Candidatos desclassificados no TAF (Teste de Aptidão Física) do concurso público da de se organizam para entrar com recurso e tentar garantir a continuidade no certame. Eles alegam desigualdade entre os participantes e condições de clima adversas. Um dos candidatos morreu de desidratação profunda, após passar mal durante a prova.

enfrenta uma onda de calor e baixíssima umidade do ar, cenário que os candidatos alegam ter sido prejudicial ao desempenho. Além disso, a parte da corrida foi dividida em baterias, sendo que alguns correram às 7h e outros às 13h, o que eles alegam ser desigual.

As dificuldades do tempo prejudicaram até quem diz ter condicionamento físico para o TAF. Preferindo anonimato, um candidato conta que treinou por oito meses na mesma pista onde aconteceu a avaliação, no Centro Olímpico da Vila Nasser. E estava apto para a prova, em termos de condicionamento físico.

“Só treinei lá, sabia que não seria fácil, mas sábado [último dia do TAF da PM] estava sem condições. Já fiz TAF para temporário do Exército e da Guarda. O TAF da guarda foi à tarde, mas o local era coberto por árvores e o tempo era bom. Do Exército foi dentro do CMO (Comando Militar do Oeste), boa estrutura e climática. [No Centro Olímpico], sábado, 15 pessoas passaram mal”, relata o estudante.

Ele destaca ainda que o horário de realização das corridas desfavoreceu os candidatos, devido ao tempo de espera e o consequente desgaste físico em relação ao clima. “Cheguei às 3h55 e corri às 10h30. Muitos foram prejudicados no quesito corrida. Eu friso que é dever do candidato estar preparado, mas é um direito fazer os teste em condições mínimas. Há candidato que correu às 7h, e outros as 11h, não tem qualquer tipo de igualdade, já que a questão climática muda o desempenho”, conta.

O candidato ainda afirma que, no sábado, os portões abriram 5h30, mas a primeira bateria foi às 7h. Ao todo, foram 6 ou 8 baterias, sendo que ele ficou na penúltima e havia outras dificuldades. “Para usar banheiro tinha que enfrentar fila gigantesca e a banca só disponibilizou água após a corrida, durante a espera dos testes, o candidato era responsável pela sua hidratação, mas não tinha como ter mais água após mais de cinco horas de espera”, pontua.

Avaliação desigual, aponta candidata

Reunindo dados para ingressar com recurso, uma candidata aponta falta de preparação da banca com avaliação igualitária. Também recorrente em concursos públicos, ela indica que a pontuação não estava dentro do padrão do .

“[Não houve] avaliação justa para todos, houve muita demora no certame em geral. A esperança de alguns reside que a banca tenha o bom senso de analisar os vídeos dos exercícios no recurso administrativo e constate que houve erro na avaliação. Sou de Campo Grande, mas vi várias pessoas de outros estados sendo reprovadas. Meu namorado ficou a tarde inteira no ginásio UCDB esperando para que fizesse a flexão e viu várias meninas saindo desoladas por serem reprovadas injustamente e terem que voltar para o seu estado com a reprovação”.

No caso do teste de flexão, por exemplo, a candidata diz que os fiscais não cobravam a forma correta de fazer o exercício. “Várias meninas reprovadas na flexão tinham uma assessoria de treinamento. Quando você se prepara por 7 meses para o teste, você sabe quais movimentos são considerados certos e quais não são. Meninas foram aprovadas na primeira bateria com movimentos errados e percebendo isso uma tenente da PM que é instrutora física chamou a atenção deles mais de uma vez. A partir disso eles começaram considerar movimentos que estavam dentro do padrão previsto no edital”.

Candidatos reprovados organizam grupos para denúncia ao Ministério Público pedindo a anulação, reunindo vídeos que demostre possíveis erros na avaliação, desfavor climático e desigualdade de horário entre turmas.

