O teste da redação do Concurso Nacional Unificado (CNU), o “Enem dos Concursos”, teve como tema “Em que medida a educação e o progresso científico e tecnológico podem contribuir para reduzir as desigualdades socioeconômicas e ampliar o desenvolvimento da sociedade brasileira?”.

As provas do CNU foram aplicadas neste domingo, 18, em todo o Brasil, mas a redação foi feita somente pelos candidatos do bloco 8, voltado para os níveis médio e técnico.

De caráter eliminatório, a prova de redação vale 100 pontos. Questões como fuga do tipo de texto dissertativo-argumentativo, fuga do tema e escrita a lápis podem zerar a prova, de acordo com o edital.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, a escolha do tema não surpreendeu. Por ser exigido um texto dissertativo-argumentativo, a expectativa era de que a prova seguisse o formato já conhecido de redações do Enem, que costuma abordar questões de caráter social e avalia o papel do Estado na resolução de problemas.

Desafios do tema: a necessidade de abordar múltiplos eixos

Mesmo assim, diz Joana Melo, professora de Língua Portuguesa, o conteúdo pode ter desafiado os candidatos.

Isso porque, diz a especialista, o tema da redação se articula em torno diferentes eixos – educação, progresso científico e tecnológico, desigualdade econômica e desenvolvimento social – exigindo que o candidato trate todos de maneira completa, sem focar em problematizações, mas sim em uma solução.

“Isso é uma coisa que pode ser desafiadora para os candidatos (. .) São muitas coisas que teriam de abordar”, diz Joana. “Muitas vezes o candidato não se atenta a todos os eixos, e aí ele vai abordar parte do problema ou parte da solução, parte do tema. E isso prejudica a nota.”

O ponto de vista é compartilhado por Pedro Lima, professor de gramática, redação e interpretação de textos, que argumenta que a cobrança de diferentes eixos pode levar ao tangenciamento do tema. Para o especialista, a redação exigida pelo CNU não foi difícil, mas “específica”.

“O candidato pode acabar focando demais ou só na educação, ou só no progresso científico e tecnológico, falar só das desigualdades socioeconômicas, e não estabelecer uma relação entre essas três coisas, em prol da diminuição da desigualdade socioeconômica”, sintetiza.

A atualidade do tema e as possibilidades de abordagem

Ceres Rabelo, professora de cursos preparatórios para concursos, elogiou a atualidade do tema. “Quando a gente fala de educação, de progresso tecnológico, científico, a gente fala dos dias atuais”, afirmou. Para a especialista, o assunto exige repertório, mas permite diferentes caminhos a serem explorados pelos candidatos.

“A tecnologia, por exemplo, dá possibilidade de democratizar o acesso à informação, permitindo que pessoas de diferentes origens econômicas possam se capacitar e competir em um mercado de trabalho cada vez mais exigente”, diz.

O acesso à educação e à informação é um exemplo também apontado por Lima. “Os candidatos poderiam, por exemplo, falar da questão do acesso à educação, e essa qualidade de acesso em todas as camadas, pensando nos estratos sociais”, cita.

“Poderíamos pensar em investimento em pesquisa científica para que, assim, houvesse um desenvolvimento tecnológico e, consequentemente, isso impactasse na educação.”

O formato de pergunta da redação e seus desafios

Os especialistas também chamam a atenção para o formato da apresentação do tema, uma pergunta. “Eles (os candidatos) têm de responder, só que sem ser como se estivessem respondendo a uma pergunta”, chama a atenção Joana, que acredita que a redação possa gerar problema para os candidatos mais despreparados.

“Acho que a redação, realmente, vai ser um grande desafio, ainda que todo mundo soubesse que ia ser um texto dissertativo-argumentativo, em uma vertente social”, finaliza.