Sem condições de pagar aluguel, moradores se arriscam em comunidade que já tem 50 famílias

Moradores da Ocupação Deusli se arriscam em moradias improvisadas e com risco de despejo

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Cerca de 50 famílias residentes na comunidade, que se autointitula Deusli. (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Sem moradia, dezenas de famílias construíram uma comunidade no bairro Lagoa Park, em Campo Grande. Utilizando lona e eternit, cerca de 50 famílias buscam na ajuda uma da outra, o mínimo: um local para se proteger da chuva e do sol.

A Ocupação Deusli começou a se formar ainda no início deste ano. Ao longo destes meses, os moradores convivem com o medo constante causado pelos diversos avisos de desocupação.

“Na última vez, a Guarda Civil veio e expulsou a gente. No outro dia apareceram com uma patrola para derrubar os barracos. Só queremos um lugar para morar”, comentou a moradora Gisele de Silva Marques.

Gisele possui 26 anos e é uma das fundadoras da comunidade. Ela conta que decidiu morar no local, pois não possuía mais condições de arcar com aluguel.

“O terreno aqui era abandonado, aí conversei com minha irmã e decidimos morar aqui. Depois começaram a surgir mais pessoas”, explicou a moradora.

Comunidade cresceu em poucos meses

Apesar de recente, a Ocupação Deusli já comporta dezenas de famílias. Conforme a Prefeitura de Campo Grande, já há 50 famílias residindo no local.

Para os moradores, o aumento é reflexo da dificuldade em conseguir ajuda para moradia através do poder público.

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Moradores temem nova ação de despejo e anseiam por regularização da área. (Alicce Rodrigues, Midiamax)

“Eles mandam a gente sair, mas não dão um local, não passam uma instrução, só dizem que temos tantos dias para deixar o local”, disse Gisele.

Em nota, a Emha (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários) afirma ter ofertado aos moradores o programa Recomeçar Moradia, que prevê um auxílio de R$ 500,00 para pagamento de aluguel.

Segundo a agência, todos teriam recusado o ingresso no programa.

Moradores temem nova ação de desocupação

Além dos problemas inerentes a residir em uma comunidade, como a falta de saneamento, fragilidade e insegurança, os moradores ainda lidam com a constante preocupação de desocupação.

Lisangela Magalhães Silva, de 44 anos, foi morar no local recentemente, mas relembra do excesso de força utilizada na última desocupação. “O pessoal da guarda chegou derrubando tudo, tirando as pessoas das casas”, relembrou.

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Lisangela relembra ação truculenta da Guarda Civil em última desocupação. (Alicce Rodrigues, Midiamax)

“Até hoje não entendo a violência utilizada, porque nós continuamos no local, mas tivemos que dormir no relento. Colocamos os colchões embaixo de árvores e dormimos assim. Continuamos no local, mas sem os barracos”, comentou.

Ao descrever o ocorrido, Lisangela mostra a mais recente notificação recebida pela Prefeitura Municipal. “Eu tenho até essa terça para sair, mas não sei o que vai acontecer, não tenho para onde ir”, explicou a moradora.

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Notificação de despejo enviado para moradora. (Alicce Rodrigues, Midiamax)

A Prefeitura Municipal foi questionada sobre a ação da GCM (Guarda Civil Metropolitana) na desocupação citada pelos moradores, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.

Moradores ainda podem solicitar entrar no programa Recomeçar Moradia

Segundo a Emha, os moradores teriam recusado o ingresso no programa Recomeçar Moradia. Nele, a pessoa recebe um auxílio de R$ 500,00 por mês em algumas modalidades, como:

  • Categoria emergencial: para moradores de áreas consideradas de risco ou vindos de terrenos desocupados.
  • Vulnerabilidade social: para pessoas em situação de rua, jovens recém-saídos de serviços de acolhimento ou egressos do sistema socioeducativo.

“Contudo, eles assinaram uma declaração não aceitando o programa e não procuram a agência posteriormente para qualquer tratativa”, afirmou a agência em nota.

Segundo o diretor-adjunto da Emha, Claudio Marques, não existe a possibilidade de reassentamento para a comunidade. “Não temos fundamentação legal para isso, por se tratar de uma ocupação recente, que não é consolidada”.

Por fim, o diretor-adjunto explica que mesmo aqueles que assinaram o documento desistindo do Programa Recomeçar, podem procurar a Emha para rever a decisão.

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