“Cheguei às 4h para correr às 9h, ficamos mais de 5h em uma fila, pouca gente para auxiliar, um banheiro para 400 pessoas. Chega ser humilhante. Só sentávamos perto de correr, pois só tinha 45 cadeiras separadas das pessoas que iam entrar, calor de 32°C e tempo extremamente seco, a poeira levantava, prejudicando a respiração. Não consegui terminar a prova, não conseguia respirar, corri uns 2100 metros e sai quase desmaiando. O fiscal falou que não precisava fazer abdominal, pois já estava eliminado. Fico triste, treinei oito meses e sempre consegui fazer todos os exercícios, treinava no sol, mas não imaginava correr num deserto cheio de poeirão”, disse o representante comercial Daniel dos Reis Trindade.

Direito do candidato

Segundo o advogado Paulo Eugenio Portes, é necessário que o candidato que se sentir prejudicado ingresse com recurso administrativo à banca examinadora e, caso não haja a aceitação do recurso por parte desta, é possível ser acionado o Poder Judiciário para que se busque a reconsideração do resultado.

O especialista detalha que o princípio de igualdade deve ser observado na realização do TAF, o candidato deve estar assegurado das mesmas condições de teste que o concorrente.“[A] diferença dos horários em que os exercícios foram realizados pelos candidatos, apresentando efetiva diferença na umidade relativa do ar, razão pela qual a integridade da prova restou comprometida. Portanto, diante da excepcionalidade presente ao caso, é possível que os candidatos que se sentirem prejudicados reclamem pela via administrativa por meio de recurso e, posteriormente, em caso desta restar infrutífera, há a possibilidade de que ingressem com ação judicial por meio de Mandado de Segurança, visando a nulidade do TAF com a consequente realização de novo exame”.

O ideal é ingressar com recurso com maior quantidade de prova possível. “Para o candidato ingressar tanto com o recurso administrativo quanto para a ação judicial, é necessário que se resguarde diante da produção eficiente de provas. Nesse caso, pode ser solicitado à banca examinadora a filmagem da aplicação do teste, bem como poderá utilizar por analogia os vídeos dos demais candidatos que passaram mal ao realizarem a prova nas mesmas condições reclamadas. Alguns candidatos informaram que foi oferecido água apenas após o episódio da morte, se houver provas, O TAF está completamente comprometido, isso fere o princípio da isonomia”.

O que diz a banca

O prazo para abertura de recurso administrativo começa dia 31 de agosto e pode ser feita na página do candidato no Idecan (Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e Assistencial Nacional). A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa que reforçou os posicionamentos anteriores, negando a indisponibilidade de água e padronização do exame. Confira a nota na íntegra:

O Teste de Aptidão Física (TAF), estabelecido pelo edital da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul (PMMS), segue os padrões dos demais certames para policiais e bombeiros de todo o país.

Há mais de 40 dias, o Idecan disponibilizou o cronograma para a preparação dos candidatos, que deveriam percorrer 2.400 metros em 12 minutos para serem aprovados, conforme prevê o edital elaborado pela comissão do concurso. O objetivo do teste é selecionar profissionais com capacidade física mínima para atuarem no cotidiano da segurança pública.

As regras e especificações do TAF são estabelecidas pelo edital da comissão especial da Polícia Militar e executadas pela banca. O modelo é padronizado para concursos de policiais e bombeiros em todo o país.
Há mais de 40 dias, o Idecan disponibilizou o cronograma para a preparação dos candidatos, que deveriam percorrer 2.400 metros em 12 minutos para serem aprovados, conforme prevê o edital elaborado pela comissão do concurso. O objetivo do teste é selecionar profissionais com capacidade física mínima para atuarem no cotidiano da segurança pública.

Nos dias dos testes, a banca dispõe de tendas com cadeiras e água para abrigar os participantes que aguardam o exame. O mais importante: duas ambulâncias com equipes médicas ficam estrategicamente posicionadas nas extremidades da pista para prestar os primeiros socorros.