Para jovens em MS, qualificação é ‘segredo’ na busca por emprego e independência financeira

Experiência costuma ser um dos primeiros requisitos no preenchimento de vagas de emprego, independente da idade. Mas, como alcançar essa exigência se você acabou de concluir o ensino médio? Este é apenas um dos desafios da juventude sul-mato-grossense na busca pelo primeiro emprego e pela independência financeira.

A terceira reportagem desta série especial pelo Dia do Trabalhador, celebrado nesta quarta-feira (1º), trata sobre a realidade enfrentada por boa parte da juventude que busca trabalho: busca por vagas, exigência de experiência e a busca por qualificação – fatores que compõem uma fórmula matemática complexa.

Se, de um lado, temos jovens ávidos por trabalho, mas sem conhecimento técnico, do outro, temos empregadores que buscam profissionais qualificados. O que fazer, portanto, quando a vontade de aprender e a energia da juventude não compensam, para o mercado, a falta de experiência?

Os dados indicam que, de adolescentes de 14 aos ou mais, 1.439 estavam ocupadas em atividades na força do trabalho, enquanto 60 estavam desocupadas no Estado. Considerando o recorte e comparando com outras populações, o resultado é até animador. Qual o segredo, portanto?

José Lucas Ferreira da Silva, de 16 anos, conta que a avó foi a maior incentivadora para que ele começasse a investir na carreira. Ele ainda é estudante do ensino médio e, após o ensino na escola, segue para o curso gratuito disponibilizado pela Sejuv (Secretaria Municipal da Juventude).

“Não estou trabalhando ainda, mas quero aprender bastante coisa. Eu quero investir na área de auxiliar administrativo”, descreve.

João Victor Ramos de Sousa, de 24 anos, também visa uma vaga na área administrativa. Ele é aluno do curso e diz que segue investindo na formação. Questionado sobre o que significa trabalhar para sua vida, ele é direto: “Fazer parte da engrenagem social e sustentar você e seus dependentes”.

Em 2023, em aproximadamente 80 cursos disponibilizados pela Prefeitura de Campo Grande, cerca de 5.329 pessoas foram matriculadas, com 8.405 atendimento. Até o dia 31 de março deste ano, foram 30 cursos com turmas, com 3.369 pessoas e 3.986 atendimentos. Segundo o município, a quantidade de cursos gera uma quantidade de turmas, ou seja, pode haver poucos cursos, mas com muitas turmas. Logo, uma pessoa também pode ser certificada em vários cursos.

Dos cursos mais procurados:

• Auxiliar Administrativo;
• Auxiliar de Contabilidade;
• Design de Sobrancelha;
• Empreendedorismo;
• Marketing Digital;
• Informática Básica e barbeiro são os cursos mais procurados pela faixa etária entre 18 e 25 anos.

Novo ensino médio altera futuro mercado

Para Kelly Forest Tosta, professora de cursos profissionalizantes na área de administração e marketing no Novo Ensino Médio, além de atuação como instrutora dos cursos da Funsat (Fundação Social do Trabalho), a chegada do Novo Ensino Médio agrega uma grade de qualificação profissional que propõe um “norte” aos jovens que estão perdidos na carreira de ensino superior.

“Muitos não tiveram incentivo ou mesmo não tiveram uma referência familiar. Então, eles acabam assim, esperando muito da escola para que traga possibilidades, traga visões diferentes para eles sobre o mercado de trabalho. E o Novo Ensino Médio, eu acredito, que venha para suprir essa necessidade. Por mais que eles ainda estejam em dúvidas, eles sabem uma coisa, que eles querem trabalhar logo, eles querem ter o dinheiro deles, eles querem ter uma independência financeira cedo”, diz.

A professora relata que estudantes têm se dedicado muito mais à formação profissional para conseguir conquistar um emprego , durante os estudos ainda, principalmente nesses cursos noturnos. “No Novo Ensino Médio Noturno, a gente tem um número gigantesco de alunos que já trabalham e muitos já trabalham na área dos cursos que estão fazendo”, acrescenta.

Para a especialista, sair da zona de conforto pode proporcionar ao aluno o autodesafio pela independência, inclusive, alguns deixam o estudo de lado para se dedicar a uma atividade remunerada. Entretanto, ela reforça que o Novo Ensino Médio visa assegurar o estudante de intermediar os estudos e dar a possibilidade de mirar a área empregatícia de desejo.

“Nós temos um mercado bem bacana dentro do Novo Ensino Médio, de alunos procurando por cursos mobile, então, são alunos que estão procurando já por novas tecnologias. Do primeiro ao terceiro ano do ensino média, os alunos já têm possibilidade de aprender, de ser um assistente de programação de games, de entender esse mercado mobile que está crescendo cada vez mais”.

Durante a experiência de dois anos ministrando cursos para Funsat, Kelly nota a grande procura por requalificação dos mais velhos, a “busca pelo tempo perdido” ou o aprimoramento das novas dinâmicas trabalhistas.

Projetos para o público jovem

Marina Dobashi, diretora-presidente da Funtrab-MS (Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul), indica que há um mercado promissor para o público jovem interessado na qualificação profissional gratuita disponibilizada pelo poder público. Segundo ela, há uma vasta lista de cursos, modalidades, áreas de atuação e diversificação de público.

