Parque das Nações Indígenas, maior área pública de lazer de Campo Grande. Por lá é possível ver várias rodas de pessoas tomando um bom tereré, jogando conversa fora, criando vínculos e reforçando amizades. Contudo, será que é fácil chegar de fora e fazer parte de uma desses momentos?
A Cidade Morena – como é chamada a Capital de Mato Grosso do Sul – abriga as mais diversas culturas, com pessoas vindas de norte a sul do Brasil e de fora dele, mas, ainda assim, a hospitalidade é questionada e divide opiniões.
Neste sábado, 20 de julho, é celebrado o Dia do Amigo. O Jornal Midiamax foi às ruas para saber se é verdade a fama de que o campo-grandense não é de muitos amigos, considerando os inúmeros relatos sobre a dificuldade de fazer amizades. Será que essa característica é real ou mero preconceito?
“Jeito” de campo-grandense
O pastor Gilvan Pessoa da Silva, veio para Campo Grande há 7 anos, quando saiu de Anápolis, cidade goianense, a quase mil quilômetros de distância. Ele conta que demorou para se ‘acostumar’ com o que ele define ser o “jeito dos campo-grandenses”.
“Eles prezam muito a questão da privacidade e aí fica mais complicado. Às vezes, a gente quer entrar, quer participar, estar mais junto das pessoas, mas elas não dão abertura. Gosto muito da cidade, mas o impacto foi esse: de que as pessoas são diferentes de onde eu vim. Lá as pessoas são mais abertas e aqui são mais fechadas”, analisa.
Depois de sete anos, Gilvan garante que teve avanços e conseguiu fazer bons amigos em Campo Grande. “Aqui eu percebo que priorizam muito a privacidade, mas como eu trabalho com pessoas, fui entendendo o jeito, que é uma questão da cultura local e agora eu já tenho bons amigos aqui”, garante.
Após passar pela aprovação campo-grandense, Gilvan tem até conselho para quem está chegando agora: “a dica é ir devagar, conquistando as pessoas, ganhando a confiança para formar uma amizade sólida”, recomenda.
Não é bem assim
Embora a fama exista e seja conhecida por todos na cidade, há quem diga que a história não é bem assim. A empresária curitibana Eliane Pasqualotto, que mora há 25 anos em Campo Grande, acredita que o segredo está na disposição de cada um para formar novos relacionamentos.
“A partir do momento que você se propõe a sair de casa, fazer um esporte, participar de algum grupo, é fácil você se integrar à comunidade de Campo Grande”, assegura.
Ao chegar à cidade, Eliane somou a paixão pelo esporte à necessidade de criar novos laços e fazer amigos. “Eu gosto de pedalar, gosto de grupos de corrida e fiz muitas amizades assim. Sou muito feliz em viver em Campo Grande é aqui que criei meus filhos, fiz minha carreira e é onde nasceram meus netos”, afirma.
Assim como Eliane, a campo-grandense Ligia Charum garante que as novas amizades dependem de quem busca por esses relacionamentos.
“Por mais que a nossa cidade tenha essa fama de ser um povo fechado, de não gostar de conversar com as outras pessoas que vêm de fora ou, de repente, que moram dentro da cidade, depende muito do contexto e da pessoa. Para mim essa fama do campo-grandense ser mais fechado é mito”, avalia.
Vida feliz é a vida com amigos
Mito ou não, a verdade acima de tudo isso é que a amizade é um dos bens mais preciosos e amigos são peças fundamentais para o desenvolvimento do ser humano. Esse vínculo é tão importante que é destacado em diferentes passagens bíblicas.
Uma das citações que trata a importância da amizade está no livro de Eclesiastes escrito, muito possivelmente, entre os anos de 450 e 180 antes de Cristo. “Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se!”, diz a escritura.
E além do campo espiritual, a amizade também é considerada essencial na psicologia. Entre os estudiosos existe o consenso de que: “amigos são fundamentais para a nossa felicidade”. “Uma pessoa com amigos, com relacionamentos se torna muito mais feliz. É um laço fundamental na vida do ser humano”, reforça Laura Hozano Gusso, psicóloga há 26 anos.
A especialista garante que a amizade é a chave para o desenvolvimento e aprimoramento das emoções.
“Vínculos despertam e fazem com que aprendamos a trabalhar as emoções e isso é muito importante. Estar próximo, ouvir, desabafar, entender o outro, criar laços de confiança, amar alguém que não faz parte do seu vínculo familiar, isso é muito interessante para o desenvolvimento”, observa.
Perigos da solidão
A psicóloga também destaca que assim como a vida com amigos é mais feliz, a vida sem amizades pode levar até mesmo à depressão, crises de ansiedade, fobias e distúrbios, até mesmo alimentares.
“A pessoa que não tem amigo, se fecha, começa a lidar com os problemas internos, se isola e isso gera depressão, ansiedade, entre outros distúrbios que podem surgir. A pandemia foi uma prova disso. São inúmeros os casos de depressão nesse período e isso tudo porque foi tirado o convívio. As pessoas usavam muito a internet para tentar se aproximar, mas isso não substitui o estar junto”, alerta.
Outro fator preocupante, segundo a especialista, é a perda de vínculos na velhice. “O idoso lida muito com a quebra de vínculos, com perdas. É um amigo da vida toda que se vai. É a mudança para uma casa de repouso e isso tudo é muito complicado. Imagina chegar em um lugar desconhecido onde cada um tem suas maninas, suas histórias de uma vida toda e, de repente, ter que fazer novos vínculos. É muito mais intenso e difícil”, frisa.
Nesses casos, a dica da especialista é: se permitir. “Sempre há tempo de criar novos laços e fazer bons amigos, independente da faixa etária”, conclui.
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