Apenas 20% concluída, reforma da antiga rodoviária vira sonho distante de comerciantes
Iniciadas em 2022, as obras de revitalização da antiga rodoviária seguem a passos lentos
Lethycia Anjos, Victória Bissaco –
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Por muitos anos esquecida, a reforma do terminal rodoviário Heitor Eduardo Laburu, a antiga rodoviária, trouxe esperança aos moradores e comerciantes da região central de Campo Grande. Iniciada em julho de 2022, a obra deveria ser concluída em 12 meses e entregue em junho do ano passado. Contudo, apenas 20% do projeto de revitalização está concluído e a obra segue sem data exata de entrega.
Com a rodoviária desativada em 2009, restou a parte comercial e particular do local. Aos poucos, tornou-se reduto de pessoas em situação de rua e de dependentes químicos. Em pouco tempo, uma das regiões mais movimentadas da Capital viu-se em completo abandono.
Desde então, comércios fecharam as portas, moradores venderam suas casas e o local que um dia foi ponto de chegada tornou-se a última parada àqueles que perderam tudo.
Passados 14 anos, um novo projeto ousado de revitalização prometeu dar um rumo ao local que faz parte da história de Campo Grande. Com a reforma, o local passará a abrigar secretarias municipais, serviços públicos e lojas. No entanto, o ritmo lento das obras gera desesperança aos moradores e comerciantes da região.
Para quem cresceu na região, reforma virou sonho distante
Há 16 anos no mesmo ponto, Luiza* vivenciou toda a transformação da antiga rodoviária. A comerciante chegou à região ainda criança, quando sua mãe decidiu abrir um restaurante. Na época, o movimento constante da rodoviária fazia do local um dos pontos comerciais mais promissores da cidade.
“Minha mãe tinha um restaurante aqui quando ainda era uma rodoviária. O movimento era muito alto, passava gente de todo o lugar”, relembra.
Crescer no bairro Amambai influenciou Luiza* a investir em seu próprio negócio. Em 2008, ela decidiu abrir um brechó próximo à rodoviária. Cerca de um ano depois, o Terminal Heitor Eduardo Laburu foi oficialmente fechado.
“Montei minha loja aqui porque cresci nessa região. Tinha a expectativa de que fosse próspero, mas depois que o terminal fechou, não foi assim”, lamenta a comerciante, que só permanece no local devido à sua clientela fiel.
Diariamente, cerca de 500 ônibus passavam pela rodoviária, com um fluxo de aproximadamente duas mil pessoas. Com o fechamento, o movimento enfraqueceu, gradativamente, dezenas das 253 salas comerciais fecharam suas portas. Hoje, as poucas que ainda restam lutam para sobreviver em meio à desesperança de ver o local revitalizado.
Atraso nas obras deu lugar a desesperança
Em 2022, o anúncio de revitalização e início das obras trouxe esperanças aos comerciantes, incluindo Luiza*. Com a expectativa de ver a região prosperando novamente, ela decidiu investir em uma loja de açaí.
“Abrimos o açaí recentemente, quando estava aquele calorão. Aqui não tem muitos estabelecimentos que possam atender os hóspedes dos hotéis ou quem passa por aqui, então abrimos a loja para atender esse público”, conta.
A expectativa era que o local funcionasse das 15h às 22h. No entanto, é só anoitecer que a situação se torna complicada. Segundo a comerciante, a alta concentração de dependentes químicos afasta os clientes, e a insegurança os obriga a encerrar o expediente por volta das 18h.
“Tenho esperança de que a região irá melhorar. Mas vamos ver como será, né? Estão há tanto tempo prometendo, só vamos saber quando estiver pronto”. Ela também relata que já chegou a ver apenas dois homens trabalhando na reforma da antiga rodoviária. “Desse jeito, como vai ficar pronto?”
R$ 18 milhões em investimentos
Conforme o “Portal Mais Obras”, 12% da obra estaria concluída. No entanto, segundo a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), a informação está desatualizada, e mais de 20% da obra já foi executada. Questionada sobre a atual situação das obras, a pasta informou que as equipes concluíram o contrapiso do térreo e estão iniciando o pavimento superior. Além disso, a estrutura metálica de suporte dos brises da fachada está 70% concluída.
Inicialmente, a reforma recebeu um orçamento de R$ 16,5 milhões. Em agosto de 2023, o contrato foi aditivado, passando de R$ 16.598.808,77 para R$ 17.491.187,49. Na sexta-feira (28), o contrato recebeu um novo aditivo, elevando o valor para R$ 18,5 milhões.
A alteração do contrato entre a Sisep e a Empresa NXS Engenharia EIRELI passou de R$ 18.110.978,49 para R$ 18.548.491,31, ou seja, foram injetados R$ 437.512,82 a mais no acordo entre as partes. O valor corresponde a 2,64% do valor inicial conforme consta no contrato.
Após não cumpri o prazo de entrega no ano passado, a prefeitura de Campo Grande esclareceu que o projeto precisou passar por readequação e reenvio à Caixa Econômica Federal para aprovação da documentação. Com a conclusão da revitalização prevista para dezembro deste ano, o espaço contará com uma unidade da Funsat (Fundação Social do Trabalho) e GCM (Guarda Civil Metropolitana).
O projeto
Com uma área de 30 mil metros quadrados, 5,1 mil pertencem ao município. O local passará por uma reforma completa com intuito de virar um novo ponto de serviços e comércios de Campo Grande. A prefeita da Capital, Adriane Lopes (Patriota), autorizou a execução das obras em 1° de julho de 2022.
O projeto de arquitetura, prevê a construção de um Jardim vertical com plantas vivas aplicado em paredes e estruturas metálicas. A ideia é que o revestimento com plantas deixe o ambiente mais fresco e silencioso.
Na área interna, que pertence a proprietários particulares, caberá aos donos de salas as reformas secundárias que darão cara nova em todo o interior do prédio.
Na Rua Joaquim Nabuco, entre as antigas plataformas de embarque e desembarque dos ônibus do transporte municipal, haverá novo espaço para a Guarda Civil Metropolitana e a sede da Funsat (Fundação Social do Trabalho).
A outra área pública que margeia a Rua Vasconcelos Fernandes, antigo terminal de ônibus do transporte coletivo, irá se tornar uma área de estacionamento no horário comercial. O piso receberá nivelamento para se tornar um espaço para eventos. Além disso, o projeto inclui a instalação de blocos intertravados, semelhantes aos usados na revitalização da rua 14 de Julho.
*Nome fictício para preservar a identidade da fonte.
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