Com apenas 378 que usam PrEP vacinados, imunização contra HPV é desafio em Campo Grande

Vacinação foi incorporada no PNI (Programa Nacional de Imunização)

Karina Campos – 31/08/2024 – 07:00

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O público-alvo continua sendo formado por meninas e meninos de 9 a 14 anos. Fotos: Julia Prado/MS
Vacina contra HPV (Julia Prado, Ministério da Saúde)

Desde a autorização do Ministério da Saúde, apenas 378 pessoas que usam PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV) se vacinaram contra HPV (papilomavírus humano) em Campo Grande. Em 2024, a imunização segue a baixa adesão dos dois últimos anos, que atingiu margem de 8 e 10%.

O público que precisa fazer uso da PrEP tem neoplasias ou vítimas de violência, entre 15 e 45 anos. A vacina é disponibilizada pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A Superintendente em Vigilância da Sesau, Veruska Lahdo, explica que o imunizante foi incorporado no PNI (Programa Nacional de Imunização). Antes, era voltada para a população de criança e adolescentes.

“A gente vê isso como uma preocupação. Ao longo do ano foi mudando (incorporação), incluindo pessoas e a faixa etária. O foco principal sempre foi a criança de 9 a 14 anos. A cobertura que tem em cima desse público é muito baixa, em relação à busca das pessoas que tem crianças e adolescentes”.

Contudo, a vacinação contra o HPV não tem uma meta cobrada pelo Ministério, diferente da Influenza, por exemplo. Ainda, a adesão tem expectativa de proximidade de 100%, nível que evita um possível “surto” de várias doenças ou surgimento de casos que estavam erradicadas.

“Campo Grande tem uma cobertura muito boa em relação à vacinação, das crianças até um ano. Tem vacinas que sempre cumprimos acima do preconizado, como a triple viral e BCG, outras chegamos próximo dos 85%. Porém, se a meta do Ministério é 95% e temos a cobertura de 80% em uma determinada vacina, pressupõe que 15% da população deixou de tomar ou não completou o esquema. Essa é a nossa preocupação, a baixa cobertura vacinal e retorno de algumas doenças, como a poliomielite, que deve ser acima de 80%. Aquela parcela que não tomou está em risco”, descreve.

veruska
Superintendente em Vigilância da Sesau, Veruska Lahdo (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Estratégias

Lahdo ressalta que o município tem adotado estratégias para avançar na adesão. Das 74 unidades de saúde, 47 atendem em horário estendido para facilitar o acesso para quem precisa se vacinar fora do horário habitual.

“Temos muitas ações ‘extra-muro’. Levamos as vacinas para os pontos, otimizando o acesso quando a pessoa está em um horário de lazer, como um shopping, mercado, para que aproveite a oportunidade; em escolas criando estratégias com a secretaria de educação; e deixar um ponto de vacinação aberto no fim de semana ou feriado”.

O público alvo da vacinação inclui:

  • Crianças e adolescentes com idade entre 9 e 14 anos, no esquema de dose única.
  • Indivíduos imunocomprometidos de 9 a 45 anos (Pessoas vivendo com HIV e Aids – PVHA, Pacientes oncológicos e transplantados): com esquema de três doses independentemente da idade.
  • Pessoas de 15 a 45 anos de idade imunocompetentes vítimas de violência sexual: com esquema de 2 doses para os de 9 a 14 anos (0-6 meses) e 3 doses para os de 15 a 45 anos.

A ampliação do público-alvo para vacinação, aos usuários de PrEP, sem prejuízo à população inicialmente coberta pela indicação da vacina, é fundamental para prevenção dos cânceres diversos causados pelo HPV.

A PrEP no Brasil está indicada para pessoas a partir de 15 anos, com peso corporal ≥35 kg, sexualmente ativas e que apresentam contextos de risco aumentado para aquisição da infecção pelo HIV.

O que é o HPV?

“O HPV é uma doença sexualmente transmissível, um vírus responsável pela transmissão de diversos tipos de câncer. (A vacina) foi incorporada para aplicar em crianças antes do período da iniciação sexual, exatamente para prevenir esses tipos de câncer. São doenças graves, tanto em mulheres quanto homens. É a principal maneira de prevenção na aquisição de câncer relacionado ao HPV”.

