Passageiros do transporte público estão sendo obrigados a dividir o espaço em um ponto de ônibus na Rua Raquel de Queiroz, no Aero Rancho, após um idoso transformar o local em abrigo ao término de um casamento de 13 anos e não ter para onde ir. Apesar do mau cheiro exalando e incomodando a vizinhança, o morador em situação de rua recusou o atendimento da SAS (Secretaria de Assistência Social) na manhã desta sexta-feira (17).

Uma equipe da Seas (Serviço Especializado de Abordagem Social) tentou conversar sobre o suporte disponível em abrigos de Campo Grande, mas, pelo segundo dia seguido em que a ajuda foi oferecida, o idoso reafirmou que não pretende dormir em abrigos; ele já havia declarado ao Jornal Midiamax que não gostou da experiência e teria tido duas bicicletas furtadas.

Conforme a servidora, foi explicado sobre o serviço oferecido, que seria regulado uma vaga no Centro POP (Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua). Ele teria dito que na quinta-feira (16), outra equipe teria ido ao local, mas ele estaria esperando familiares que moram no Jardim Tarumã buscá-lo.

“Não podemos obrigá-lo a ir para um abrigo, não temos o que fazer nesses casos, só mediante aceitação”, explicou a servidora.

Agora, outro morador em situação de rua se junta ao idoso. O “inquilino” do espaço seria um conhecido da equipe da Seas, que também não aceita o encaminhamento para um abrigo. “Ele também sempre recusa”.

Pertences guardados no chão (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Mau cheiro

O cenário é de vulnerabilidade, tanto para o idoso quanto para a vizinhança. O mau cheiro incomoda à distância, com os pertences dele amontoado logo atrás do banco de concreto do ponto de ônibus.

Ele guarda as doações em um cantinho, entretanto, aliado à sujeira que acaba descartando. A comida que ganha acaba ficando “guardada” no chão.

O senhor João* contou parte da história que o fez parar na rua: o rompimento de um casamento de 13 anos. Com isso, ele já completa sete meses sem um lar.

Não há nenhum luxo no lugar escolhido. João* diz que morava com a ex-companheira nas proximidades, que até passa pelo local com certa frequência, mas o ignora. Eles teriam rompido há um ano. Então, sem família ou amparo, ele decidiu dormir no canto do ponto de ônibus.

Sobre precisar de ajuda, ele disse que tentou ficar em abrigos da cidade, mas reclama da insegurança. “Não gostei. Roubaram minhas duas bicicletas. Eu queria voltar a trabalhar, mas não consegui. Dei entrada na minha aposentadoria e vou vivendo assim, pedindo e comendo marmitas”.

* João é identificado como nome fictício para preservar a identidade do entrevistado.