“Além do programa jovem aprendiz, que beneficia trabalhadores a partir dos 16 anos, há uma demanda de 7 mil jovens em Mato Grosso do Sul para o mercado de trabalho. Há vagas e a gente precisa que esses jovens se interessem, seja elas no setor do comércio, da indústria ou na administração. Na área rural, temos uma parceria com o Senac, em todos os municípios também com o sindicato rural, há cursos, por exemplo, de manipulação de drones, na tecnologia do campo, que é um mercado promissor”.

O programa MS Qualifica, lançado em maio do ano passado pelo Governo do Estado, com a Funtrab em parceria com o Sistema S (Sebrae, Senai, Senac e Senar), direciona trabalhadores para cursos profissionalizantes gratuitos e intermediação para o mercado de trabalho.

O projeto prevê que até outubro de 2025 o programa deve chegar à marca de 13,4 mil pessoas qualificadas por 851 cursos em todo o Estado. O investimento previsto é R$ 12,5 milhões, incluindo recursos estaduais, federais e das instituições parceiras.

“Os programas oferecidos no MS Qualifica permite que jovens continuem estudando e tenha acesso a cursos de formação. Depois da formação, também temos empresas parceiras em busca desse trabalhador preparado. Temos parcerias com empresas, por exemplo, recentemente, em Bandeirantes, teve uma turma formada no curso de bartender. Esses alunos saíram com o certificado na mão para uma entrevista de emprego, tivemos uma empresa parceria que fez as entrevistas e recrutamento ainda na formatura”.

Programas de formação

O Programa Voucher Desenvolvedor qualifica profissionais para atuarem em uma das áreas com maior empregabilidade na atualidade que é o segmento de tecnologia da informação. O programa contempla a oferta de vagas gratuitas do curso de Habilitação Técnica de Nível Médio em Desenvolvimento de Sistemas, o qual possui carga horária total de 1.200 horas.

Podem participar do processo seletivo pessoas que tenham renda percapta familiar de até dois salários mínimos e que sejam:

• Estudantes regularmente matriculados nas instituições públicas de ensino de Mato Grosso do Sul, nas séries do ensino médio (1º, 2º ou 3º anos), desde que em 2024 estejam matriculados, no mínimo, no 2º ano do ensino médio.
• Pessoas que estejam concluindo o ensino médio e/ou que já tenham concluído o ensino médio, na rede pública ou privada.
• Por renda percapta familiar entende-se a soma de todos os rendimentos dos membros da família, residentes no mesmo local, dividido pelo total de membros da família.

Já o Voucher Transportador é uma iniciativa de qualificação para a função de motorista de carga e ônibus e no final do processo ainda terá a inclusão das letras “D” e “E” na habilitação, com custo zero. Tudo financiado pelo Governo do Estado.

Para participar do processo deve atender requisitos mínimos previstos no código de trânsito brasileiro, que tem regras para a mudança na categoria da habilitação. Entre elas ter no mínimo 21 anos, não ter cometido infração grave ou gravíssima nos últimos 12 meses e não ser reincidente em infração média nos últimos 12 meses, entre outros.

“O Voucher Transportador está disponível para jovens a partir dos 21 anos, é mais uma oportunidade de elevar o currículo para novas oportunidades. Tivemos casos em que pessoas mudaram a realidade salarial por ter a alteração da categoria na CNH. Tivemos várias histórias de realização profissional. Outro ponto importante nas qualificações dos programas é que ela não é direcionada apenas ao que quer trabalhar, mas também empreender, abrir seu próprio negócio. Os programas de qualificação funcionam como engrenagem para nossa economia”, reforça Dobashi.

Futuros projetos

Dobashi adianta que o Governo do Estado está com dois projetos para formação de trabalhadores no segmento da bioenergia e florestal, ambos com edital em produção. A expectativa é que o programa atenda jovens a partir dos 16 anos.

“Há uma grande procura por trabalhadores para os serviços do campo, como a manipulação de drone, manutenção de viveiros e, inclusive, por mulheres que pilotam máquinas. As empresas concorrem por trabalhadores, pois são mais cuidadosas, produtivas. O edital está sendo elaborado, mas seguirá os dilemas de formação de jovens”.

Jovem, fique de olho

Já o Governo Federal mantém inscrições abertas para o programa Caminho Digital, que centraliza e promove as iniciativas de capacitação com foco no desenvolvimento de habilidades digitais e inserção profissional voltados para a Economia 4.0.

A Escola do Trabalhador 4.0 faz parte do programa Caminho Digital e oferece cursos gratuitos em temas de tecnologia e produtividade, com o objetivo de ajudar o trabalhador brasileiro a se preparar para o mercado de trabalho.

Atualmente a grade oferece cursos gratuitos em:

• Letramento digital
• Produtividade
• Introdução à programação
• Avanço em TI
• Dynamics 365
• Educação financeira
• Inteligência artificial

A dica interessando para o jovem ficar atento é acessar as páginas das fundações de trabalho, municipal ou estadual, além de órgãos públicos que oferecem qualificação gratuita.

Confira as matérias anteriores desta série:

• Herança da quarentena, teletrabalho se consolida em MS com setor que tem até 25% dos funcionários em casa
• Empreender pode ser desafiador, mas não deixa saudades em quem abre mão do regime CLT