Risco de desabamento e fome são realidades na vida de campo-grandense que mora em casa condenada
Ter um prato de comida no almoço e uma casa segura pode parecer básico, mas é luxo para quem não tem o mínimo para viver
Gabriel Neves –
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Sentar na mesa com um prato de comida, ter água quente em um dia de frio, andar pela casa sem preocupações: experiências tão básicas, que muitas vezes fazem parecer comum. Entretanto, para muitos é tratado como um luxo distante de ser alcançado.
Entre esses muitos, está João do Nascimento, de 60 anos, que precisa ‘vender o almoço para pagar a janta’. Como se não bastasse, convive com a iminente chance de desabamento da casa onde vive há mais de 30 anos.
João é mais um dos campo-grandenses que faz o possível para sobreviver com uma renda mensal inferior a um salário mínimo. Um dos primeiros moradores da rua onde vive, no bairro Moreninhas 4, seu drama começou em janeiro deste ano.
Morador vive em casa condenada
Para muitos, a casa onde se mora é um local de abrigo para fugir da chuva e do sol, além de proporcionar conforto nos momentos de descanso. João foge dessa parcela e vive em uma residência prestes a desabar.
Ainda no passado, a casa onde ele vive foi atingida por uma forte chuva e acabou alagada por conta de particularidades do terreno. Com isso, uma equipe da Defesa Civil precisou ir até o local.
Ao inspecionar a residência, optaram por condenar a estrutura do imóvel, que trazia risco para a segurança do morador.
“Se você ver bem, a casa está toda rachada, é como se ela estivesse caindo aos poucos”, conta João ao mostrar as rachaduras que surgem aos montes em suas paredes.
No laudo, a Defesa Civil constatou a presença de fissuras, rachaduras e infiltrações em toda a casa. Além disso, é ressaltado o “iminente risco de acidentes, que podem causar danos materiais e pessoais”.
A Defesa Civil pede que o proprietário realize a reforma o mais breve possível. Sem recursos, João trata a reestruturação de seu imóvel como um distante desejo.
Aposentado, João precisa escolher entre arrumar casa, comprar remédio ou comida
Aposentado e recebendo valor inferior a um salário mínimo, João precisa de bicos para sobreviver. “Eu arrumo ventilador, vendo gelo… Hoje mesmo vou carpir um quintal, são R$ 20 reais, mas já dá para comprar um arroz e uma mistura”, comentou.
A fala embargada mostra o drama da pessoa que se perdeu na luta para conseguir o mínimo. Ao mostrar a enormidade de remédios que toma por dia, que muitas vezes precisa retirar do próprio bolso para comprar, João revela que precisa escolher onde gastar o pequeno recurso recebido.
“Estou tentando fazer uma casinha meia-água aqui do lado. Comprei uns tijolos. Olha minha geladeira, está vazia”, falou o aposentado ao tentar explicar onde gastou sua aposentadoria.
Ao abrir a porta da geladeira, diversas garrafas pet reutilizadas com água, um pote de ketchup pela metade e garrafas vazias de molhos. Entretanto, nada de comida. “Como eu disse, vou carpir o quintal para comprar a comida de hoje”.
João buscou ajuda no poder público
Sem condições para arcar com as despesas básicas, João buscou ajuda no poder público. De acordo com a SAS (Secretaria de Assistência Social), ele recebeu atendimento no CRAS Alair Barbosa de Rezende por meio dos serviços e ações do PAIF (Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família).
Segundo a coordenação da unidade, o idoso já recebeu orientações e encaminhamentos para a rede de proteção socioassistencial, saúde e habitação, para acessar seus direitos.
A secretaria afirma, em nota, que o usuário informou para a equipe técnica que a Emha (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários) ofertou a ele os benefícios de Aluguel Social e Crédito para construção, porém não foram aceitos pelo idoso.
Ele alegou não poder mudar de endereço e nem dispor de recursos financeiros para custear a linha de crédito junto a Caixa Econômica. Para a reportagem, João afirmou ser “impossível” pagar aluguel ou arcar com qualquer financiamento com a renda que possui.
Como ajudar João
Aqueles que quiserem ajudar João do Nascimento com alimentos ou materiais para construção, podem ligar para o número (67) 9 9696-8425.
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