Após enxurrada de ações em Campo Grande, JBS usa laudo do Imasul para ‘desviar’ da culpa por mau cheiro

Em nota, JBS informou que novo TAC negociado com MPMS se refere a irregularidades em outra unidade na capital de MS

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JBS em Campo Grande. (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

A multinacional JBS/SA, que possui sede em Campo Grande e tem sido apontada como fonte de “podridão” em uma área com cerca de cem mil moradores na região Imbirussu, usa laudo recente do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) para “desviar” da culpa pelo mau cheiro. O Midiamax mostrou que a Justiça recebeu, no intervalo de três dias, 20 processos de moradores que pedem indenizações devido aos transtornos com a fedentina e desvalorização dos imóveis. 

Em 3 dias, moradores inundam Justiça com 20 pedidos de indenização contra JBS por espalhar mau cheiro em Campo Grande

A unidade frigorífica Campo Grande I, na Avenida Duque de Caxias, foi multada recentemente em R$ 100 mil pelo Imasul após vistoria em 21 de fevereiro de 2024. A empresa foi autuada e multada por infringir o artigo 62 do Decreto Federal 6.514/08, inciso V, que envolve “lançar resíduos sólidos, líquidos ou gasosos ou detritos, óleos ou substâncias oleosas em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou atos normativos”. 

O novo relatório produzido pelo órgão ambiental vai na contramão da conclusão de fiscalização anterior feita há quatro meses em que tentava livrar o frigorífico de culpa por onda de mau cheiro.

Além disso, o curtume da JBS, localizado no Núcleo Industrial, firmou recentemente um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) em que é prevista a aprovação do novo sistema de controle de emissões atmosféricas (sistema de multiciclone). A empresa ainda se comprometeu em realizar estudos e monitoramentos para comprovar eficácia das ações. 

Moradores protestaram próximo ao frigorífico da JBS. (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)

Além disso, o mesmo TAC prevê que a JBS deve doar R$ 70 mil para o Fundo Municipal de Meio Ambiente de Campo Grande devido ao descumprimento da condicionante da licença de operação. 

O valor será destinado a atender exclusivamente ao projeto de recuperação e reparação e prevenção de danos de área de preservação permanente de áreas públicas de Campo Grande.

O que diz a JBS?

Em nota enviada ao Midiamax, a JBS afirma que as duas unidades – a frigorífica na Avenida Duque de Caxias e a de curtume no Núcleo Industrial – não foram apontadas como fontes de mau cheiro em relatório do Imasul ou TACs, respectivamente. 

Ainda, afirma que opera de acordo com a lei e com rigorosos “padrões de segurança no descarte de resíduos”. Contudo, vale ressaltar que o relatório recente do Imasul, que gerou a multa para a empresa, apontou justamente irregularidades no lançamento de materiais. 

Confira a nota da JBS na íntegra:

“A JBS opera todas as suas atividades em conformidade com a legislação ambiental e mantém rígidos padrões de segurança no descarte dos resíduos de sua atividade industrial. Em relação a sua unidade frigorífica Campo Grande I, esclarece que não firmou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) relativo ao controle de emissões atmosféricas. 

Ressalta, ainda, que recente fiscalização do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) não detectou inconformidades diretamente relacionadas ao mau cheiro na região da Nova Campo Grande. 

O TAC firmado se refere ao curtume da empresa que está localizado em outro local, e não guarda relação com a emissão de odores. A companhia está atenta às demandas da comunidade do Nova Campo Grande e se mantém à disposição para dialogar com os moradores da região”, afirma o texto. 

Mau cheiro na região

Protesto de moradores no Nova Campo Grande. (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)

Entretanto, moradores e um TAC firmado há 14 anos apontam que a planta frigorífica na Avenida Duque de Caxias emite um forte mau cheiro. A população organizou recentemente um protesto próximo ao local e compartilhou nas redes sociais o desconforto com a fedentina que piorou nas últimas semanas. 

“Às vezes, a gente tá almoçando e é muito fedor. É todo dia, tem dia que está mais forte e tem dia que está mais fraco, fica até chato receber alguém em casa, nem ventilador vence”, relatou uma moradora para o Midiamax em fevereiro.

VÍDEO: Moradores relatam ‘pior madrugada’ de fedor e pedem denúncia de frigorífico em Campo Grande

“Normalmente, o mau cheiro começa esse horário [16h] e vai até à noite. De manhã e de tarde um pouco, depois eles começam a queimar os ossos, parece. Quando o vento vem para cá, a gente sente bastante”, contou um morador da Avenida Cinco com a Avenida Oito na mesma época. 

Além disso, TAC firmado em 2009 com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) evidenciou problemas no sistema de tratamento de esgoto das instalações do frigorífico, que são as lagoas de tratamentos de efluentes. Nesse intervalo de 14 anos, a empresa chegou a pagar multa de R$ 500 mil por danos ao meio ambiente.

A indústria frigorífica utiliza muita água nos processos de abates e, por isso, gera grande carga de resíduos com alta carga orgânica, que emite forte odor.

Matéria do Midiamax mostrou que por estar descumprindo medidas que impedissem que o cheiro podre tomasse conta do bairro é que o TAC foi firmado em 2009, com uma série de exigências, que ainda não foram totalmente cumpridas.

(Reprodução)

Dez anos depois, em março de 2019, uma denúncia anônima motivou nova vistoria no local que confirmou e emissão de cheiro podre que estaria invadindo o bairro. 

O relatório técnico constatou a construção de uma nova lagoa de sistema de tratamento de esgoto realizada entre o fim de 2018 e início de 2019.

“Verificou-se que o odor daquela [lagoa de tratamento de esgoto] recém construída era o mesmo identificado na Avenida Cinco (Bairro Nova Campo Grande), por conta da direção favorável do vento. Dessa forma, constatamos que a poluição olfativa é proveniente da lagoa instalada no ano de 2019”, disseram os técnicos no relatório na época.

Para saber mais detalhes sobre o tema, acesse: Série de acordos com MPMS e multa de meio milhão não acabam com ‘fedor sem fim’ em Campo Grande

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