Campo Grande é a segunda do Brasil em bicicletas, mas faltam ciclovias e respeito aos ciclistas
No Dia Mundial da Bicicleta, entenda os principais desafios dos ciclistas
Thalya Godoy –
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Sustentável, econômica, melhora na qualidade de vida e até como meio de transporte, as bicicletas são queridinhas para quem gosta de se exercitar em Campo Grande. Porém, neste Dia Mundial da Bicicleta (3), os ciclistas avaliam que há muito para melhorar em segurança e infraestrutura na Capital.
A data foi criada em 2018 pela ONU (Organização das Nações Unidas) para exaltar as “magrelas” como um meio de transporte sustentável e eficiente.
Uma pesquisa de 2021 feita pela especialista em mobilidade urbana e fundadora do Multiplicidade Mobilidade Urbana, Glaucia Pereira, apontava Campo Grande com a segunda maior concentração de bicicletas entre as capitais do país e Mato Grosso do Sul com a maior proporção de bicicletas por habitantes entre os estados, com taxa de 26 veículos a cada 100 habitantes.
O estudo que usou dados do POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), estimou que a frota de bicicletas no Brasil é de 33,23 milhões de veículos, com a proporção média de 16 bicicletas para cada 100 habitantes.
Faltam ciclovias na periferia
Apesar da evidente preferência dos campo-grandenses pela bicicleta, quem anda pela cidade afirma que faltam investimentos em ciclovia e mais respeito por parte dos motoristas, especialmente nos bairros.
Campo Grande conta com 103 km de ciclovias e a previsão da Prefeitura de Campo Grande é que mais ciclofaixas devem ser implementadas após revisão do PDTMU (Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana da Capital). Porém, não informa datas e nem locais em que a nova infraestrutura poderá ser instalada.
A visualização do Sisgran (Sistema Municipal de Indicadores de Campo Grande) mostra que essa infraestrutura é implementada em poucas avenidas que convergem para a região central.
Ou seja, quem mora na periferia precisa se arriscar entre os carros e motos para andar de bicicleta em Campo Grande.
Em regiões populosas como Nova Lima, Seminário, Moreninhas e Tiradentes, a ciclofaixa mais próxima fica a quilômetros de distância.
A auxiliar administrativo Bruna Isabelle, de 26 anos, mora no bairro Pioneiros e conta que precisa se “aventurar” no trânsito até a Avenida Costa e Silva para encontrar a faixa exclusiva para ciclistas.
Ela reclama que ao mesmo tempo em que se atenta ao trânsito precisa lidar com motoristas mal-educados.
“Às vezes a gente não tem ciclofaixa tem que adentrar na rua pra poder conseguir andar e os motoristas não respeitam a diminuição 1,5m. Já passaram tão perto de mim que eu quase caí da bicicleta, já fui xingada, eles não têm paciência. Acho que o foco principal seria informar aos motoristas que o ciclista é uma pessoa que tem família e amigos”, ela aponta.
Na opinião da jovem também faltam incentivos para o ciclismo, como a realização de competições com inscrições gratuitas, a exemplo das corridas de rua.
“O ciclismo é um esporte de bem-estar só que também tem a parte da competição em que a gente se sente bem com a gente mesmo por conseguir concluir a corrida, não necessariamente com ganhar a competição”, conta.
Já a assistente social Maura de Souza, de 52 anos, conta que começou a pedalar durante a pandemia para espairecer a cabeça durante o isolamento social e não largou mais.
A maior distância que já percorreu na bike foram 96 km até o Bolicho Seco, em Sidrolândia, e conta orgulhosa que pretende superar a marca.
“Na pandemia a gente ficou muito ansioso, não tinha dinheiro para comprar a bicicleta, parcelamos essa bendita bicicleta, não é das melhores, é pesada, mas para iniciante foi bom, mas já quero trocar”, ela afirma.
Moradora do Jardim Leblon, ela diz que a ciclovia mais próxima de casa fica na Avenida Lúdio Coelho, mas narra em tom indignado que a ciclofaixa tem sido retirada de um trecho.
“Depois de um certo ponto, arrancaram tudo para passar uma tubulação e lá quando chega no Bela Laguna para frente não tem mais nada, agora lá está barro, você tem que disputar a estrada”, ela reclama.
Já os servidores públicos estaduais Jucelino Ferreira e Aldo de Queiroz Junior contam que os ciclistas precisam pedalar com a atenção redobrada dentro de Campo Grande devido aos motoristas que não respeitam a distância mínima.
“Os motoristas buzinam e alguns fazem gestos obscenos. Nos bairros é pior porque quando a gente pedala na Afonso Pena o pessoal respeita, no semáforo quando fecham e ainda dão uma ‘seguradinha’ para poder atravessar”, avalia Jucelino.
O Código de Trânsito Brasileiro prevê no artigo 201 que os condutores de veículos automotores devem manter distância lateral de 1,5 metro de ciclistas ao passar ou fazer ultrapassagens.
Aldo conta que anda de bicicleta para ir de um bairro a outro para ir à academia e que recentemente um carro bateu no guidão da bike na Avenida Capital. O ciclista se desequilibrou e quase caiu na via movimentada, mas o motorista não parou para ajudá-lo.
Já nas rodovias, ele pondera que algumas têm boa infraestrutura e outras não. “Para viajar ciclovia fora da cidade, Terenos e Rochedinho são os mais tranquilos ainda porque o pessoal respeita bem porque tem placa, já na saída para Cuiabá ou Sidrolândia é perigosíssimo”, ele conta.
Mortes de ciclistas no trânsito
A morte do jovem de 18 anos, Wyllyan Caldeiras, atropelado por um ônibus no bairro Nova Campo Grande, no último sábado (27) ilustra a carência de ciclofaixas nas periferias da Capital.
O jovem pedalava pela Rua Nove, quando foi desequilibrado por um motorista que abriu a porta do carro estacionado. Wyllyan caiu na rua e morreu na hora ao ser atingido pelo veículo do transporte coletivo.
Dados da Prefeitura de Campo Grande mostram que, de janeiro a maio de 2023, três ciclistas morreram no trânsito da Capital, o que representa metade das vítimas dos três anos anteriores.
Em 2020, 2021 e 2022, seis óbitos de ciclistas foram registrados em cada ano. Já 2019 registrou o maior número de vítimas fatais, com 8 mortes.
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