Em 2016, o transporte por aplicativos revolucionou a mobilidade urbana de Campo Grande, dando mais autonomia no ir e vir para a população. As viagens que prometiam renda extra se tornaram ‘ganha-pão’ para muitos com o tempo, mas o valor pago aos motoristas não evoluiu e o resultado é a precarização dos veículos e também do serviço.

Nos últimos dias, um caso ganhou repercussão em Campo Grande, quando passageiro fez uma viagem em carro de aplicativo que estava sem o banco do passageiro da frente e um cano de PVC no lugar da canopla do câmbio. Apesar da situação representar um risco para os passageiros e infração de trânsito, nas redes sociais muita gente saiu na defesa do motorista por entender a situação.

O motorista Fuad Salamene Neto, que tem liderado ações contra o Projeto de Lei Complementar 12/21024 do Governo Federal, afirma que como motorista o movimento é contra a precariedade, mas entende devido ao valor muito baixo que as plataformas vêm exercendo.

Em 2016, os valores médios exercidos pelas plataformas de transporte era de R$ 5 o arranque mais R$ 1,80 o quilometro rodado. Oito anos depois, a média paga é R$ 5 a saída e R$ 0,90 a R$ 1,20 o quilometro rodado. Na prática, motoristas de aplicativos ganham menos atualmente.

Desde a pandemia de Covid-19, iniciada em 2020, sobreviver ficou bem mais caro devido ao aumento do custo de vida, refletido no preço dos combustíveis, alimentos, educação, saúde e moradia.

“Por causa do preço pago fica muito inviável quando um carro vai para oficina. Mesmo assim o motorista deve preservar a manutenção e fazer um atendimento com qualidade ao seu cliente. Vale lembrar que se a PL do governo passar, a precariedade vai aumentar com a idade da frota passando de 10 para 15 anos”, afirma Fuad.

Passageiros saem em defesa dos motoristas

A situação do veículo em viagem por aplicativo com várias irregularidades ganhou repercussão nas redes sociais e, apesar de oferecer risco ao motorista e passageiro, a maioria dos leitores do Jornal Midiamax defendeu o trabalhador.

“O motorista está trabalhando, de forma digna. As plataformas, deveriam pagar melhor os motoristas, para o atendimento ser adequado ao que exigem”, disse um dos leitores do Jornal Midiamax. Outro disse “agora o cara tá se esforçando para trabalhar e sustentar sua família”.

Leia mais sobre a repercussão entre os leitores aqui.

Infração grave e apreensão do veículo

De acordo com o Detran-MS (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul), a situação se qualifica como infração prevista no artigo 230/18 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), que é conduzir o veículo em mau estado de conservação, comprometendo a segurança do passageiro e condutor.

O condutor ainda pode receber multa de R$ 195,23 e cinco pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação). O veículo também pode ser recolhido por colocar em risco a segurança do trânsito, já que se o cano de PVC se soltar a condução do veículo fica comprometida e podem ocorrer acidentes.

Após a repercussão do caso, o motorista foi expulso da plataforma por violar as regras de conduta. “A Uber reforça que este tipo de comportamento configura uma violação ao código de conduta da comunidade e o motorista foi desativado da plataforma. A empresa permanece à disposição das autoridades para colaborar com as investigações, na forma da lei”, diz o texto.