Com clima mais seco, especialista faz alerta sobre usar o fogo no Pantanal: ‘muito mais perigoso’

Passagem de frente fria e aumento da nebulosidade contribuem para trabalho de combate aos incêndios no Pantanal

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Incêndios no Pantanal (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Apesar de já ter devastado cerca de 763 mil hectares do Pantanal em 2024, o fogo também é aliado da conservação quando bem usado no bioma. Entretanto, o biólogo Gustavo Figueiroa, da ONG SOS Pantanal, defende que o uso do fogo deve mudar diante de um novo cenário pantaneiro.

Em entrevista ao Programa No Ponto, da TV Midiamax, Gustavo afirma que o Pantanal mudou e está mais seco. “Antigamente, esse fogo tradicional que todo mundo estava acostumado a usar, encontrava uma barreira física, como a água, rapidamente. Hoje em dia, o bioma está muito mais seco, então esse uso do fogo, que era usado tradicionalmente, fica muito mais perigoso”, explica.

Segundo ele, grande parte dos incêndios em 2024 surgiram perto de comunidades tradicionais, que usam o fogo em suas atividades. “O alerta é para todo mundo que está no Pantanal […] Infelizmente, nesse novo normal no Pantanal, o uso do fogo vai ter que ser repensado demais. A gente não pode continuar usando ele como sempre foi usado no Pantanal. O cenário mudou”, defende.

Momento de atenção

Segundo Gustavo, apesar da chuva e a frente fria terem ajudado no combate aos incêndios no Pantanal, o momento é de atenção. “É sempre importante lembrar que essa quantidade de chuva é muito passageira; é muito curta. A gente está só começando o período de estiagem. Essa seca deve ir até final de setembro, outubro, talvez até depois dependendo das condições climáticas”, alerta o biólogo.

Às vésperas do centésimo dia de força-tarefa, o relatório diário do combate do Corpo de Bombeiros aos incêndios do Pantanal seguem contabilizando 6 pontos de atenção no bioma em MS até esta quarta-feira (10). Há apenas um foco ativo, assim como no dia anterior.

Gustavo afirma que as condições climáticas ajudaram principalmente no Pantanal sul, mas não foram suficientes. “Essa chuva não é suficiente para encharcar o solo. Assim que a condições meteorológicas melhorem para o fogo; esquentar um pouco e secar de novo; esse fogo pode voltar em algumas regiões”, afirma.

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Biólogo Gustavo Figueiroa (Reprodução, TV Midiamax)

Queimadas

Ele explica que o motivo é que o Pantanal tem muito fogo de turva, que queima por baixo do solo. “Com certeza é um alento e esse tempo precioso serve para as equipes ficarem no rescaldo, para garantirem que grande parte desses focos vão ser extintos”, diz.

O Pantanal norte, em Mato Grosso, ainda tem alguns focos ativos e que são motivos de preocupação das autoridades, mas o Pantanal sul, em MS, a situação melhorou.

“Agora é ficar de olho no Mato Grosso porque o fogo lá ainda está pegando e continuar [o monitoramento] nessas áreas em Mato Grosso do Sul porque assim que a situação [para o fogo] melhorar algum desses focos podem reegnir”, esclarece.

“Então, é momento de atenção máxima. Não significa que o problema passou. O problema foi remediado por um tempo e é um tempo que pode ser usado para garantir, dentro do possível, que essas chamas não vão retornar, mas o estado de alerta continua até o final do ano porque esse ano está muito seco”, finaliza.

Confira a entrevista:

Pantanal: o bioma que mais secou

Segundo pesquisa do MapBiomas Água, em relação ao tamanho do próprio bioma, o Pantanal foi o que mais secou ao longo da série histórica, que cobre o período entre 1985 e 2023.

A superfície de água anual (pelo menos 6 meses com água) em 2023 foi de 382 mil hectares – 61% abaixo da média histórica. Houve redução da área alagada e do tempo de permanência da água. No ano passado, apenas 2,6% do bioma estava coberto por água. O Pantanal responde por 2% da superfície de água do total nacional. 

O ano de 2023 foi 50% mais seco que 2018. Naquele ano, a água no Pantanal já estava abaixo da média da série histórica, que compara com os dados desde 1985. 

“Em 2024, nós não tivemos o pico de cheia. O ano registra um pico de seca, que deve se estender até setembro. O Pantanal em extrema seca já enfrenta incêndios de difícil controle”, ressalta Eduardo Rosa, do MapBiomas.

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