A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou durante coletiva de imprensa em Corumbá, município distante 420 km de Campo Grande, que os incêndios que devastam o Pantanal resultam de uma combinação perversa de vários fatores. Ela veio a Mato Grosso do Sul, acompanhada da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, para acompanhar a situação no bioma, com o governador do Estado, Eduardo Riedel, nesta sexta-feira (28).

Motivo das queimadas

“De 1º de janeiro a 26 junho deste ano foram contabilizados 3.426 focos de incêndio no Pantanal. É uma quantidade totalmente fora da curva o que vem acontecendo, mesmo comparando com 2020, que foi o pior ano, com o maior incêndio registrado no Pantanal”, detalhou a ministra.

Ela explica que esse cenário se dá pela junção de três aspectos principais: a ação humana intencional, criminosa ou não; fenômenos meteorológicos e fenômenos naturais. 

Coletiva de imprensa em Corumbá (Henrique Arakaki, Midiamax).

“Essa é a maior seca dos últimos 70 anos. Junta-se a isso o El Niño, o La Niña, incêndios pela mão humana e o processo de estiagem que é o pior dos últimos 70 anos”, o que forma o cenário atual de queimadas na região pantaneira, explicou Marina.

Marina criticou fortemente a ação de fazendeiros que usam o fogo de maneira criminosa, e destacou a importância dos bons produtores rurais.

“Preciso agradecer também a sociedade civil, inclusive alguns produtores do agronegócio que têm brigadas e um trabalho em parceria que têm ajudado também (nos combates ao fogo). Temos que separar o joio do trigo. Tem aqueles que não se importam de ver o Pantanal ardendo em chamas, e existem aqueles que são produtores e que querem ver o progresso econômico, mas também a proteção ambiental. Aqui nós temos uma confluência de uma nova mentalidade que precisa ser criada”, destacou Marina.

Dificuldades no combate

A ministra do ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, também participou da coletiva, destacando que um dos maiores desafios de combate às chamas está no fato de que a maior parte dos focos está em propriedades privadas. Ela ainda afirmou que o presidente Lula deu “carta branca” para a destinação de recursos de combate aos incêndios no Pantanal.

“Quase 90% desses focos são em propriedades privadas, e (as equipes de combate) só podem entrar quando há incêndio”, pontuou Simone. 

Além disso, para Tebet, mesmo que todo o contingente do Corpo de Bombeiros do Estado fosse usado nos combates, ainda assim não seria suficiente para combater as chamas devido à extensão do território pantaneiro, que tem 11 milhões de hectares somente em Mato Grosso do Sul.

“Entrar (no bioma para combater o fogo) também não é uma coisa simples. Às vezes não tem estreada, tem que fazer picada, tem que andar, um, dois, cinco quilômetros a pé para que os brigadistas possam cumprir sua missão”, afirmou Simone.

Pantanal acumula mais de 530 mil hectares consumidos pelas chamas em 2024. (Henrique Arakaki, Midiamax).

Diante do cenário, Marina explica que é preciso mudar a mentalidade do povo brasileiro diante da realidade climática, investindo em conscientização e prevenção, algo que tem acontecido diante das tragédias climáticas observadas no País.

“É a pedagogia da dor, da nossa incapacidade de alcançar o que está em jogo e saber que coisas (a preservação do meio ambiente) como essas não são de partido, não são de governo, são do povo brasileiro”, completou Marina.

Realidade do Pantanal

Na sexta-feira passada (21), a reportagem do Midiamax presenciou as chamas altas que consumiam as margens da BR-262, ao se despedir da cidade branca. Passados seis dias, o Pantanal ainda queima. Os incêndios naquela região começaram no final de maio e agora estão controlados, mas a natureza não é mais a mesma.

O bioma acumula mais de 530 mil hectares consumidos pelas chamas em 2024. Agora, o clima tem ajudado, já que a chegada de uma frente fria, mesmo ainda não trazendo chuva, elevou a umidade na região, auxiliando no combate.

Mesmo assim, o cenário de destruição vai até onde os olhos não alcançam. Imagens aéreas mostram devastação de incêndios nas margens da BR-262, em Corumbá.