Nesta sexta-feira (31 de de maio), o mundo se volta para o desafio de combate ao tabagismo, que é uma das principais causas de morte evitável em todo o planeta. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), há 1,3 bilhão de usuários de tabaco no mundo, e o tabagismo é responsável por 8 milhões de mortes anuais. 

Diante disso, o ‘Dia Mundial de Combate ao Fumo’ serve como lembrete a estes danos à saúde e a importância de oferecer suporte e tratamento para quem deseja se livrar desse vício.

No estado de Mato Grosso do Sul, a batalha contra o tabagismo também é uma realidade que demanda atenção. Segundo o Vigitel (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), Campo Grande é a terceira capital com maior índice de pessoas fumantes.

O estudo demonstra que a frequência de adultos que fumam variou entre 4,8% em Manaus e 13,8% em Porto Alegre. As maiores frequências de fumantes foram encontradas, entre homens, em Curitiba (18,0%), Florianópolis (17,1%) e Campo Grande (16,9%) e, entre mulheres, em Porto Alegre (15,6%), Florianópolis (10,6%) e Rio de Janeiro (10,2%); Campo Grande aparece com 9% entre as mulheres.

Diante destes altos números, a reportagem do Jornal Midiamax consultou o médico Carlos Gil Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, que alertou sobre os perigos do uso do tabaco.

“O uso de tabaco está associado a uma ampla gama de riscos à saúde. Os principais incluem doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos e derrames; doenças respiratórias crônicas, como bronquite crônica e enfisema; e diversos tipos de câncer, sendo o câncer de pulmão o mais frequente. Além disso, o tabagismo pode levar a complicações durante a gravidez, como baixo peso ao nascer e parto prematuro”, alertou.

Desta forma, os problemas se estendem ainda aos conviventes da pessoa fumante. “É importante destacar que os fumantes passivos também estão em risco de desenvolver essas condições devido à exposição ao fumo ambiente”, disse.

Dentre as diversas consequências, uma das mais temidas é o câncer. Um estudo feito por pesquisadores da Fundação do Câncer no ano de 2024, aponta que o tabagismo responde por 80% das mortes por câncer de pulmão em homens e mulheres no Brasil. 

Formas de tratamento

O médico esclarece que atualmente, os tratamentos possíveis e mais atuais no combate ao tabagismo abrangem diversas abordagens, mas que é sempre importante consultar um pneumologista ou médico de família.

“Tratamentos farmacológicos incluem o uso de terapias de reposição de nicotina (TRN), como adesivos, gomas e pastilhas, bem como medicamentos prescritos como vareniclina e bupropiona, que ajudam a reduzir os sintomas de abstinência. Além disso, intervenções comportamentais, como aconselhamento individual ou em grupo e programas de suporte, são fundamentais para ajudar os fumantes a superar a dependência. Atualmente, a combinação de terapias farmacológicas e comportamentais tem se mostrado a abordagem mais eficaz”, explicou.

Ele alerta ainda sobre um aumento no uso de tabaco, com outras formas de uso, como pods, vapes e narguilés. Ele afirma que estes podem ser tão ou mais prejudiciais que os cigarros convencionais.

“o surgimento de novas formas de consumo de nicotina, como pods, vapes e narguilés, tem levado a um aumento no uso de tabaco, especialmente entre os jovens. Muitos usuários percebem esses dispositivos como alternativas menos danosas que o cigarro convencional, o que tem contribuído para sua popularidade. No entanto, essa percepção é enganosa e aumenta o risco de iniciação ao uso de tabaco entre pessoas que de outra forma não fumariam”, avaliou o médico.

O problema reside no fato de que muitos dispositivos apresentam riscos à saúde que, em muitos aspectos, são comparáveis aos do cigarro convencional. Embora possam conter menos substâncias químicas tóxicas em comparação com os cigarros tradicionais, ainda assim liberam nicotina e outras substâncias nocivas. 

“O uso de vapes pode levar a doenças pulmonares graves, como a lesão pulmonar associada ao uso de produtos de vaporização (EVALI). Além disso, narguilés, que muitas vezes são vistos como menos prejudiciais, podem expor os usuários a quantidades significativas de toxinas devido à longa duração das sessões de uso. Portanto, nenhuma dessas alternativas pode ser considerada segura em comparação ao cigarro convencional”, destacou o médico.

Cigarro eletrônico e narguilé

Dados do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) apontam que nos últimos seis anos, o País registrou quase três milhões de adultos usuários de cigarro eletrônico. O estudo revelou ainda que os estados no topo da lista são Paraná e Mato Grosso do Sul e também o Distrito Federal.

Os vapes e pods são proibidos no Brasil por resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), abrangendo desde a fabricação, a importação, a comercialização, a distribuição, o armazenamento, o transporte e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar, popularmente conhecidos como cigarro eletrônico.

Locais para tratamento gratuito em Campo Grande

Existem várias formas de tratamento disponíveis para ajudar aqueles que desejam abandonar o cigarro. Terapias comportamentais, medicamentos e aconselhamento são algumas das opções comprovadamente eficazes no combate ao tabagismo. No entanto, nem todos conhecem ou têm acesso a esses recursos.

Em Campo Grande, pessoas que querem parar de fumar contam com tratamento gratuito oferecido na Rede Municipal de Saúde. Atualmente o serviço é oferecido em 17 unidades básicas de saúde (UBS), de saúde da família (UBSF) e no Centro de Especialidades Médicas (CEM).

Os locais habilitados para atendimento do programa são UBS/UBSF, hospitais e o Centro Especializado Municipal. O tratamento também é oferecido na  Clínica da Família Nova Lima,  USF Albino Coimbra, USF Ana Maria do Couto, USF Coophavilla II, USF Batistão, Clínica da Família Portal Caiobá, UBS Caiçara, USF Tiradentes, USF Moreninha III, Clínica da Família Iracy Coelho, USF Jockey Club, USF Vila Fernanda, USF Aero Rancho Granja, USF Itamaracá, USF Tarumã, USF Vila Corumbá e USF Jardim Presidente.

Algumas das principais ações e intervenções realizadas pelas equipes de saúde nessas unidades são: Aconselhamento e orientação, tratamento medicamentosos, grupos de apoio, acompanhamento regular e abordagem multidisciplinar.

Além disso, campanhas de conscientização são promovidas regularmente para informar a população sobre os riscos do tabagismo e os recursos disponíveis para ajudar o combate diante de seus malefícios.