Esperança brota das cinzas: o dia de recomeço para quem perdeu tudo na Favela do Mandela

Apenas oito moradores aceitaram ir para abrigos após a tragédia

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Pessoas pardas e negras têm os menores rendimentos. (Nathalia Alcântara, Midiamax)

“Não teve como dormir, a gente ficava escutando os estralos das telhas queimando”, o relato é da moradora Loures Riquelme da Silva, de 54 anos, que se recursou ir para o abrigo e abandonar o pouco que tem na Favela do Mandela. Na manhã desta sexta-feira (17), moradores e servidores da prefeitura fazem mutirão para retirar o entulho queimado.

O cenário é de destruição após a tragédia de incêndios nos barracos. Apesar da sensação de perda que assola, surge o sentimento coletivo de esperança, já que há um movimento para reerguer cada casa.

Greiciele Naiara Argila, líder da comunidade, explica que apenas oito moradores aceitaram ir para o abrigo municipal, pois muitos conseguiram salvar algo das chamas, o medo de perder o pouco não permitiu que deixassem o local.

“Estou positiva, tenho que estar para dar uma força. Aconteceu, mas nós somos firmes e vamos conseguir tudo de volta”, disse.

Moradores estão em mutirão de limpeza (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Sem barraco, a noite foi sob as tendas

Segundo a Defesa Civil, foram montadas 11 tendas do Exército Brasileiro e uma da GCM (Guarda Civil Metropolitana), a expectativa é que mais 15 barracas de apoio sejam instaladas. Mulheres e crianças, do grupo prioritário, dormiram nesses pontos e outros ao relento. Durante a noite e madrugada, viaturas da GCM estiveram de plantão, em vigia ao espaço.

Também permanece no local um caminhão-pipa na iminência de novos focos de incêndio, caixa térmica com água. Ainda, de acordo com os servidores, cerca de 440 marmitas foram distribuídas. A Defesa Civil está fazendo avaliação do terreno para aprovar a liberação do retorno das famílias. Os moradores e funcionários estão remoendo o lixo, analisando os focos de calor. Uma patrola deve limpar a área ainda hoje.

Franciele Gabriela, uma das líderes comunitárias, explica que as tendas foram liberadas para os moradores prioritários, principalmente crianças. “Agora, eles vão limpar. Estamos aguardando uma patrola, que vai passar, vão ver se não tem vestígios de fogo para deixar a gente construir”.

O lixo reaproveitável, como metais, está sendo reunido para posteriormente serem revendido em um ferro-velho e, assim, auxiliar na arrecadação para reconstrução.

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Tendas de apoio (Nathalia Alcântara, Midiamax)

‘Perdi tudo’

Marcia Rodrigues, 42 anos, morava com o marido e o filho, de 20 anos, há oito anos na comunidade. Não conseguiu salvar quase nada, perdendo para as chamas a geladeira, sofá, fogão e máquina de lavar.

“Tudo o que trabalhei uma vida inteira para ter foi consumido. O fogo começou na metade, no meio da favela, não imaginei que ia pegar na minha casa. O vento estava muito forte e se alastrou muito rápido. À noite você não dorme, quem consegue dormir com uma tragédia dessas?”, descreve.

Prefeitura faz força-tarefa

A prefeita Adriane Lopes esteve no Mandela cedo, por volta das 7h, relembrando que as equipes municipais estão empenhadas desde o incêndio para suporte. Ela informou que das 184 famílias, cerca de 67 tiveram o barraco atingido e estão sendo amparados pela prefeitura. Além das tendas, banheiros químicos foram instalados.

Sobre a liberação para novas construções, Adriane diz que só será permitida após uma avaliação do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil, assim, assegurando os moradores da falta de risco.

“Eu acho que [foi] a maior [tragédia] da história de Campo Grande. Nunca antes teve relatos nessa proporção. As equipes permanecem aqui dando suporte”.

Ainda não foi definida a causa do incêndio. Diversos moradores foram atendidos pelos bombeiros após inalarem fumaça. Conforme a liderança da favela, as vítimas precisaram de oxigênio e medicamento. Sobre os desaparecidos, houve apenas um desencontro entre os familiares durante o desespero e tumulto.

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Moradora não conseguiu salvar quase nada (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Saiba como ajudar quem perdeu tudo em incêndio

Entidades e ONGs mobilizam rede de ajuda para famílias que perderam tudo no incêndio da Favela do Mandela. Confira abaixo como ajudar:

Cufa (Central Única das Favelas)

As doações podem ser entregues nos seguintes endereços: Rua Livino Godoi, 710, bairro São Conrado ou Rua Salamanca, 133, bairro Bonança. Mais informações: 67 9181-8142 ou nas redes sociais

Projeto Sorriso Feliz

Doações podem ser entregues na rua Anita Garibaldi, 296 ou no PIX 52.816.282/0001-01. Mais informações 67 9623-3163 ou nas redes sociais

CRAS

De acordo com a prefeitura, doações podem ser feitas diretamente nos Cras (Centro de Referência de Assistência Social). O mais próximo da comunidade é o Cras Estrela do Sul, localizado na Av. Pref. Heráclito Diniz de Figueiredo, s/n – Conj. Res. Estrela do Sul.

Fundo de Apoio à Comunidade

Os itens podem ser entregues no FAC a partir das 7h30, na avenida Fabio Zahran, 6.000, Vila Carvalho. Mais informações: 67 2020-1361

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Favela do Mandela vista de cima após destruição (Foto: AuroraFilmes)

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