O Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul) decidiu que a Clínica Carandá deve afastar 50% do quadro de profissionais da enfermagem das atividades a partir desta terça-feira (13). Entre aqueles que já atuaram na unidade, a espera de trabalhadores é amarga no aguardo de acertos e pagamentos em atraso.

Preferindo anonimato, um ex-funcionário revela que a rotina era exaustiva diante de humilhações, insegurança e falta de amparo financeiro. Para se ter uma ideia, era necessário pagar a própria condução e trabalhar mesmo com o salário em atraso.

“O funcionário ficava sem condições para trabalhar pelo fato de não ter dinheiro para abastecer a moto ou carro, ou até pegar ônibus. Todo dia era arriscado trabalhar, não se tinha segurança, não tinha material suficiente e tinha pacientes agressivos que avançavam contra os funcionários e não tinha como se defender”.

Outro funcionário diz que os setores enfrentavam falta de limpeza diante da precariedade para compra de materiais e equipe suficiente. “Tem mofo, goteira, canos quebrados, vazamento por todo canto. Também há gravidade de que há assinaturas falsificadas para receitas, contratos e até internação”.

Funcionários esperam pagamento

Contudo, um ex-funcionário, que prefere não ser identificado, conta que suportou a insalubridade do posto de trabalho por alguns meses. Ele faz parte do grupo que ainda aguarda o acerto trabalhista.

“Quando saí, nem obrigada me disseram. Saí sem receber nada. Todo funcionário sai sem receber, sem depósito do décimo terceiro e nem FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Conheço um advogado que atua em causas contra a clínica e ele foi sincero em dizer que nem adianta entrar com processo, pois a clínica não tem dinheiro para pagar”.

Já outro trabalhador completa alegando que a empresa pode declarar falência. “Tenho conhecimento de que os proprietários estão penhorando bens. Portanto, não temos nem previsão ou se vamos receber o que trabalhamos”, lamenta.

A reportagem tentou contato com a clínica por ligação no telefone fixo do espaço, mas sem sucesso. O espaço segue aberto para um posicionamento.

Interdição

O Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul) autuou, na tarde desta segunda-feira (12), a Clínica Carandá por descumprimento do TAC (Termo de Ajuste de Conduta) que tratava do déficit de profissionais da enfermagem firmado em 2023.

A clínica deve afastar 50% do quadro de profissionais da enfermagem a partir desta terça-feira (13). O Procurador-Geral do Conselho, Douglas Cardoso, leu o Termo de Interdição e explicou aos representantes da clínica os trâmites.

Frequentes reclamações

Não é a primeira vez que funcionários revelam a precariedade financeira ao Jornal Midiamax; os relatos eram mensais. Muitos ingressaram na justiça e esperam acordos oficializados. Entretanto, outros esperam a negociação direta.