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Cotidiano

De passagem por Campo Grande, venezuelanos enfrentam frio de 9ºC para reencontrar família no MT

Abrigos foram improvisados com cobertores e lonas, na tentativa de barrar o vento gelado
Monique Faria, Ana Laura Menegat -
Barracas foram improvisadas com cobertores. (Ana Laura Menegat / Midiamax)

Na esperança de reencontrar o irmão, Marina Cardozo saiu da Venezuela com seus familiares, com destino à Rio Verde (MT). Nessa jornada, que já dura três meses, a família está de passagem por . Acampados na rotatória da Avenida Senador Antônio Mendes Canale, enfrentaram o frio de 9°C, na madrugada deste sábado (13). 

A família, composta por 12 pessoas, entre elas duas crianças e três adolescentes, se dividiu em três barracas para se abrigar do frio. Os abrigos foram improvisados com cobertores e lonas, na tentativa de barrar o vento gelado, que ocasionou sensação térmica de 4°C. 

Em conversa com a equipe do Jornal Midiamax, a família contou como está sendo viver uma rotina cheia de ausências que ganhou ainda mais essa camada: o frio. “Como você pode ver, improvisamos uma casa”. Antes desse abrigo, dormiram na rua mesmo, pegando sereno, vento e frio.

O frio é apenas um dos desafios que a família enfrenta. Contudo, de acordo com eles, os brasileiros têm ajudado com alimentação, itens de higiene e até mesmo Wi-Fi para se comunicar com o restante da família que ficou na Venezuela. “Quando conseguimos wifi chamamos todos e corremos para ligar para nossas famílias. É uma alegria, muita risada, nós contamos as histórias do que passamos”, conta Marina.

Enquanto a equipe do Midiamax estava no local foi possível observar vários carros parando para entregar roupas, comida e alguma contribuição financeira. Essa ajuda é essencial, pois no momento não conseguem tirar documentações, que lhes permitam conseguir um trabalho. “Sem isso morreríamos de fome”, diz Yorvis Vieira.

Contudo, a ideia é dar entrada nos documentos assim que chegarem no Mato Grosso. “Pedimos apoio, incentivo e oportunidades para trabalhar. Para o futuro das crianças, porque nós [adultos] não importa. O que importa são as crianças”, comenta Marina.

A travessia

Conforme a família se sentia confortável com a presença da nossa equipe, os sentimentos passaram à flor da pele ao lembrar do longo e complicado percurso até Campo Grande. “Ay voy a llora”, diz Marina com a voz já embargando. A frase dita pela venezuela significa “vou chorar”. 

“Nos separar da nossa família: dói assim o coração”, Yorvis Vieira desabafa e coloca a mão no peito, na altura do coração, representando a dor da saudade que sente de seus familiares que permanecem em seu país.

Barracas abrigam família e grade de área de preservação ambiental vira varal para roupas secarem. (Ana Laura Menegat / Midiamax)

Essas 12 pessoas percorreram vários países até chegarem em terras brasileiras. Três meses atrás o grupo saiu da Venezuela rumo à Colômbia. Na Colômbia, Mariana trabalhava vendendo doces na rua e conseguiu pagar um quartinho para dormirem. Porém, viu que naquele local havia muita criminalidade e decidiu seguir viagem. 

No Peru, se sentiram muito humilhados. “Muita gente nos rechaça, humilham, gritam ‘Fora daqui’, ‘volta pro seu país’. E isso dói”, desabafa Marina. Mesmo carregando essa dor, seguiu viagem. Na Bolívia, entretanto, foram à uma casa de apoio, conseguiram um suporte, comida e dinheiro para, mais uma vez, seguir viagem. 

No Brasil, estão migrando de cidade em cidade até chegarem ao estado do Mato Grosso. Alejandro nos conta que eles não querem ir para os centros de apoio de Campo Grande, pois lá a família será separada e essa é a última coisa que querem. Além disso, estão apenas de passagem por aqui. Querem seguir viagem todos juntos, mesmo que isso signifique horas ou dias de caminhadas. Querem seguir viagem todos juntos, até que não precisem mais migrar.

Nossa equipe passou alguns minutos na “casa” dessa família. Fomos recebidas com olhares curiosos com a nossa presença, que logo se transformaram em sorrisos, por poderem falar sobre o que vivem e sentem. Todos tinham olhos profundos, de quem já viu e viveu coisa demais, mas ainda assim, brilhantes e esperançosos de quem não desiste da vida. Olhos de quem teima em sonhar. 

Família está acampada em rotatória de avenida, em Campo Grande e crianças brincam ao redor das barracas. (Ana Laura Menegat / Midiamax)

Sueños

Os sonhos compartilhados são os mesmos entre os e as migrantes: um teto para morar, comida na mesa, educação para as crianças e ajudar a família que permanece na Venezuela. “Queremos trabalhar para poder seguir em frente e dar um futuro melhor para nossos filhos”, afirmam Marina e Yorvis. 

“Queremos trabalhar, fazer tudo que é possível para ajudar minha mãe que ainda está na Venezuela. Essa é a meta, não queremos luxo, não queremos uma mansão, um edifício, um castelo, não. Queremos algo simples, mas com segurança”, relata Marina.

Para conquistar esse sonho, a família afirma que fazem de tudo e que todos querem trabalhar. “Nós trabalhamos com tudo, limpeza, construção, supermercado, vendendo coisas na rua tudo”, relata Yorvis. E Marina complemente: “E se não sabemos, aprendemos rápido”.

Hoje, os sonhos estão alguns quilômetros mais próximos de se realizarem do que estavam três meses atrás, quando disseram adeus à tudo que conheciam e iniciaram a migração. Mas ainda assim, possuem pela frente cerca de mil km.

Algumas noites e alguns dias de frio, calor e inseguranças. Algumas noites de corpos quentes protegidos pelas cobertas e alguns dias de banhos gelados em rios e córregos. Alguns dias de luta. Algumas noites de sonhos vívidos daquilo que ainda vão viver. Juntos. 

Barracas foram montadas em rotatória de avenida. (Ana Laura Menegat/ Midiamax)

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