O Rio Paraguai caminha para vivenciar a pior seca da história de Mato Grosso do Sul em 2024, comprometendo a navegação e principalmente a exportação de commodities importantes, como minério de ferro e soja. Apenas no primeiro mês do ano, as exportações de minério de ferro por Ladário caíram 81%.

Os dados da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) mostram que em janeiro de 2024 passaram pelo porto Granel Química, de Ladário, 16 mil toneladas de carga, valor 81% menor que as 88,4 mil toneladas registradas em janeiro do ano passado. O porto trabalha exclusivamente com o transporte de minério de ferro para a Argentina via hidrovia.

O gerente do terminal portuário, Eliseu Carreiro, conversou com o Jornal Midiamax e explica que o nível do rio atual não permite o carregamento total das barcaças. Normalmente, cada barcaça é carregada com 3 mil toneladas de minério de ferro e o comboio sai com 16 a 20 barcaças para exportação. Atualmente, só é possível carregar 1 mil tonelada por barcaça.

“Está muito atípico em relação ao ano passado. Para o transporte fluvial, o cenário está se desenhando como o pior de todos os tempos e estamos preocupados com o que pode acontecer”, conta ele ao contabilizar os prejuízos. No terminal, a carga exportada no primeiro trimestre representa apenas 10% do volume do mesmo período do ano passado.

A régua de medição do Rio Paraguai em Ladário registra altura de 1 metro neste 3 de abril, apesar do rio estar na maior altura registrada este ano, no mesmo dia em 2023, o nível do rio era de 2,52 metros. Os dados são computados pela Marinha do Brasil diariamente.

Rodovia não comporta volume de minério para exportação

Em 2023, Mato Grosso do Sul vivenciou um boom de exportações de minério de ferro e as expectativas eram de passar de 10 milhões de toneladas da commoditie enviada ao exterior em 2024. Porém, com o nível baixo do Rio Paraguai, a navegação está parada desde fevereiro e dependendo de um ‘milagre’ para ser retomada.

Titular da Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck explica que as rodovias não comportam o volume de minério destinado à exportação, com isso, a alternativa é estocar o produto.

“Não tem solução técnica para a seca e a tendência é de que isso se repita, devido às mudanças climáticas que têm interferido no ciclo de secas do Pantanal. As empresas de minério precisam se adaptar e investir em tecnologia para conseguir lidar com isso”.

Pesquisador alerta para cenário preocupante

Pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani, acompanha há anos o comportamento dos rios de Mato Grosso do Sul, principalmente na bacia do Paraguai e afirma que o cenário atual é preocupante. A referência usada por ele é o nível do Rio Paraguai na régua de Ladário, que representa 80% da baía e tem histórico de 123 anos.

O principal alerta é que, nesta época do ano, a região pantaneira encerra o período de cheias e inicia a estiagem, mas os rios não encheram como era esperado. As altas temperaturas, aliadas a irregularidade e pouco volume de chuvas, afetam diretamente a bacia do Pantanal e, consequentemente, o nível dos rios.

“Tem chovido, mas a chuva não tem influenciado no nível dos rios porque é necessária muita chuva para infiltrar no solo e encher os rios, mas as chuvas estão irregulares e está muito calor, o que também contribui para que a chuva não seja suficiente”, explica o pesquisador. Com chuvas irregulares e rios secos, outras duas graves consequências acontecem: falta de navegabilidade na hidrovia e tendência a incêndios.