Andar de ônibus em não é uma tarefa fácil. Exige planejamento, tempo, paciência e R$ 242 por mês, considerando dois passes por dia. E esse valor deve aumentar assim que houver desfecho no impasse envolvendo o e a Prefeitura de Campo Grande para aumento da tarifa que hoje custa R$ 4,65. Na tentativa de se livrar do transporte público caro e ruim, campo-grandenses fogem dos ônibus e buscam alternativas.

É neste cenário que a procura por meios de transporte alternativo têm crescido, aliviando a rotina de quem depende do transporte público de Campo Grande, que é a 10ª capital do Brasil com passe de ônibus mais caro.

Nesta semana, duas situações que envolvem o tema viraram notícias. Uma mulher de 43 anos morreu após a bicicleta elétrica que conduzia apresentar falha técnica, enquanto isso, a briga judicial do Consórcio Guaicurus pelo aumento da passagem de ônibus ganha novos episódios.

Com o serviço precário e aumentos de do passe que não justificam melhorias, campo-grandenses não seguem a tendência global e trocam o transporte público por alternativas de locomoção. Entre elas, as bicicletas, motos e os tradicionais carros.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do último Censo de 2022 revelam que Campo Grande tem uma frota de 664.121 mil veículos, entre eles 326.592 mil carros, 158.319 mil motos e 1.023 mil ciclomotores.

Os dados dos últimos cinco anos mostram que o crescimento da frota de veículos na Capital teve o maior aumento do ano 2021 para 2022, o último levantamento disponível. Neste período, a frota aumentou 3%.

Ônibus só é opção para quem não consegue bancar alternativa

Quem desistiu do ônibus em Campo Grande não se arrepende, mesmo estando mais vulnerável no trânsito. É o caso da Mayara Santos Severino, 25 anos, que há um ano desistiu do transporte coletivo e das 4 horas diárias que passava dentro do ônibus para ir de casa para a universidade.

“Sou usuária do transporte coletivo desde que me entendo por gente, e notei que gastava em média 4 horas por dia dentro do ônibus, de segunda a sexta. Com a bicicleta consigo me deslocar muito mais fácil e em menos tempo”, explica ela.

Mesmo investindo R$ 2,3 mil na compra da bicicleta elétrica, ela afirma que compensa bem mais que pagar pelo transporte. Para sua segurança, faz manutenção da bicicleta a cada dois meses e paga R$ 150 em cada.

Bicicleta é a opção mais barata

A bicicleta, seja elétrica ou a tradicional, acaba sendo a primeira saída de quem é vencido pela má prestação de serviço do transporte coletivo de Campo Grande. Para quem precisa percorrer distâncias mais rapidamente e tem um pouco mais de dinheiro para investir, a bicicleta elétrica e depois uma motocicleta são as opções.

Para conduzir uma bicicleta elétrica, por exemplo, não é necessário ter CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e o capacete não é obrigatório, apesar de essencial. As bikes devem trafegar pelas ciclovias e apesar de práticas, expõem os usuários a maior possibilidade de acidentes de trânsito.

O serígrafo Frederico Diegues, 26 anos, usa há dois anos uma bicicleta elétrica que é seu principal meio de transporte. Ele é mais um que trocou o transporte público devido ao tempo que gastava, as condições precárias e caras.

“Com certeza o principal motivo de eu ter adquirido a bicicleta elétrica foi para não ter que depender do transporte público. Acaba sendo uma alternativa mais barata e que economiza bastante tempo”, afirma ele.

Frederico tem consciência do risco de depender da bicicleta elétrica. “Os ciclistas aqui na cidade sofrem bastante! Não existe nenhum tipo de consciência por parte dos motoristas de carro ou motos, passam tirando fina o que é extremamente perigoso para nós ciclistas, não respeitam as ciclovias e uma série de outros problemas”, conta.

bicicletas elétricas
Venda de bicicletas elétricas aumentou em Campo Grande. (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Transporte coletivo deve ter reajuste nos próximos dias

O transporte público de Campo Grande deve ter um novo reajuste na tarifa nos próximos dias. Em fevereiro de 2023, o passe foi reajustado para os atuais R$ 4,65 com R$ 0,25 de aumento. O Consórcio Guaicurus briga na justiça por uma recomposição da tarifa que ocorre a cada 7 anos.

Decisão recente do presidente do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), desembargador Sérgio Fernandes Martins, sobre o reajuste da tarifa de ônibus em Campo Grande, suspende a recomposição dos 7 anos, mas mantém a anual.

Na decisão, o desembargador aponta que a Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) é acusada pelo Consórcio Guaicurus de descumprir o contrato, no termo do reajuste da tarifa, que tem como data-base o mês de outubro.

Também é citado o acúmulo mensal de déficit tarifário. A partir disso, o desembargador cita a decisão do juízo da 4ª Vara de Fazenda Pública e de Registros Públicos que deferiu parcialmente a tutela, determinando o reajuste da tarifa.

Essa decisão de primeiro grau chegou a ser suspensa pelo desembargador Eduardo Machado Rocha, que depois voltou atrás e manteve a determinação. A Agereg chegou a citar que “não há desequilíbrio econômico-financeiro a ser corrigido”.

Consórcio Guaicurus reduziu frota em 140 ônibus

O Consórcio Guaicurus tirou de circulação 140 ônibus nos últimos três anos, passando de 552 em 2019 para 412 em 2022. Em junho do ano passado, a frota de Campo Grande teve reforço de 71 ônibus.

Em contrapartida, Campo Grande ganhou 36 mil novos moradores, saltando de cerca de 906 mil em 2019 para 942 mil no ano passado, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O número está abaixo do mínimo estipulado em contrato, que é de 575 ônibus em circulação. Enquanto isso, passageiros precisam aguardar mais de 1 hora para conseguir um ônibus, dependendo do horário e da linha.

Apesar de denúncias sobre o serviço prestado em Campo Grande, o Consórcio Guaicurus vai embolsar R$ 32 milhões em verbas públicas somente este ano, além dos R$ 31 milhões que recebeu no ano passado.

E, diferente do alegado pela diretoria da concessionária, as empresas de ônibus tiveram lucro líquido de R$ 68 milhões somente nos primeiros sete anos de concessão – entre 2012 e 2019.

(Foto: Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)