‘Querem tirar o pouco lazer do trabalhador’: público repudia operação que fechou bares da 14
Em operação realizada na segunda-feira (2), a polícia fechou os bares e levou três comerciantes para a delegacia
Lethycia Anjos –
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A comemoração do Dia do Samba, realizada na Rua 14 de Julho, terminou em confusão na noite desta segunda-feira (2), em Campo Grande. A polícia alega que os estabelecimentos desrespeitaram o limite de som, mas frequentadores dos bares contestam a versão apresentada pelos policiais.
Embora a PM (Polícia Militar) alegue que a operação começou às 22 horas, relatos e imagens registradas pelo público mostram que por volta das 21h40 a polícia já havia ‘esvaziado’ os locais e recolhido caixas de som.
Thalys Silva, que esteve no evento “Samba do Trabalhador”, realizado regularmente às segundas-feiras no Má Donna Bar, contou que chegou por volta das 19h30. Segundo ela, tudo ocorria normalmente até a chegada da polícia, por volta das 21h20.
“O pessoal do grupo tinha acabado de anunciar no microfone que conseguiu fechar a rua porque estava bem cheio e pediu para todos ficarem na 14 ou na calçada. Quando deu umas 21h20, a polícia chegou e já mandou parar o som. Eles ficaram dentro do bar por uns 30 minutos conversando com os músicos e com os donos do bar”, relatou.
Ela ressalta que os músicos buscaram negociar com os policiais, mas sem sucesso. Após a conversa, a banda recolheu os equipamentos e o público começou a dispersar. No outro lado da rua, o Bar da 14 tocava música em uma caixa de som dentro do estabelecimento, mas quando os policiais chegaram, o volume foi reduzido.
“Essa declaração da polícia é mentirosa! Disseram que os decibéis tinham ultrapassado o limite após as 22h, mas nesse horário tudo já tinha acontecido! Muita gente que estava lá pode provar isso”, afirmou Thalys.
Aparelho acusou limite acima do permitido mesmo com som desligado
Kayky Sanches, um dos sócios do Má Donna Bar, relata que a abordagem policial foi tranquila, mas o aparelho de medição de som indicou que o barulho estava acima do limite permitido, mesmo com o som desligado.
“Entendo que os policiais estavam ali para cumprir uma ordem, um mandato, segundo eles, do Ministério Público relacionado à perturbação do sossego. Eles usaram um medidor de decibéis, mas no momento não estavam com o som ligado e, mesmo assim, o aparelho registrou um nível acima do permitido por lei”.
Ele ressalta que, embora o som estivesse desligado, o ambiente do bar estava com conversas internas. “Não houve nenhum item do nosso bar apreendido; os materiais confiscados foram de outros bares que estavam em funcionamento”, esclareceu.
“A principal alegação da PM foi em relação ao volume do som. Eles receberam denúncias frequentes sobre o nível do barulho, mas ressaltamos que não estávamos fora do horário permitido. Nosso alvará autoriza o funcionamento até às 23h, e também tínhamos permissão para o fechamento da rua”, explicou.
No entanto, Kayky destaca que desta vez, a abordagem foi mais incisiva. Eles chegaram com um mandado, que não foi apresentado, informando sobre a interrupção do som.
‘Querem tirar o pouco lazer do trabalhador’
Thalys explica que o “Samba do Trabalhador” foi criado com o intuito de proporcionar um momento de lazer aos trabalhadores que normalmente trabalham nos fins de semana e à noite. Por isso, o evento sempre começa às 18h e encerra às 22h.
“Fiquei indignada, porque o Samba do Trabalhador já ocorre há algum tempo ali na Rua 14 de Julho. Esse projeto se chama ‘Samba do Trabalhador’ porque visa atender aquelas pessoas que normalmente no final de semana estão trabalhando, como garçons, trabalhadores de bares, supermercados, shoppings, e não podem curtir um samba ou um pagode no fim de semana, pois estão trabalhando.”
Ela também destacou que a banda que tocava no Má Donna Bar sempre se preocupava com o horário, para evitar problemas. “Isso é um ataque à cultura e ao pouco lazer que a população tem! Ontem era o Dia Nacional do Samba, uma manifestação cultural muito bonita, e eles acabaram com tudo”.
‘Ameaçaram recolher os instrumentos’
Letízia Pereira Silva sempre frequenta os bares da Rua 14 e também contesta a versão apresentada pela polícia. Ela relata que chegou ao local por volta das 20h, para o samba do trabalhador, mas menos de uma hora depois teve seu momento de lazer interrompido.
“Normalmente, há pausas nas apresentações e, durante uma dessas pausas, a polícia chegou com cerca de 4 a 6 viaturas. Isso ocorreu por volta das 21h. Eles entraram no bar, alguns ficaram conversando por um bom tempo com os donos, enquanto outros permaneceram de guarda, armados. Nesse momento, o som já estava parado”, conta.
Segundo Letizia, em seguida, os instrumentos colocados no centro da roda de samba. “Houve ameaça de recolhimento dos instrumentos e do som do bar”, relata. Antes da chegada da polícia, a banda orientou o público a ficar na calçada ou na própria Rua 14, uma vez que a via estava fechada, para evitar aglomeração na rua Maracaju.
Operação
A PM afirma que a operação ocorreu em resposta às reiteradas ameaças de perturbação do sono e da poluição sonora feitas pelo número 190.
Durante a operação, a polícia utilizou um sonômetro para realizar duas medições do som emitido. Conforme a PM, a primeira aferição ocorreu às 21h45, registrando 85,8 dB, e a segunda às 22h28, com 87,0 dB.
Os índices de ruído ultrapassaram o limite de 55 dB permitido em áreas residenciais, o que motivou a prisão do proprietário do bar e uma multa de R$ 5 mil. Outros dois bares também estavam operando com o acima do limite permitido, segundo a polícia. Assim, os três proprietários foram encaminhados para a delegacia, e duas caixas de som acabaram apreendidas. A PMA (Polícia Militar Ambiental) também participou da operação.
Confira o vídeo:
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