Pular para o conteúdo
Cotidiano

Dia do luto: Na equação da vida, a morte é certeza e lidar com a perda não tem manual de instrução

Não viver o luto pode acarretar diversas doenças físicas e mentais
Jennifer Ribeiro -
Dia Nacional do Luto (Reprodução, Freepik)

Dizem que o tempo é o senhor da palavra, uma cura a longo prazo para as dores da vida. Mas, para quem lida com a saudade de uma pessoa querida que partiu repentinamente, isso soa como inverdade. Talvez o tempo até ajude a amenizar a dor da ausência, mas a saudade sempre será latente, enraizada nas memórias jamais esquecidas.

Tem sido assim para Kelly Ferreira, que há três meses convive com o luto após perder o marido, Hudson de Oliveira Ferreira, atingido por um Porsche dirigido pelo empresário Arthur Navarro, na noite do dia 22 de março. Desde a noite trágica, as histórias constantemente rememoradas pela família e amigos são, também, o lembrete que uma cadeira está vaga na mesa de jantar.

A dor da perda é um episódio certo na história da vida que, a cada dia, construímos. Contudo, não há uma maneira fácil de para ela nos prepararmos. Não é por menos que esta quarta-feira (19) é lembrada como o Dia Nacional do Luto, criado como um convite para se refletir as ausências inevitáveis – umas mais trágicas que outras, e todas capazes de deixar profundas marcas.

“Ele sempre vai fazer muita falta”

Kelly e Hudson se conheceram na escola, ainda na infância, quando ela veio de para com a família. Embora os dois se dessem bem, a vida foi acontecendo e cada um seguiu seu próprio caminho. Mas, em uma dessas voltas que o mundo dá, após 18 anos, os dois se reencontraram. Agora adultos e certos do que queriam para o futuro, decidiram ficar juntos.

Segundo Kelly, foram 10 anos de muito companheirismo, amizade e amor. Ao lado dele, ela construiu sua família tão sonhada, viu as filhas crescerem amadas e viveu dias muito felizes.

Kelly e Hudson (Reprodução, Arquivo Pessoal)

Kelly conta que os dias favoritos do marido eram os sábados e domingos. Ele amava casa cheia e todo fim de semana fazia questão de preparar um almoço bem generoso que reunia todos à mesa.

Para a família, difícil é chegar em casa e não o ter por perto para contar como foi o dia, olhar para os cômodos e lembrar da rotina que existia. Pensar e prospectar um futuro no qual ele não estará fisicamente ainda é muito doloroso.

“De segunda a sexta-feira a gente até consegue seguir por causa da rotina. Mas aos fins de semana é muito difícil. Ele enchia a casa, gostava de fazer churrasco, chamava todo mundo pra passar o dia aqui. Ele sempre vai fazer muita falta”, lamenta.

Família era seu bem mais precioso

Hudson desconhecia a palavra “problema”. Proativo, cuidadoso e generoso, o motoentregador considerava a família seu bem mais precioso e por ela fazia tudo. Melhor amigo de sua mãe, ele fazia o que estava a seu alcance para garantir uma rotina tranquila e confortável para ela. Lidar com a perda do filho ainda é muito difícil.

“A mãe dele precisou aprender e reaprender muita coisa, porque ele fazia tudo por ela e para ela. Se ela tinha uma conta, ele ia e pagava. Se ela precisasse ir pra um lugar, ele não deixava ela ir de ônibus, fazia questão de pagar motorista de aplicativo, pagava salão pra ela. Ele era extremamente amoroso. Ele era o corpo dela inteiro”, conta Kelly.

Já para as filhas de Kelly, hoje com 19, 17 e 15 anos, “ele era um paizão”. Ela até lembra que as meninas preferiam pedir e compartilhar as coisas com ele, que era para elas, um amigo confidente.

“Ele fazia o que podia por elas, era presente, cuidadoso. Elas sentem muita falta dele e ainda estão muito abaladas. Agora a gente está tentando seguir a vida, mas ele era o alicerce da família. É difícil colocar a vida no mesmo ritmo”, pontua.

“Pedimos Justiça”

A saudade será eterna, conta Kelly. Nos momentos de tristeza, era para ele que ela corria. O último abraço, o último sorriso, a última lembrança. É nisso que ela sempre se apegará.

Ela sabe que nada trará o marido para a casa, mas, sabendo que o culpado pela morte do marido estará sendo punido pelo crime, fará ela sentir um pouco mais de paz para seguir em frente.

“Continuamos pedindo justiça. Queremos que ele [Arthur] pague pelo que fez. Meu marido não foi a primeira vítima dele e não quero que ele destrua outra família”.

