Não é só em pessoas obesas: gordura no fígado também é causada por excesso de álcool

Dados da Sociedade Brasileira de Hepatologia apontam que a doença atinge entre 20% e 30% da população mundial

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Gordura no fígado atinge cerca de 40% da população. (Foto: Kísie Ainoã/Midiamax)

A esteatose hepática, popularmente conhecida como gordura no fígado, é uma doença que acomete entre 20% e 30% da população mundial. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Hepatologia, isso corresponde a 40 a 60 milhões de pessoas portadoras da doença no Brasil.

Se engana quem pensa que apenas pessoas obesas podem desenvolver a doença. A esteatose pode ser causada tanto por maus hábitos alimentares quanto pelo consumo excessivo de álcool.

Médica endocrinologista, Lara Rubio explica que gordura no fígado se acumula em função desses dois fatores.

“A Esteatose é desencadeada pelo consumo de bebidas alcoólicas em excesso e o por hábitos e estilos de vida inadequados. Nesse segundo caso, está principalmente ligada ao sedentarismo, à alimentação desequilibrada, ao ganho de peso e à obesidade”.

O tema entrou em discussão após o cantor Zezé di Camargo anunciar que foi diagnosticado com a doença e iniciar uma reeducação alimentar. Com a ajuda da esposa e educadora física Graciele Lacerda, o músico investiu em uma rotina de treinos alidada a uma alimentação saudável e conseguiu diminuir o percentual de gordura no fígado.

O que é a Esteatose Hepática?

Conforme o Ministério da Saúde, a presença de gordura no fígado é normal, no entanto, quando este índice chega a 5% ou mais o quadro deve ser tratado o mais breve possível.

Médica hepatologista e professora do curso de Medicina da Uniderp, Isadora Elias Pereira explica que a gordura no figado pode desencadear diversas doenças e deve ser tratada com atenção.

“A gordura no fígado pode gerar inflamação crônica. Isso gera agressão e uma tentativa de reparar o dano. Nesse processo, o fígado altera sua estrutura e fica mais ‘endurecido’, o que chamamos de fibrose. Se o dano persiste, a fibrose avança e pode chegar à cirrose”, esclarece.

Caso não seja tratada de forma correta, a esteatose hepática pode provocar, a médio e longo prazo, uma inflamação capaz de evoluir para quadros mais graves de hepatite gordurosa, cirrose hepática e até câncer no fígado. Nesses casos, o fígado não só aumenta de tamanho, como também adquire um aspecto amarelado e o transplante pode ser a única indicação.

Isadora Elias Pereira esclarece que, assim como no caso do cantor Zezé di Camargo, não é apenas a obesidade que gera a gordura no fígado. O sobrepeso e até mesmo o aumento da gordura visceral e da circunferência abdominal são fatores de risco para o acúmulo de gordura no fígado.

“Falamos sempre da importância não só do peso na balança, mas da constituição corporal. É possível ter peso normal, mas uma composição corporal elevada de gordura. O uso de álcool e outras doenças, como diabetes e alterações nos níveis de colesterol, também podem causar. Em 5% dos casos, existe Esteatose em pessoas com índice de massa corporal normal, sem causa aparente”, explica.

Gordura no fígado

Alimentação equilibrada é receita para o bem-estar

A médica hepatologista destaca que não existe receita mágica para evitar a esteatose, assim como a maioria das doenças relacionadas com a má alimentação, investir na reeducação alimentar é o pontapé inicial para evitar problemas futuros.

“Evitar alimentação com excesso de carboidratos e consultar o médico regularmente para exames e avaliação geral é fundamental. É importante avaliar os níveis de açúcar e colesterol no sangue, corrigindo quando necessário”, orienta Isadora Elias.

Segundo Lara Rubio, ainda não existem medicamentos para reduzir ou evitar a gordura no fígado. Por isso, a prevenção deve seguir três pilares fundamentais.

  • Adoção de estilo de vida saudável: evitar álcool, cigarro e o consumo de alimentos muito gordurosos, doces e industrializados.
  • Alimentação equilibrada: aumentar ingesta de frutas, vegetais, legumes, cereais integrais e proteínas magras.
  • Prática regular de exercícios físicos.

Isadora Elias ressalta que como a esteatose consiste no depósito de gordura no fígado, é preciso tratar o que está gerando esse excesso e acúmulo de gordura.

“A base do tratamento é a redução do peso corporal e mudança nos hábitos de vida por meio da alimentação saudável aliada à atividade física. Isso ajuda a manter outras possíveis doenças, como diabetes, controladas”, explicou.

Durante o tratamento, investir em alimentos ricos em Ômega 3, como o salmão, pode colaborar com a redução da gordura no fígado.

Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax

Sintomas

Entre os principais sintomas de quem é portador da esteatose hepática estão:

  • Dor no abdômen
  • Barriga inchada
  • Aumento do tamanho do fígado
  • Dor de cabeça constante
  • Cansaço
  • Fraqueza
  • Perda do apetite
Gordura no fígado
Gordura no fígado (Foto: Divulgação/Freepik)

Doença atinge 35% dos brasileiros com mais de 35 anos

Um estudo elaborado por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) aponta que a doença afeta 35% dos brasileiros com mais de 35 anos. A pesquisa avaliou 8.166 participantes por quatro anos e analisou fatores associados ao desenvolvimento de diabetes, doenças cardiovasculares e outras condições crônicas.

No levantamento, os pesquisadores identificaram que indivíduos do sexo masculino e com obesidade têm mais pré-disposição a desenvolver a doença.

Na avaliação de fatores sociodemográficos, foi identificado que esse grupo possuía um nível mais baixo de escolaridade e de atividade física.

Os 35% acometidos pela doença também apresentavam níveis maiores de IMC (Índice de massa corporal), circunferência da cintura, triglicerídeos, colesterol elevado e resistência à insulina. Além disso, foi identificada maior incidência de diabetes entre o grupo com esteatose hepática, 7,83%. Enquanto o grupo sem a doença apresentou risco de 3,88%.

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