia surgiu ao perceber que, assim como ela, outras estudantes tinham interesse em pesquisa científica, mas não sabiam como encontrar oportunidades.
“No ano passado, participei de projetos como o ‘Astrominas da USP’, assim comecei a me interessar mais pela ciência. Por causa dessas experiências, outras meninas da escola começaram a me perguntar onde poderiam encontrar esses projetos, porque também queriam participar, mas não sabiam como. A partir disso, identifiquei um problema e tive a ideia de criar o ‘Conecte Meninas’ para ajudar a solucionar”, explicou Mariani.
‘Conecte Meninas’
Mais do que a divulgação científica, o “Conect Meninas” busca quebrar barreiras e promover a participação feminina em um campo historicamente dominado pelos homens: a ciência. Ao utilizar as redes sociais como ferramenta de engajamento, o projeto aproxima o público jovem do universo científico e inspira meninas a se verem como protagonistas nesse espaço.
Com o apoio da professora Márcia, o grupo de três estudantes – composto por Mariani, Gustavo Ferreira e Gabriel Servim, todos do 3º ano – desenvolveu um site e um perfil nas redes sociais. Nessas plataformas, eles discutem diversas iniciativas inovadoras para promover a participação feminina na ciência.
“Desde março, começamos a pensar em maneiras de auxiliar na divulgação dos projetos. Decidimos que, por estarmos numa era digital, a criação de um site e de um perfil no Instagram seria uma ótima alternativa”, disse.
Assim, o “Conecte Meninas” ganhou forma, o grupo começou a trabalhar na produção do projeto escrito e do site, com a intenção de inscrevê-lo em feiras de ciências em Mato Grosso do Sul. Eles se inscreveram na Fetec (Feira Estadual de Tecnologia, Engenharias e Ciências de MS) e tinham planos de participar da Fecintec, no Instituto Federal. No entanto, decidiram expandir os horizontes e também se inscrever na Fecitec, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), e na Febratec, em Brasília.
Proibição dos celulares em pauta
A proibição dos celulares nas escolas entrou em pauta após o MEC (Ministério da Educação) anunciar que estava finalizando os preparativos para divulgar um projeto de lei visando proibir o uso dos aparelhos em escolas públicas e privadas do Brasil. Embora não exista uma lei específica que proíba o uso de aparelho celular nas unidades escolares da REE, o Regimento Escolar – válido para todas as escolas estaduais de Mato Grosso do Sul – veda o uso dos aparelhos em sala de aula.
Entre outros regramentos, o documento também orienta que professores podem utilizar o celular para realização de atividade pedagógica previamente planejada e de conhecimento da equipe de gestão.
“Nós entendemos que o uso do celular hoje mais atrapalha do que ajuda no desenvolvimento das aulas das nossas escolas. Ele tira a atenção dos estudantes, ele faz com que o estudante interaja menos com o próprio professor e os colegas, porque ele fica muito imerso no dispositivo”, afirma Hélio Daher.
Conforme o secretário, o andamento do projeto de lei será acompanhado. Enquanto nada é decidido, garante que a secretaria continuará controlando o uso do celular.
“A gente sabe da importância desse aparelho hoje, principalmente na comunicação das crianças com seus pais. Então criou-se a rotina das famílias acompanharem seus filhos a distância. A gente sabe que esse dispositivo deixa a sensação de segurança nas famílias, de saber que poderá entrar em contato com o filho. Mas é fato que o uso descontrolado do celular vem prejudicando muito o desenvolvimento das aulas. Por isso, para a gente, é importante fazer o controle do acesso a esse dispositivo dentro das nossas escolas”, pontua.
Adaptação nas escolas
Ainda conforme o secretário, uma normativa deverá ser publicada após a decisão desse projeto de lei. A proposta é instaurar e contemplar a lei totalmente, caso aprovada.
“Entendo que não dá para proibir que as crianças e jovens levem o celular para a escola, a gente não pode fazer isso, da mesma maneira que o Estado não pode reter o equipamento que é um bem próprio, é um bem da pessoa. O Estado não vai fazer a retenção desse patrimônio, mas o Estado vai restringir o uso desse equipamento, salvo quando esse equipamento foi solicitado pelo próprio professor que pode desenvolver suas aulas utilizando o celular como ferramenta de acesso à informação”, pontua.
Segundo Hélio, já há diversos casos de professores da REE que permitem o uso de celular em trabalhos de audiovisual e pesquisas. Isso mostra que é possível fazer o uso adequado das telas em ambiente escolar.
“É necessário que a gente possa dar um suporte para as nossas escolas, para que elas possam fazer o controle do uso desses equipamentos nas aulas, para que de fato a gente tenha uma produtividade maior na aprendizagem de cada um dos nossos estudantes”.
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