Não existe fase do luto

Há um tempo era comum dizer que o luto era composto por fases. Primeiro a pessoa enlutada passava pela negação e isolamento. Depois, raiva, barganha e depressão. Só após esse período nebuloso é que ela enfim encontraria a aceitação.

Segundo Raissa Ramos Ferreira Pedroli, psicóloga clínica especialista em luto, esse conceito já não existe mais. Diversos estudos sobre o tema foram feitos e constataram que o luto acontece de forma única e particular para cada pessoa. Não há regras no “sentir”.

“Vemos que o luto ocorre em movimentos que podem estar orientados para perda, com características de desesperança, tristeza e choro, ou movimentos orientados para reestruturação da nova vida sem a pessoa amada. O luto se assemelha mais a uma jornada com altos e baixos”, explica.

O luto deve ser sentido

Embora seja um período difícil, com seus altos e baixos, o luto deve ser sentido. Quando ignorado, ele pode acarretar consequências mais aparentes como depressão, tristeza profunda, agitação, estresse e até doenças secundárias que nem sempre são percebidas pelo enlutado.

Segundo a psicóloga, todas as pessoas devem passar por esse processo, independentemente da idade. Na infância, mesmo sem total compreensão do que está acontecendo, a criança vai perceber e sentir a perda do ente amado.

Nesse caso, é importante falar com as crianças sobre a perda, explicar, na medida do entendimento delas, o que aconteceu, sem inventar fantasias que desmintam o ocorrido.

“Na infância a orientação é sempre falar a verdade. Explicar com palavras simples e deixar a criança participar dos rituais de despedida. A criança irá compreender conforme a sua idade e os instrumentos que forem fornecidos pela família/ambiente”, pontua Raissa.

Busque uma rede de apoio

O luto é um fluxo natural da vida, mas isso não significa que estaremos preparados para vivê-lo. Por isso, é tão importante buscar uma rede de apoio e contar com a ajuda das pessoas que nos amam.

“A rede de apoio tem papel fundamental no enfrentamento do luto, são as pessoas que darão apoio estrutural e emocional para o enlutado”, explica a psicóloga.

O apoio profissional também não deve ser desconsiderado. Ter o suporte de um psicólogo pode fazer o processo ser muito mais leve, sem acarretar traumas ou problemas maiores.

Já enquanto rede de apoio, é fundamental considerar que cada pessoa tem um processo para a aceitação da perda de um ente querido. Pressionar ou exigir atitudes específicas do enlutado, segundo Raissa, pode acabar atrapalhando o processo.

💬 Receba notícias antes de todo mundo

Seja o primeiro a saber de tudo o que acontece nas cidades de Mato Grosso do Sul. São notícias em tempo real com informações detalhadas dos casos policiais, tempo em MS, trânsito, vagas de emprego e concursos, direitos do consumidor. Além disso, você fica por dentro das últimas novidades sobre política, transparência e escândalos.
📢 Participe da nossa comunidade no WhatsApp e acompanhe a cobertura jornalística mais completa e mais rápida de Mato Grosso do Sul.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais
Jean Lucas em Bahia x São Paulo

São Paulo perde para o Bahia com brilho de Willian José e vê Rogério Ceni quebrar tabu

portão cai sobre cabeça e menina morre santa casa campo grande

Portão cai na cabeça de Sophie, Santa Casa dá alta e menina morre em Campo Grande

Morre Ronald Fenty, pai de Rihanna, aos 70 anos

Trança meio presa é tendência e Michelle Oliveira mostra o porquê

Notícias mais lidas agora

MP rebate JBS e diz que constatou fedor em todas as vistorias no frigorífico: ‘cheiro intenso’

Polícia vai investigar demolição clandestina de imóvel histórico em Campo Grande

orla do aeroproto

‘Muro de metal’ esconderá observação do pôr do sol na Orla do Aeroporto de Campo Grande?

Novo presidente da CBF projeta mais investimentos no futebol feminino

Novo presidente da CBF projeta mais investimentos no futebol feminino

Últimas Notícias

Esportes

Red Bull Bragantino vence Vasco em São Januário e assume a liderança do Brasileirão

Esta foi a segunda derrota seguida do Vasco no Brasileirão, que tinha perdido para o Fluminense, por 2 a 1, na rodada anterior

Polícia

Dívida por corte de cabelo termina em ameaça de morte em Campo Grande

Devendo o profissional, cliente caloteiro se recusou a pagar pelo atendimento

Polícia

Motorista procura delegacia após ser banido de aplicativo por denúncia de agressão sexual

Condutor afirma não ter se envolvido em qualquer tipo de agressão dessa natureza

Polícia

Idoso de 81 anos é ferido com golpes de facão por mulher em Campo Grande

Polícia chegou ao local e encontrou idoso com o corpo todo coberto de sangue