Mulheres ‘se viram nos 30’ enquanto aguardam liberação dos R$ 600 do Bolsa Família em Campo Grande

De manicure a faxina, elas lutam para garantir a sobrevivência e alimentar filhos

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Comunidade Cidade dos Anjos, na região do Bairro Lageado, em Campo Grande. (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

O casadinho de pé e mão, oferecido a R$ 35 no Bairro Lageado, é complemento para que a manicure Jucinéia de Souza, de 42 anos, “se vire nos 30” e garanta sustento da casa onde mora com o filho, de 7 anos. “Eu tenho minhas clientes e às vezes consigo fazer umas quatro ou cinco unhas por semana, isso me ajuda, mas tem época que ninguém quer fazer e fico na incerteza”, comenta. 

Separada há pouco tempo, Jucinéia era uma das dezenas de mulheres que lotaram reunião do Bolsa Família feita na manhã desta quarta-feira (22), na sede do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) do Bairro Dom Antônio Barbosa.

Manicure, Jucinéia tem 42 anos e tenta cadastro no Bolsa Família. (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

Entre o público majoritariamente feminino, as histórias se repetiam: mães, solteiras ou separadas, chefes de família, baixa escolaridade e renda inferior a um salário mínimo, dinheiro usado para sustentar os filhos que crescem quase sempre sem a ajuda dos pais. 

Para quem não tem nada e ainda luta diariamente contra a pobreza e falta de recursos essenciais, garantir os R$ 600 é a tranquilidade de todo o mês poder contar com uma renda certa, mesmo que com valor ainda menor que o tamanho da necessidade do dia a dia.

“Eu vim pela segunda vez tentar o benefício. Já tinha tentado antes, mas era casada e não consegui, agora, estou separada e tudo tem sido mais difícil. O dinheiro me ajudaria muito, com ele compraria mais comida, roupas para o meu filho e a gente se manteria por mais tempo”, comentou.

Aos 23 anos, Ketlen Verônica mantém o sonho de ser jornalista enquanto lida com as dificuldades de criar sozinha a filha Isis, de 2 anos. Separada, a jovem se mantém das faxinas que consegue fazer e da ajuda da família, que faz o que pode para apoiá-la. Assim como tantas outras mulheres, também aguardava aprovação do auxílio.

Na geladeira, morador de comunidade guarda poucos alimentos que consegue comprar. (Foto: Nathalia Alcântara)

“Meu irmão me dá uma cesta básica que ele ganha no serviço e minha mãe me indica para algumas faxinas que faço, mas só de aluguel eu pago R$ 350. O grosso a gente até consegue, um arroz, feijão, mas minha filha chegou na fase de pedir as coisas e isso é muito difícil. Com o benefício eu conseguira proporcionar mais para ela”, finaliza.

R$ 693,35 por Família

Em Mato Grosso do Sul, o valor médio pago pelo Bolsa Família é de R$ 693,35 por beneficiário. Reformulado, agora o programa paga adicional de R$ 150 a cada criança de 0 a 6 anos. Enquanto para uns o valor é menos do que o gasto com o supermercado, para outros é todo o dinheiro disponível no mês para garantir o mínimo de dignidade e sustento. 

De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a cesta básica considerada ideal custa R$ 743 em Mato Grosso do Sul. Atualmente, o Estado tem a quinta cesta mais cara do País. 

Reunião do Bolsa Família no Cras Lageado. (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

“Hoje em dia as coisas já são difíceis, mas antes eram ainda pior”, comenta Katriany da Silva Ferreira, de 27 anos. Atualmente, ela recebe o benefício que ajuda na assistência dos filhos de 1, 5, 6 e 9 anos.

Segundo ela, o marido é pintor autônomo e a incerteza dos trabalhos a atormentavam. “A gente não sabia se fecharia o mês e conseguiria comprar um gás ou pagar o aluguel, por exemplo. Hoje o Bolsa Família ajuda muito, é algo garantido que posso investir nos meus filhos”, finaliza.

Retrato da diferença que o auxílio faz na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade, Felipe Gomes, de 33 anos, lembra dos desafios que já enfrentou com a mulher e os filhos, de 4 e 7 anos.

“Eu morava no Bairro Tijuca e pagava R$ 750, tive que vir morar com minha família em uma invasão porque já não tinha mais jeito. Me vi na situação de ter que vender minhas coisas para pagar aluguel e comprar o básico para meus filhos comerem”, comenta.

Há um ano, Felipe mora com a família em um barraco de três peças erguido por ele na comunidade Cidade dos Anjos. Há quatro meses, o recepcionista perdeu o emprego que tinha na Prefeitura. “Minha mulher agora está na luta para conseguir o Bolsa Família, a assistente social ficou de vir aqui em casa, mas até agora nada”, explica. Para ele, receber o benefício levaria dignidade a todos. 

Novo Bolsa Família

A nova etapa do programa Bolsa Família, que mudou as regras e agora conta com acréscimo de valores, como R$ 150 por cada criança de até 6 anos, atenderá 206 mil famílias em Mato Grosso do Sul. De acordo com o Governo Federal, o valor médio do benefício pago aos sul-mato-grossenses contemplados é de R$ 693,35. O novo benefício começou a ser pago nesta semana e segue cronograma definido por meio do final do NIS (Número de Identificação Social). Nesta quarta-feira (22), o benefício é pago para NIS final três.

De acordo com o Governo Federal, o valor médio do benefício é o recorde pago em Mato Grosso do Sul. No total, o Estado receberá R$ 142,7 milhões em repasses para o programa social.

Só em Campo Grande, 60.284 mil famílias receberão valor médio de R$ 688,75 do Bolsa Família, serão R$ 41,5 milhões só na Capital. Outros quatro municípios somam mais de sete mil beneficiários: Dourados (13.378), Corumbá (9.271), Ponta Porã (8.684) e Três Lagoas (7.792).

Conteúdos relacionados