A PrEP é uma das formas de prevenir a infecção pelo HIV, caso ocorra exposição ao vírus. Para isso, é necessário tomar diariamente uma pílula que contém dois medicamentos: tenofovir e entricitabina. No entanto, é importante ressaltar que a profilaxia pré-exposição não impede a infecção por outras ISTs.

O medicamento é indicado para pessoas a partir dos 15 anos, sexualmente ativas, que apresentam risco aumentado para aquisição da infecção pelo HIV. Pode ser prescrita por enfermeiros, farmacêuticos e médicos da atenção primária à saúde ou dos serviços especializados. Atualmente, existem 939 unidades dispensadoras de PrEP em 540 municípios brasileiros.

Os sinais do vírus HPV aparecem em forma de lesões, que podem ser de diversos tamanhos e quantidade, nas genitais ou no ânus. Em geral, são assintomáticas, mas costumam causar coceira no local.

Na maior parte dos casos, a infecção é espontaneamente solucionada, pelo próprio organismo, em um período de aproximadamente 24 meses. Contudo, a infecção está associada ao desenvolvimento de vários tipos de câncer em mulheres e homens.

Segundo dados do Ministério da Saúde, ao todo, no Estado há 1.848 pessoas que fazem uso da profilaxia pré-exposição sendo 1.238 pessoas usuárias em PrEP (que fizerem pelo menos uma dispensação nos últimos 12 meses) e 610 que estão em descontinuidades (que fizerem pelo menos uma dispensação nos últimos 12 meses, mas que na mesma data, não tiveram a dispensa válida) em Mato Grosso do Sul. Dados do Sistema do Ministério da Saúde.

Na vacinação da população em geral, de 9 a 14 anos, foram aplicadas 86.842 doses, sendo 10 e 8% em 2023 e 2023, respectivamente, com a segunda dose.

Pontos de aplicação na Capital

CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento), de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, na Rua Anhanduí, 353, Amambaí. Contato: 67 98189-8300, 67 99227-1228, 67 99930-9713 ou 67 2020-1701.

CEDIP (Centro Especializado em Doenças Infecto Parasitárias), de segunda e terça-feira, das 6h às 21h, quarta a sexta-feira, das 6h às 18h e ao sábados, das 6h às 18h, na Avenida Nossa Senhora do Bonfim, esquina com Ave Cônsul Assaf Trad. Telefone (67) 2020-1888, ou rama 1889 e 1890.

Hoje a Prep também é ofertada em mais de 20 unidades de saúde da família, além das componentes da rede de atenção especializada.

Câncer de colo de útero

Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de colo de útero é o terceiro tumor maligno mais frequente entre as mulheres, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer, no Brasil.

Uma pesquisa do instituto, realizada no ano de 2022, revelou que para cada ano do triênio 2023 a 2025 foram estimados 17.010 casos novos desse tipo de câncer.

Ainda com base na pesquisa, em 2021, a taxa de mortalidade por câncer no colo do útero foi de 4,51 óbitos para cada 100 mil mulheres. No mundo, mais de 300 mil mulheres morrem a cada ano vítimas da doença.

Vacina na rede privada

Jovens com 15 ou mais, assim como a população adulta que não faz parte do grupo contemplado pelo SUS, podem buscar o imunizante na rede privada, onde há disponibilidade da vacina nonavalente. 

Diferente da oferecida pelo SUS, a nonavalente protege contra os nove tipos mais comuns de HPV e oferece 90% de proteção contra o câncer de colo de útero. Para pessoas acima dos 15 anos, é indicada a aplicação de 3 doses: a segunda dose deve ser aplicada 2 meses após a aplicação da primeira dose e, a última dose, após um intervalo de 4 meses.

Jornal Midiamax consultou três clínicas de vacinação de Campo Grande para saber qual o preço médio da vacina na cidade. O lugar mais em conta oferece o imunizante pelo preço de R$ 950 a dose. Para conseguir a vacina por esse valor, o cliente precisa fechar o pacote de compra das três doses. O valor pode ser dividido em até 6x sem juros.

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